Moro pauta a mídia liberal, que distorce fala de Lula sobre "autoritarismo"

De forma cínica, Estadão, Folha e Globo seguem estratégia de conluio com a Lava Jato para tentar alavancar Moro como "terceira via" e incitar discursos de ódio contra Lula

Lula e Sergio Moro (Arquivo)
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O conluio entre a Lava Jato e a mídia liberal, que por anos buscou destruir a imagem do ex-presidente Lula, é repetido agora pelas famílias que controlam os grandes veículos de comunicação para alavancar a candidatura do escolhido para a "terceira via": o ex-juiz da força-tarefa e ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Sergio Moro.

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Após o ex-juiz acusar Lula de autoritarismo por uma interpretação de texto distorcida da entrevista do ex-presidente ao El País no domingo (21), o tema virou pauta dos jornalões, que até então haviam ignorado as declarações feitas pelo petista, que foi capa do periódico espanhol após o sucesso de seu giro pela Europa.

De forma cínica, o ex-ministro de Bolsonaro acusou Lula de “flertar com o autoritarismo” ao distorcer uma fala do ex-presidente que relativizava o termo ditadura usado pela mídia de forma proposital em algumas situações e ignorava em outras.

"Sabe, eu não posso ficar torcendo… por que a Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega, não? Por que [o ex-presidente da Espanha] Felipe González, aqui, pôde ficar 14 anos? Qual é a lógica?", disse Lula, após dizer que não se pode ficar "interferindo nas decisões de um povo", citando a eleição de Daniel Ortega, na Nicarágua. "Eu não sei o que as pessoas fizeram para ser presas. […] Se o Daniel Ortega prendeu a oposição para não disputar a eleição como fizeram no Brasil contra mim, ele está totalmente errado", disse.

Cinismo nas páginas dos jornais

Repetindo a forma cínica de Moro, o jornal O Estado de S.Paulo colocou a questão em editorial com o título "Lula na melhor forma".

"Em entrevista ao ‘El País’, ex-presidente debocha dos fatos, da memória da população e do regime democrático. Até comparou Daniel Ortega a Angela Merkel", diz o jornal, distorcendo fatos para gerar discurso de ódio contra o ex-presidente.

O Estadão ainda distorceu a posição de Lula sobre os protestos em Cuba. O ex-presidente levantou a questão do bloqueio dos EUA e afirmou que atos acontecem em todos os lugares e os políticos devem ouvir os manifestantes.

Para o Estadão, no entanto, "é realmente impressionante a devoção de Lula a um regime violento e opressor", expondo sua visão canhestra sobre a realidade do bloqueio dos EUA há 60 anos à ilha.

Folha e Globo abordam entrevista com atraso

Após ignorar a entrevista de Lula ao El País no domingo, Folha e O Globo também destacaram o trecho usado por Moro em suas edições desta terça-feira (23).

Para o jornal da família Marinho, Lula citou "período de Merkel na Alemanha e minimiza ditadura na Nicarágua".

A Folha foi na mesma linha, dizendo que o petista comparou a reeleição de Ortega "em um pleito de fachada" à permanência no poder do latino-americano com a da primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, que completou 16 anos à frente do país europeu.

"A relativização de Lula ao regime de Ortega vai na linha da posição do seu partido, que publicou nota celebrando a reeleição do ditador nicaraguense", diz a Folha sobre a nota que já foi contestada pela executiva nacional do partido.