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O agrupamento que derrubou Dilma Rousseff é um corpo formado de vários pedaços distintos e sem um cérebro para comandá-los. Cada ministro nomeado pretende reeditar os gritos de guerra da Câmara, ganhar visibilidade à custa de qualquer patacoada e oferecer a conquista a seus padrinhos econômicos
Por Luis Nassif, no Jornal GGN
O presidencialismo condominial
O agrupamento que derrubou Dilma Rousseff é um corpo formado de vários pedaços distintos e sem um cérebro para comandá-los. Cada ministro nomeado pretende reeditar os gritos de guerra da Câmara, ganhar visibilidade à custa de qualquer patacoada e oferecer a conquista a seus padrinhos econômicos. A sequência de declarações desastrosas é inédita na história política do país. Substitui-se o presidencialismo de coalizão por um pterodátilo político que poderia ser batizado de presidencialismo condominial. Trata-se de uma experiência inédita. Eles não devem seus cargos a um presidente eleito pelo voto, mas é o presidente interino que deve seu cargo a eles. Com isso, o presidente da República não dispõe de ferramentas de comando ou de articulação de suas ações. É isso que leva o Ministro da Saúde a anunciar a redução do SUS, o de Desenvolvimento Social a proclamar a redução da Bolsa Família, leva a um desenho disfuncional dos ministérios, misturando Educação com Cultura, Ciência e Tecnologia com Comunicação, Desenvolvimento Agrária com Desenvolvimento Social e INSS. Grosso modo pode-se dividir a moderna história política do país em três períodos:- a ditadura militar, com o comando claramente centralizado;
- o período democrático, com o partido no poder, PSDB ou PT, apoiando-se em um "centrão", mas limitando-se a entregar alguns anéis, entre os quais não se incluía o comando absoluto dos ministérios; e, agora,
- o período da transição pós-democrática, com esse presidencialismo condominial, na qual cada ministro recebe o ministério de porteira fechada e age como dono do seu território.
- Os desdobramentos da disputa entre o centrão de Eduardo Cunha e a aliança PSDB-DEM pela liderança do governo na Câmara.
- Os movimentos da Lava Jato e da PGR contra o grupo Cunha. Será possível em breve identificar a preocupação em casar operações com o tempo político do PSDB, como sucedeu na fase final da Lava Jato.
Os fatores legitimadores
Mercado e opinião pública já captaram as características desse presidencialismo condominial – e, decididamente, não aprovaram. As manifestações se multiplicam, aumenta a frente anti-Temer, espalhando-se até pelos chamados “coxinhas” – o público mais sensível à influência da velha mídia. Esse público é influenciado também pelo universo das celebridades – artistas de TV, cantores, personalidades do teatro, ícones de direitos humanos. E, nesse campo, as críticas contra o governo interino são crescentes. Nem mesmo a Rede Globo poderá se manter insensível, já que esses ventos chacoalham o ponto central de sua influência: seu cast de artistas de novelas. Dois movimentos são significativos dessa rejeição ao governo Temer:- A dificuldade em encontrar uma grande mulher para a Secretaria da Cultura;
- A retirada de campo de alguns agentes oportunistas que atuaram no processo de queda de Dilma, como Cristovam Buarque e assemelhados.
Os paradoxos do PT e Dilma
Dizia-se lá atrás que o maior trunfo de Dilma era a fraqueza estratégica da oposição. Pode-se dizer o mesmo para o governo interino de Temer. No Senado, não há certeza sobre os votos necessários para a confirmação do impeachment. A deslegitimação do governo Temer junto à opinião pública é um elemento de pressão sobre um grupo de senadores, pequeno mas capaz de impedir os 2/3 de votos que consolidariam a saída de Dilma. A perda de rumo do senador Cristovam Buarque e do senador Romário são elementos significativos desse estado de ânimo. A favor de Temer pesam os seguintes fatores:- Dificilmente as forças auxiliares do golpe endossarão um segundo afastamento de presidente.
- Dilma terá dificuldades de construir uma narrativa com credibilidade sobre o que poderia ser seu governo, em caso de rejeição do impeachment. Não adianta apenas denunciar o golpe se não apresentar à opinião pública uma Dilma viável. E Dilma não parece em condições de construir essa narrativa.
- O PT já desistiu de Dilma.