Jornalistas mineiros são “convocados” a participar da campanha de Aécio Neves

Segundo sindicatos mineiros, ninguém é “obrigado a participar de ato de campanha de nenhum candidato a cargo eletivo”. O presidente da empresa responsável pela convocação chegou a subir no palanque de Pimenta da Veiga e Aécio Neves.

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Segundo sindicatos mineiros, ninguém é “obrigado a participar de ato de campanha de nenhum candidato a cargo eletivo”. O presidente da empresa responsável pela convocação chegou a subir no palanque de Pimenta da Veiga e Aécio Neves Por Vinicius Gomes Jornalistas e profissionais ligados à administração de jornais e revistas foram surpreendidos nessa terça-feira (7) quando viram em seus computadores uma “convocação”, via intranet, para aderirem à campanha do presidenciável do PSBD. O responsável pelo chamado a “uma caminhada a favor do candidato Aécio Neves”, no sábado (11), “com todos vestidos de azul ou amarelo” é o Diários Associados, grupo de mídia fundada por Assis Chateubriand. A marca é proprietária, entre diversos veículos, dos jornais Estado de Minas e Correio Braziliense, O atual presidente, Álvaro Teixeira da Costa, chegou a subir no palanque de Aécio e do também tucano derrotado no primeiro turno pelo PT em Minas Gerais, Pimenta da Veiga. A convocação está sendo realizada por apoiadores da campanha tucana por meio de redes sociais e Whatsapp. [caption id="attachment_52925" align="alignleft" width="600"]O empresário Álvaro Teixeira da Costa (no detalhe), presidente de Diários Associados, empresa que controla os jornais Estado de Minas e Correio Braziliense, subiu no palanque de Aécio Neves e Pimenta da Veiga durante a campanha, em setembro (Brasil 247) O empresário Álvaro Teixeira da Costa (no detalhe), presidente dos Diários Associados, empresa que controla os jornais Estado de Minas e Correio Braziliense, subiu no palanque de Aécio Neves e Pimenta da Veiga durante a campanha, em setembro (Brasil 247)[/caption] Em resposta conjunta, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais e o Sindicato dos Empregados da Administração das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas de Belo Horizonte divulgaram nota repudiando a ação da Associados e esclarecendo aos trabalhadores que ninguém pode ser obrigado a participar de ato de campanha de nenhum candidato a cargo eletivo: “Qualquer tipo de pressão deve ser denunciada para que sejam tomadas de medidas jurídicas cabíveis para resguardar o direito ao voto dos eleitores. As duas entidades também esclarecem que os Diários Associados não falam em nome dos trabalhadores. O voto dos mineiros é livre”. Segundo Kerison Lopes, que preside o sindicato dos jornalistas mineiros, desde seu início a cobertura da campanha presidencial foi tendenciosa, mas nada parecido ainda havia ocorrido. “Assim que viram a ‘convocação’, diversos jornalistas e profissionais que trabalham nas áreas administrativas de jornais e revistas nos procuraram [os sindicatos] manifestando indignação, por isso divulgamos a nota de repúdio, ninguém pode ser coagido [a aderir à campanha de Aécio]. Procurada por Fórum para comentar a respeito da convocação, a Diários Associados afirmou que “no momento não havia ninguém para dar uma resposta”. Os jornalistas mineiros já estão acostumados a toda sorte de interferência e cerceamento em suas funções. Em 2006, o então presidente do sindicato mineiro dos jornalistas, Aloísio Lopes, disse: “A imprensa mineira é totalmente favorável ao governador Aécio Neves [...] O governador está blindado na mídia. Ninguém fala mal. Tenho recebido de repórteres a informação de que há orientação para não se questionar o governo.” Dois anos antes, o sindicato já havia requerido ao Ministério Público Federal a apuração de suposta interferência do governo de Minas em veículos de comunicação, atribuindo o afastamento de alguns jornalistas a pedido de Andrea Neves, irmã de Aécio e coordenadora de comunicação de seu governo. “Quem mais sofreu ao longo dos 13 anos com o governo de Aécio Neves [e seu sucessor Antônio Anastasia] foram os jornalistas”, afirma Lopes. “Nós fomos os primeiros a serem calados, sendo muitas vezes impedidos de exercer a liberdade de expressão que é tão cara à nossa categoria”, complementou. Em uma recente entrevista, Teixeira da Costa foi definido como alguém que “vive e respira jornal e jornalismo desde os primeiros anos de vida”. Perguntado, em forma de pingue-pongue, sobre um político contemporâneo de destaque, sua resposta foi: Aécio Neves.