Parque Indígena do Xingu receberá maior evento esportivo de sua história

O Parque Indígena do Xingu receberá a primeira edição do Jogos do Xingu neste ano, com a participação de 14 aldeias para a disputa de várias modalidades esportivas. A realização dos jogos é fruto do grande envolvimento dos xinguanos com o esporte. Esse evento foi concebido pela família de um esportista indígena que aprendeu a amar o futebol escutando os lances de Pelé pelo rádio

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O Parque Indígena do Xingu receberá a primeira edição do Jogos do Xingu neste ano, com a participação de 14 aldeias para a disputa de várias modalidades esportivas. A realização dos jogos é fruto do grande envolvimento dos xinguanos com o esporte. Esse evento foi concebido pela família de um esportista indígena que aprendeu a amar o futebol escutando os lances de Pelé pelo rádio Por Rafael Govari, do ISA, na AXA

O Parque Indígena do Xingu (PIX) receberá neste ano o 1º Jogos do Xingu, na aldeia Kuikuro, com a participação de 14 aldeias. Já está na conta da Prefeitura de Canarana, parceira do projeto, 600 mil reais liberados pelo Ministério dos Esportes. A Prefeitura entrará com 16 mil reais de contrapartida. A data ainda não foi definida. Provavelmente, os jogos acontecerão no mês de junho.

A modalidade mais disputada será o futebol de campo, com 14 equipes masculinas e 14 femininas. O campo onde serão disputadas as partidas na verdade é um terrão, sem grama, mas nada que afaste os jogadores. Além do futebol de campo, acontecerão torneios de canoagem, cabo de guerra, corrida de 100 metros, natação, arco e flecha, entre outras. Serão os maiores jogos da história do PIX.

Conforme o secretário de Esportes de Canarana-Mato Grosso, Ênio Haas, neste momento a Prefeitura está realizando as licitações para contratação dos fornecedores e prestadores de serviço dos jogos, que abrangem alimentação, arbitragem, material esportivo, transporte, instalações, medalhas e troféus. “É um evento que vai chamar a atenção nacional e internacional. Estamos dando total apoio à realização dos jogos”, disse o secretário.

Para Maricá Kuikuro, da família idealizadora do evento, o objetivo é conquistar o apoio permanente do Ministério dos Esportes e realizar os jogos a partir de agora todos os anos, Para além de oportunizar a prática esportiva e a disputa, os jogos são um meio de integração dos povos do Xingu. “Vamos ver como será a primeira edição para programar a segunda, que poderá ser realizada em outra aldeia ou na cidade de Canarana”, disse.

Como os Jogos do Xingu foram concebidos

Tabata Kuikuro era adolescente e ouvia pelo rádio Pelé e companhia em ação nas copas da década de 1960 pela seleção brasileira. “A gente escutava os jogos da seleção pelo rádio e nem sabia o que era futebol“, contou Tabata, da etnia Kuikuro, localizada no Parque Indígena do Xingu, que nunca tinha visto uma partida de futebol.

Ele foi conhecer de fato o futebol ao vivo e a cores com a chegada do etnólogo Olímpio Serra, que foi diretor do PIX no início da década de 1970. Olímpio era torcedor do Vasco da Gama do Rio de Janeiro, clube que também entrou no coração de Tabata. Aquele adolescente que nem sabia o que era futebol, mas que vibrava com as emocionantes narrações dos jogos da seleção brasileira pelo rádio, se tornou um apaixonado e praticante do esporte que é a preferência nacional.

Hoje com 60 anos, Tabata disse que não joga mais, apenas torce na beira de campo. Quando jovem, ele garante que era bom de bola e vestia a camisa 10 do time, na função de atacante. Pai de 10 filhos, todos herdaram a paixão pelo esporte. São oito homens e duas mulheres. “Se juntar eu e os meus 10 filhos dá um time de futebol”, brinca. Maricá, filho de Tabata, fez parte das categorias de base do time cruzmaltino da colina, mas não chegou aos profissionais. Outro filho, Bebeto, treinou nas categorias de base de vários clubes profissionais. Os netos, como Urissapá, 12 anos, herdou o DNA e treina todos os dias sonhando em ser jogador de futebol.

A ‘grande família’ do patriarca Tabata, a partir do futebol, começou a conceber há três anos a realização de um grande evento esportivo no Parque Indígena do Xingu, onde a bola já virou uma febre que rivaliza até com a tradicional luta uka uka. Mas, para isso era preciso recursos. Então, eles produziram um projeto para angariarverbas junto ao Ministério dos Esportes. E conseguiram.

Maricá diz que a realização do 1º Jogos do Xingu nasceu a partir da paixão que a família e, principalmente seu pai, tem pelo futebol: “Futebol é tudo para nós. É o esporte do Brasil e nós temos isso no sangue”.

Indígenas conquistam títulos

A família de Tabata Kuikuro não é exceção indígena no meio futebolístico da região. Jogadores Xavante e do Xinguparticipam maciçamente de competições de futebol de campo amador em municípios da região. No ano passado, das 17 equipes que participaram do amador de Canarana, quase metade, oito equipes, eram de aldeias, sendo que o município tem apenas 10% de sua população de povos nativos. E, pela primeira vez na história, uma equipe indígena se sagrou campeã. Foi a aldeia Xavante Etenhiritipá (confira reportagem clicando aqui – matéria que foi publicada no site da AXA). Imagem: Três gerações juntas – Tabata, Urissapá e Maricá. Família da etnia dos Kuikuro é apaixonada pelo futebol e idealizou a realização do 1º Jogos do Xingu. Foto: Rafael Govari – ISA