Mauritânia: um Estado-escravagista na África com apoio internacional

Tradição milenar de se manter escravos por gerações tornou o país o maior centro da prática ilegal no mundo, com cerca de 151 mil pessoas sendo escravas

A escravidão é comum e passada por gerações na desértica Mauritânia Foto: WikiCommons
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Tradição milenar de se manter escravos por gerações tornou o país o maior centro da prática ilegal no mundo, com cerca de 151 mil pessoas sendo escravas Por New Internationalist | Tradução: Vinicius Gomes [caption id="attachment_41514" align="alignleft" width="300"] A escravidão é comum e passada por gerações na desértica Mauritânia
(Foto WikiCommons)[/caption] Nos vastos e esparsamente povoados desertos da Mauritânia, na África, a escravidão é abundante – apesar de ter se tornado ilegal em 1981 e um crime contra a humanidade em 2012. A Mauritânia, na costa oeste do deserto do Saara, tem a maior taxa de escravidão per capita, de acordo com o Índice Global de Escravidão de 2013. Compilado por uma fundação de caridade antiescravidão – a Walk Free Foundation –, o índice estimou que 151 mil pessoas, quase 4% da população do país, podem estar vivendo em regime de escravidão. Estimativas de outros grupos chegou a elevar esse número em quase 20%. Ter um escravo na Mauritânia primeiramente é visto como possuir um bem pessoal, com essa condição sendo inclusive passada de geração para geração, movimento que se originou nas antigas caçadas por escravos. Ela também está ligada ao racismo. A sociedade mauritana é feita de três principais grupos étnicos: os haratins, afro-mauritanos e os mouros brancos (árabes). A escravidão hereditária é perpetuada porque os haratins – africanos negros roubados de suas vilas séculos atrás durante as guerras afro-árabes – são tradicionalmente vistos como propriedades dos mouros brancos. Abidine Ould-Merzough, um ativista dos direitos humanos e membro de uma comunidade haratin vivendo hoje na Alemanha, diz que os mouros brancos – uma minoria na Mauritânia – possuem um desproporcional poder político: “Eles querem manter a comunidade haratin subdesenvolvida, se eles permitirem que sejam educados, eles se recusarão a serem escravos e se tornarão competidores por poder”, diz ele. A doutrinação é uma peça chave para a escravidão na Mauritânia, com ensinamentos religiosos sendo usados para justificar as práticas escravagistas. “Existe uma interpretação do Islã que diz que a sociedade é dividida em duas – mestres e escravos”, diz Ould-Merzough. “Os escravos aceitam isso e creem que seu status é uma vontade divina.” [caption id="attachment_41515" align="alignleft" width="300"] Estrada na fronteira com o vizinho Senegal
Foto: WikiCommons[/caption] Alguns críticos dizem que o papel geopolítico da Mauritânia (o país é visto como um importante aliado ocidental contra a Al-Qaeda no norte da África) fez com que a escravidão no país seja ignorada. Quanto ao governo mauritano, ele enfatiza que o fato de a escravidão ser proibida e diz que qualquer caso que for descoberto será rigorosamente punido. Apesar das histórias chocantes e das duras evidências estatísticas sobre a predominância de escravidão, existem desenvolvimentos positivos à frente. “O movimento anti-escravagista na Mauritânia está se tornando cada vez maior e isso realmente me deixa otimista”, diz Saidou Wana, ativista mauritano dos direitos humanos, baseado nos EUA. “Existe um progresso acontecendo: as pessoas estão acordando e começando a entender a situação. E isso está acontecendo através da fronteira, com os árabes se envolvendo também.