Morre aos 77 anos Odetta, a ?voz dos direitos civis? nos EUA

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A cantora americana Odetta Jones, conhecida como "a voz dos direitos civis" dos negros, morreu aos 77 anos de idade, nesta terça-feira (3), em Nova York. Odetta sofreu um ataque cardíaco do qual não recuperou no Hospital Lennox Hill, depois de ter sido internada três semana antes por insuficiência renal.

Embora o seu estado de saúde recente a tenha obrigado a deslocar-se em cadeira de rodas, a cantora ainda deu cerca de 60 concertos nos últimos dois anos. Mas ela não pôde completar seu sonho de poder cantar na posse do presidente eleito Barack Obama, no dia 20 de janeiro, em Washington, segundo afirmou seu representante, Doug Yeager.

Nascida em Birmingham, no Alabama, em 31 de dezembro de 1930, Odetta deu sua poderosa voz às canções de escravos e folk. Ao Times, numa entrevista em 2007, ela declarou que a música da Grande Depressão — especialmente as canções das prisões e as canções dos trabalhadores rurais do sul do país — ajudou a formar sua vida musical.

Ganhou fama justamente ao cantar temas populares de donas de casa, trabalhadores e prisioneiros, interpretando músicas de folk, blues, jazz e "spirituals" (canções religiosas). Gravou vários álbuns e cantou no Carnegie Hall, em Nova York, além de outras salas de destaque.

Figura emblemática da luta contra a discriminação racial e pelo ressurgimento da música folk americana nas décadas de 1950 e 1960, Odetta influenciou artistas como Joan Baez, Bob Dylan, Janis Joplin e o trio Peter, Paul & Mary, entre outros. Um dos temas mais impressionantes do seu repertório era Water Boy, que marcou de forma determinante o percurso musical de Dylan, segundo assumiu o cantor em documentário recente.

Um momento culminante de sua vida foi sua participação na passeata de Washington de agosto de 1963, quando 250 mil pessoas reivindicaram os direitos civis dos negros. Foi nesse ato que Martin Luther King pronunciou seu famoso discurso "Eu tenho um sonho". Na ocasião, Odetta cantou Oh, Freedom, tema que remontava aos tempos da escravidão.

O Times disse que certa vez Rosa Parks — a mulher que lançou o boicote aos ônibus segregados em Montgomery, Alabama — foi perguntada quais canções significavam mais para ela. “Todas as que Odetta canta”, respondeu Parks. Nos primórdios do movimento pelos direitos civis, Odetta disse que suas canções “canalizavam a fúria e a frustração que eu sentia, crescendo” num país segregado.

Em 1963, o álbum Odetta sings folk songs foi um dos mais vendidos dos Estados Unidos. Após o final dos anos 1960, sua carreira perdeu impulso — e suas apresentações e gravações diminuíram, mas ela manteve seu poder dramático e vocal até bem mais tarde na vida.

“A voz de Odetta ainda é uma força da natureza”, escreveu o crítico James Reed, do Boston Globe, falando de uma apresentação da cantora em dezembro de 2006. Seu último trabalho foi Gonna Let it Shine — um álbum com spirituals e gospel pelo qual foi indicado ao Grammy em 2007.