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Quando o presidente do Senado, Renan Calheiros, devolveu a Medida Provisória do ajuste fiscal, como represália, e foi saudado pelo senador Aécio Neves como “presidente de todos os brasileiros”, comprovou que a única bandeira da oposição é ver o circo pegar fogo
Por Luis Nassif, no Jornal GGN
Há espaço para uma recuperação do segundo governo Dilma 2, devido às seguintes razões.
A primeira é que presidente Dilma Rousseff está começando a ficar barata.
O princípio básico do mercado é que ninguém é bom ou ruim: é caro ou barato. Se o mercado percebe que algum ativo está precificado acima do seu valor, dá início a um ajuste de preços, derrubando as cotações. Esse ajuste acaba potencializado pelo fenômeno conhecido como “overshooting”. Cai tanto até que começa a ficar barato. Se não virar pó, pode se recuperar, quando o mercado se dá conta que também não é assim tão ruim
“Virar pó” significa o impeachment.
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O desastre político de Dilma consistiu em outro fenômeno eleitoral: a segunda chance. Em geral, depois de grandes erros, alguns políticos acabam tendo direito à segunda chance. Só que, nesse caso, encontrará eleitores muito mais severos, pouco propensos a perdoar a repetição de erros.
Com a teimosia e os erros de avaliação na disputa da presidência da Câmara, na divulgação do pacote de ajuste fiscal e na demora em resolver a questão Petrobras, Dilma queimou a segunda chance e tornou-se a Geni do país. Todos os problemas estão sendo debitados na sua conta. E isso a torna barata.
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A segunda razão são sinais de mudança de estilo da presidente – premida pelas circunstâncias.
Nos últimos dias ela desceu do salto e aproximou-se do PMDB, reuniu-se com lideranças, prometeu participação nas decisões, tentando recompor sua base política.
Esse sopro de realismo é um sinal, ainda que pequeno, de alento.
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A terceira razão é a descompressão das demandas imediatas.
Nas próximas semanas, os seguintes problemas deverão estar equacionados:
- Petrobras. O novo presidente Aldemir Bendini assumiu com um plano claro de ajuste: implementar formas de governança modernas, desmobilizar ativos que não estejam na operação central da empresa e equacionar as novas necessidades de investimento. É questão de tempo para a empresa recuperar-se e deixar de ser notícia.
- Recomposição da base de apoio.. As denúncias da Lava Jato baratearam novamente, especialmente por enfraquecer os dois principais caciques do PMDB.
- Recomposição do grupo estratégico, com a inclusão do vice-presidente Michel Temer. Com sua senhoridade, Temer poderá dar rumo às discussões e domar os conflitos internos, controlando melhor os ímpetos do Ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante.
- Ajuste fiscal. O saco de maldades está prestes a se completar. Por falta de alternativas acabará recebendo apoio do PT e do próprio PMDB. Depois, haverá espaço para começar a espalhar bondades. Dilma tem dois bons oficiais para o segundo tempo do jogo: o Ministro do Planejamento Nelson Barbosa e o Secretário de Assuntos Estratégicos Roberto Mangabeira Unger.