O novo velho jogo eleitoral

A aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos ainda precisa ser analisada à luz das probabilidades eleitorais, que certamente serão avaliadas em uma daquelas pesquisas tão apressadas quanto imprecisas que os jornais adoram publicar

Marina Silva terá de conviver com a família Bornhausen, representante do que há de mais conservador na política nacional (José Cruz/ABr)
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A aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos ainda precisa ser analisada à luz das probabilidades eleitorais, que certamente serão avaliadas em uma daquelas pesquisas tão apressadas quanto imprecisas que os jornais adoram publicar Por Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa Leia também: Adesão de Marina a Campos é pior para Aécio do que para Dilma Marina no PSB é pragmatismo na veia e a morte da Rede O governo, a imprensa e os demais partidos políticos parecem ter sido surpreendidos pela aliança da ex-ministra e ex-senadora Marina Silva com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Mesmo dirigentes do PSB, partido de Campos, foram deixados de lado nas negociações que podem mudar o cenário das eleições de 2014, especialmente a disputa pela Presidência da República. Os jornais de domingo (6/10), o noticiário que se seguiu nas versões eletrônicas da imprensa e os diários de segunda-feira (7) são férteis em interpretações dos especialistas que não souberam prever essa alternativa. A reunião que selou o compromisso de Marina Silva e Eduardo Campos aconteceu na noite de sexta-feira. Com as redações esvaziadas no fim de semana, os jornais somente puderam publicar a história no domingo, e todos deram o assunto em manchete. No entanto, as especulações desencontradas demonstram que a imprensa não tem meios adequados para avaliar o impacto do acontecimento. Para a maioria dos analistas, trata-se de uma “jogada de mestre”. Mas é apenas mais do mesmo: a velha disputa por siglas de aluguel, que serão pagas com verbas do Tesouro. Articulistas afinados com os partidos de oposição apostam que o acordo, no qual a suposta candidata a vice-presidente tem 26% das intenções de voto e o provável cabeça de chapa aparece com apenas 8% nas pesquisas mais recentes, vai dividir o eleitorado e provocar um segundo turno. Entrevistados que se alinham com o governo federal entendem o contrário: que a futura chapa Campos-Silva vai desarticular a oposição. No meio do debate, registra-se que 10% dos deputados federais trocaram de partido no fim do prazo para as mudanças valerem nas eleições do ano que vem. [caption id="attachment_32437" align="alignright" width="432"] Marina Silva terá de conviver com a família Bornhausen, representante do que há de mais conservador na política nacional (José Cruz/ABr)[/caption] Ao desprezar a insistente oferta do PPS, que abriga antigos militantes do histórico Partido Comunista Brasileiro, Marina Silva produziu desafetos, mas ninguém na oposição se arrisca a condenar a única postulante com alguma chance, nesta altura do campeonato, de atrapalhar a reeleição da atual presidente no primeiro turno. Evidentemente, tudo que se publica um ano antes da disputa eleitoral é apenas especulação, e serve para pouco mais do que entreter o leitor. Mas não deixa de ter alguma utilidade anotar o que dizem uns e outros no calor da surpresa. As apostas estão feitas O quadro deve mudar bastante até a primeira semana de julho do ano que vem, quando a campanha começa oficialmente. A aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos ainda precisa ser analisada à luz das probabilidades eleitorais, que certamente serão avaliadas em uma daquelas pesquisas tão apressadas quanto imprecisas que os jornais adoram publicar. Enquanto isso, vale a pena fazer algumas observações. Por exemplo, o fato de que alguns representantes da oposição estão se movendo para a aliança governista. O caso mais relevante é o da senadora Kátia Abreu, que em 2011 havia deixado o Democratas pelo PSD e acaba de se transferir para o PMDB. Assim, a musa dos ruralistas passa da oposição para a base do governo em dois movimentos, o que deve criar certa confusão em muitos eleitores. Por outro lado, convém anotar que Marina Silva terá de conviver com a família Bornhausen, representante do que há de mais conservador na política nacional, e com deputado Ronaldo Caiado, um dos líderes do movimento pela desarticulação da legislação ambiental. O PDT, com 9 defecções, e o PMDB, com 7, foram os partidos que mais perderam deputados no fechamento da janela de transferências. A maioria dos que mudaram foi para o Solidariedade, criado pelo antigo dirigente do PDT, o sindicalista Paulo Pereira, que ganhou 22 deputados, e o PROS, que se lança com 16 parlamentares devidamente reciclados. Sabe-se que o PROS nasce com o carimbo da situação, e o Solidariedade negocia as melhores ofertas. De acordo com os jornais de segunda-feira (7/10), o governo mantém a maioria no Congresso e a melhor aposta da imprensa não está mais no depauperado Partido Democratas e no PSDB, desgastado por disputas internas. O jogo está apenas começando. A sequência das pesquisas e as negociações por verbas e cargos deverão ditar a futura composição das forças no campo político-partidário. É preciso ter em mente que a soma dos partidos de ocasião pode representar uma diferença significativa no tempo de exposição que cada chapa deverá ter na propaganda regulamentar no rádio e na televisão. Ou seja: nada mudou. Não perde quem apostar que a imprensa vai se converter rapidamente ao ambientalismo socialista. Ou ao socialismo ambientalista.