Jornalista que cobria protesto é agredido por PMs e permanece detido

Pedro Ribeiro Nogueira, do Portal Aprendiz, é acusado de ter causado incêndio, dano ao patrimônio e formação de quadrilha. Violência policial foi flagrada por morador de prédio vizinho

Escrito en DIREITOS el

Pedro Ribeiro Nogueira, do Portal Aprendiz, é acusado de ter causado incêndio, dano ao patrimônio e formação de quadrilha. Violência policial foi flagrada por morador de prédio vizinho

Por Felipe Rousselet

Durante a terceira grande manifestação do Movimento Passe Livre contra o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo, realizada nesta terça-feira (11), ao menos 20 pessoas foram presas. Entre os detidos, estavam jornalistas que cobriam a manifestação. O único que ainda não foi liberado é Pedro Ribeiro Nogueira, que trabalha para o Portal Aprendiz.

O jornalista foi agredido e detido enquanto tentava proteger duas amigas e a sua namorada da ação violenta dos policiais militares. Uma destas amigas, a estudante de história Agatha Soares, afirma que eles estavam indo embora da manifestação no momento em que Pedro foi agredido e detido por um grupo de policiais militares. Parte das agressões sofridas pelo jornalista foi filmada por um morador de um prédio da Av.Paulista (Veja o vídeo no fim da matéria).

“A gente estava indo embora. Eu fiquei muito pouco na manifestação porque estou doente. Na verdade, o problema foi esse. Encontrei o Pedro do nada lá, ele estava trabalhando. Tentamos falar isso para os policiais, mas não tinha como", conta. "A gente estava indo embora e começaram estouros e mais estouros. O pessoal começou a correr e nós corremos junto. Não sabíamos o que fazer, estava todo mundo correndo”, lembra a estudante.

Segundo Soares, ela tentou se proteger embaixo de uma escada e o jornalista tentou defendê-la das agressões dos policiais. “Tentei me esconder debaixo de uma escada onde não tinha muita gente. Eu achei que não fosse ter problema. Aí a Rocam [Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicleta] já entrou, eram muitos e tinha muita gritaria. Batiam em todo mundo. Comecei a gritar que não conseguia respirar. Estou com infiltração pulmonar. Nisso, uma amiga minha voltou e o Pedro já tinha voltado. Quanto eles vieram para bater com tudo, o Pedro falou ‘nas meninas, por favor, não, né'. Ai é o que está no vídeo, começaram a bater no Pedro e prenderam ele”

A estudante afirma que Nogueira deixou claro para os policiais que era um jornalista e que estava cobrindo a manifestação. “Ele falou que tinha material jornalístico com ele, que era só os policiais olharem. Fui tentar chegar perto e falei também. Ai os policiais falavam ‘cala a boca’, ‘vai embora’, ‘você também vai junto’”, declarou.

O jornalista se encontra detido e está sendo acusado por provocar incêndio, dano ao patrimônio público e formação de quadrilha. Ainda não foi determinada fiança, uma vez que no caso de crime de formação de quadrilha somente o juiz pode determinar as condições para a libertação do acusado. “Só se ele fez uma quadrilha comigo espontaneamente. Comigo e com o meu pulmão zoado. Ele não estava com ninguém, só voltou porque pedi ajuda”, critica a estudante de história.

“Um policial falou que ele fez estas três coisas, sendo que o Pedro é um cara muito pacífico. Nunca foi de quebrar nada. É muito estranha essa acusação. Aí a opinião desse policial vale e não importa que existam outras testemunhas que falem o contrário. As amigas estavam lá ontem, as chefes dele também. E não importa, o delegado nem quer ouvir”, declarou Fernando Ribeiro Nogueira, irmão do jornalista. De acordo com Nogueira, o seu irmão está bastante machucado e triste. “Ele está muito triste. Diz que não fez nada, que apanhou muito e estava protegendo as amigas e a namorada. Não sabe o que está fazendo lá”.

Além de Nogueira, doze pessoas que estavam no protesto continuam presas: dez por formação de quadrilha e dano ao patrimônio, sem determinação de fiança; um por dano ao patrimônio, com fiança estipulada em R$ 20 mil; e dois por dano ao patrimônio, desacato e lesão corporal, com fiança em R$ 3 mil.

Veja o vídeo do momento em que o jornalista, sem esboçar qualquer ato de violência, é agredido e preso pelos PMs. (Foto de capa: Mídia NINJA)