Jean Wyllys ataca Maduro e cria polêmica no PSOL

Após atacar o presidente venezuelano em uma publicação no Facebook, deputado foi criticado por colega de partido.

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Após atacar o presidente venezuelano em uma publicação no Facebook, deputado foi criticado por colega de partido Por Redação O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) publicou um texto em seu perfil no Facebook, na última quarta-feira (26), sobre a realidade social e econômica da Venezuela. Segundo ele, o país estaria em uma situação preocupante e instável, em parte graças ao “autoritarismo do presidente Nicolás Maduro”. Wyllys fez duras críticas ao mandatário e o acusou de ter "desprezo pelas regras democráticas". As declarações não agradaram membros de seu partido, como o professor universitário Gilberto Maringoni, que concorreu pelo PSOL ao cargo de governador do estado de São Paulo em 2014. Também no Facebook, ele reproduziu o texto do colega com ressalvas em relação ao que foi dito. “Que é isso, companheiro? Lamentável, desinformada, direitista e descontextualizada a posição de Jean Wyllys sobre a Venezuela”, escreveu. Leia abaixo o depoimento do deputado na íntegra. VENEZUELA: NENHUM AUTORITARISMO É BOM A situação da Venezuela é muito preocupante. Em meio a uma grave crise social e econômica, o enfrentamento entre o governo e a oposição, que tem ampla maioria no parlamento depois de ter vencido as últimas eleições legislativas, é cada vez mais acirrado e pode levar o país a uma situação de grande instabilidade. O autoritarismo do presidente Nicolás Maduro e seu sistemático desprezo pelas regras democráticas ajuda, por sua vez, a fortalecer os setores mais radicais da direita, que querem uma saída violenta para o impasse político, debilitando as lideranças moderadas e democráticas da coligação oposicionista ou forçando-as a assumir posições mais intransigentes. Nas ruas de Caracas, principalmente nas periferias, impera a desesperança. Nos bairros mais pobres, tradicionais redutos chavistas, as pessoas lutam desesperadamente para conseguir comida. Falta tudo: farinha, arroz, feijão e outros alimentos básicos, e tem filas para comprar pão. O salário mínimo é de pouco mais de 20 mil bolívares e um pacote de arroz custa 2500. A inflação é de quase 500% anual e não para de subir. Em muitos hospitais faltam remédios, aspirinas e materiais de primeiros auxílios; os pacientes com HIV e outras doenças crônicas enfrentam dificuldades para receber as drogas para os tratamentos, muitas delas importadas. As forças de segurança funcionam demasiadamente ligadas ao governo e, não raramente, em funções ilegais ou reprimindo violentamente os opositores. Há milícias armadas que respondem ao partido governista, e também presos políticos. Enquanto isso, uma nova burguesia que surgiu e se enriqueceu graças às relações com o partido de Maduro vive no luxo e na exuberância. Diferentemente do que aconteceu no Brasil, a oposição venezuelana, que reúne um amplo espectro de forças políticas que incluem setores da esquerda, sociais-democratas, neoliberais e até setores violentos de extrema direita, unidos pela rejeição ao chavismo, abandonou a lógica golpista das lideranças hegemônicas do passado e enfrentou o governo em eleições livres. A aceitação dos resultados eleitorais é um dos elementos ainda democráticos do regime, mas foi limitada por uma série de decisões nada republicanas, como a nomeação de novos ministros do Supremo antes da posse do novo parlamento e a interferência de setores governistas do Judiciário para bloquear decisões do Poder Legislativo. A oposição recorreu a um mecanismo constitucional (incluído na constituição durante o governo ex-presidente Hugo Chávez) para afastar Maduro do poder: a realização de um referendo revogatório. Milhares de pessoas assinaram uma petição formal, cumprindo os requisitos legais, e as pesquisas dizem que a maioria do povo votaria pela saída do presidente. Vejam a diferença com o que aconteceu no Brasil: a oposição quer que o povo decida! Encurralado, o governo passou a criar impedimentos burocráticos e finalmente suspendeu o processo revogatório, impedindo uma saída democrática para a crise, e a Justiça chavista proibiu aos principais líderes da oposição de sair do país. O parlamento foi invadido por chavistas que tentaram impedir seu funcionamento e a crise política ficou ainda pior, com a oposição denunciando um autogolpe. Hoje a Venezuela terá manifestações contra e a favor do governo. O clima provavelmente será tenso. Devemos torcer para que não haja violência, de nenhuma das partes. A comunidade internacional deveria reagir para buscar uma saída pacífica à crise, através do diálogo, em vez de agir de acordo com a conveniência política de cada governo da região (divididos entre amigos e inimigos do falecido ex-presidente Chávez). Organismos como a UNASUL e o MERCOSUL têm condições de atuar com mais empenho sobre a situação. Eu sei que muita gente pensa que, por militar num partido de esquerda, eu deveria defender o governo Maduro. Evidentemente, essas pessoas não leram nada do que eu escrevi sobre a Venezuela nos últimos anos. Minha posição sempre foi muito crítica. Há tempos que eu denuncio o autoritarismo do regime, o militarismo, os discursos homofóbicos e antissemitas do governo e o desprezo pelas liberdades individuais. Isso não significa que eu defenda os discursos igualmente ruins de setores de ultradireita da diversa oposição venezuelana, que são parte constitutiva e indissociável da crise que acontece agora. Também esses grupos, que agora criticam o governo, ao seu tempo, em grande medida, tiveram os mesmos expedientes. Portanto, como muitas pessoas que militam na esquerda democrática, não acho que devamos escolher entre duas versões ou faces do autoritarismo - de direita ou de esquerda - e espero que a Venezuela encontre, por meios pacíficos, uma saída progressista para o caos em que está atualmente mergulhada. É preciso haver um amadurecimento republicano. Foto de capa: Agência Câmara