A covid-19, a doença do coronavírus, é mais letal entre negros do entre brancos. É o que mostra um levantamento do jornal Folha de S.Paulo, utilizando dados do Ministério da Saúde, publicado nesta sexta-feira (10).
Pretos e pardos são 23,1% dos hospitalizados com Síndrome Respiratória Aguda Grave, mas chegam a 32,8% dos mortos por covid-19. Com os brancos, é ao contrário e há menos mortos do que hospitalizados: são 73,9% do total de pacientes, mas 64,5% dos mortos.
Embora minoritários entre os registros de afetados pela doença, pretos e pardos representam quase 1 em cada 4 dos brasileiros hospitalizados com Síndrome Respiratória Aguda Grave (23,1%) mas chegam a 1 em cada 3 entre os mortos por Covid-19 (32,8%).
Com os brancos, ocorre o contrário: são 73,9% entre aqueles hospitalizados com Covid-19, mas 64,5% entre os mortos.
"A pandemia atingiu inicialmente uma população com condições muito favoráveis e foi dura mesmo neste grupo de pessoas brancas, ricas e com amplo acesso à saúde. É assustador pensar nos seus efeitos sobre a população negra, que tem péssimas condições de vida e comorbidades associadas", afirmou a assistente social Lúcia Xavier, diretora da ONG de mulheres negras Criola, ouvida pela reportagem
De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, negros são maioria entre pacientes com diabetes, tuberculose, hipertensão e doenças renais crônicas, que tornam a ação do coronavírus mais letal, e estes também representam 67% dos que dependem excluivamente do SUS.
Tratam-se de doenças que surgem ligadas a desigualdades sociais e raciais, como condições precárias de moradia, falta de saneamento básico, emprego e subsistência deficitária e má alimentação.
"Essas condições socioeconômicas vão gerando maior vulnerabilidade em saúde que vai pesar muito durante a pandemia", avaliou Lúcia Xavier.
A diferença de letalidade entre brancos e negros pode ser maior, uma vez que a falta de testes gera subnotificação, parte dos óbitos desta primeira leva de dados não apresentava registro da raça e a transmissão em comunidades mais carentes ainda é recente.
Outro problema é que o pico tardio de transmissão em áreas de maioria negra e mais vulnerável fará com que eles encontrem um sistema de saúde já bastante castigado na hora de buscar tratamento.