Mulheres protestam contra a decisão que absolveu PMs do massacre do Carandiru

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"Além da gente ter uma Bancada da Bala no Congresso e nas Assembleias Legislativas, agora nós nos deparamos com a bancada da Caneta Assassina", disse Débora Silva Maria, do Movimento Mães de Maio Por Victor Labaki Movimentos sociais organizaram um ato nesta quinta-feira (8) para protestar contra a decisão do desembargador Ivo Sartori que anulou a condenação dos 74 policiais militares envolvidos no Massacre do Carandiru, que matou 111 pessoas, em outubro de 1992. “Os Massacres saíram do Carandiru e passaram a acontecer no cotidiano das periferias e das favelas. E pior, além da gente ter uma Bancada da Bala no Congresso e nas Assembleias Legislativas, agora nós se deparamos com a bancada da Caneta Assassina, blindando a Bancada da Bala. Nós estamos aqui para dizer para o Judiciário ‘Carandiru, Nunca Mais!”, disse Debora Silva Maria, líder do Movimento Mães de Maio, que reúne mulheres que perderam seus filhos assassinados pela polícia em maio de 2006. Leia também: Cinco Filmes para compreender o Carandiru que estão disponíveis no Youtube Débora criticou a Justiça brasileira e exigiu que “a caixa preta do Judiciário seja aberta”. “A caixa preta do Judiciário tem que ser violada, eles são nossos servidores. A gente paga imposto não para eles me criminalizarem, mas para trabalhar, que já passou da hora. Nós precisamos de resposta para as chacinas que acontecem, como a Chacina do Carandiru”, completou. Além do Movimento Mães de Maio, estavam presentes mães de São Paulo, Osasco, Santos, Guarujá, Rio de Janeiro e outros movimentos de familiares de vítimas da violência de Estado brasileira. Railda Alves, da Amparar (Associação de Amigos e Familiares de Presos/as), criticou as condições dos presídios atuais e a seletividade da Justiça; “Os maus tratos continuam, as famílias continuam sendo maltratadas. (...) O Judiciário tem que parar de prender, porque se prende muito aqui no Brasil. E quem realmente rouba, está rua e deveria estar preso”, afirmou. Durante uma coletiva de imprensa realizada antes da manifestação, todas essas mães deram depoimentos contando como seus filhos foram mortos. “Enterrei meu filho no dia 15 de maio de 2006. Ele foi assassinado no dia 14, dia das mães. E eu digo que o Estado não matou só meu filho. Ele me matou também. Já tem dez anos e nada foi feito”, disse Nilza, também do Movimento Mães de Maio. Ana Paula Oliveira, integrante do movimento Mães de Manguinhos, do Rio de Janeiro, também relatou o que aconteceu com seu filho Johnatha de Oliveira Lima, de 19 anos, assassinado por policias da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). “Meu filho foi assassinado e eu nem tive tempo do luto. No dia seguinte que meu filho foi morto, quando eu estava me preparando para o enterro,  eu vi na televisão: ‘Jovem é assassinado em Manguinhos, a polícia alega que ele estava trocando tiros’. Aquilo ali foi como se eles tivessem mais uma vez matando meu filho. E eu falei: eu não vou deixar que isso fique assim. Eu vou ser a voz do Johnatha, enquanto eu viver eu vou ser a voz dele”, contou em um depoimento emocionado. Também participaram mães de estudantes secundaristas de São Paulo que denunciaram que seus filhos têm frequentemente sofrido intimidações, perseguições e até tortura policial. A manifestação se concentrou na da Praça Tiradentes, em São Paulo, e seguiu pelas ruas do centro até chegar ao Tribunal de Justiça, na Praça da Sé. Lá as pessoas que participaram do ato escreveram “TJ SP Não esquecerá – 02/10/1992”, data da chacina, na calçada. Foto de Capa: Rovena Rosa/Agência Brasil