Polícia detém sem-terra que participaram de bloqueio de estrada

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Trabalhadores interditam estradas da Baixada Santista durante mais de duas horas; na volta do protesto, PM leva trabalhadores sem-terra para a delegacia

Cerca de 100 militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) que participaram esta manhã da paralisação da Rodovia Piaçagüera-Guarujá, no sentido Cubatão/Guarujá, estão detidos no 1º DP de Cubatão. A detenção ocorreu após a manifestação ter sido interrompida por volta das 9h20 pela tropa de choque da Polícia Militar. Os dois ônibus que transportavam os sem-terra foram conduzidos à delegacia. No momento, os militantes estão sendo fotografados e a polícia toma depoimentos. Na manhã desta quarta-feira (23), 400 sindicalistas, sem-teto, sem-terra e militantes de esquerda conseguiram manter bloqueadas duas rodovias da Baixada Santista, no litoral paulista, por mais de 120 minutos. Quando a tropa de choque chegou, por volta das 9h10, o protesto já era considerado vitorioso e as estradas foram reabertas sem confronto. Ao contrário do que a imprensa corporativa divulga, o principal alvo do protesto não foi a Emenda 3, mas sim as reformas da Previdência e trabalhista. Os manifestantes temem que o governo envie ao Congresso um projeto que eleve a idade mínima para aposentaria e criticam as restrições aos direitos laborais já apresentadas, como o anteprojeto de lei que regulamenta as greves no funcionalismo público. Ricardo Saraiva, o Big, coordenador da Intersindical e presidente do Sindicato dos Bancários de Santos e Região, comemorou o resultado dos protestos. "Conseguimos uma coisa inédita. Paralisamos a [via] Anchieta, a [via] Piaçagüera-Guarujá, a cidade de Cubatão e os pólos petroquímicos da Cosipa e da Petrobrás. Superamos nossa meta que era interromper o tráfego por duas horas e, assim, mandamos um recado para o governo. A organização dos trabalhadores do campo e da cidade deu a resposta que essas reformas devem ter", avalia. Big antecipa que a intenção é "acumular forças para fazer, no segundo semestre, uma greve geral". Madrugando Por volta das 6h10 da manhã, os ônibus com manifestantes começaram a sair da sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Santos. Em 20 minutos, os jovens do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) já ocupavam uma das pistas da rodovia Piaçagüera-Guarujá. Pulavam, gritando em coro: "Criar, criar, poder popular", enquanto os sindicalistas estendiam uma faixa da Intersindical, em frente aos automóveis. Seguiram-se músicas e cirandas; e novos coros, "o povo na rua, governo a culpa é sua", ou, então, "puta-que-o-pariu, ou pára essa reforma, ou paramos o Brasil". Do carro de som, ouvia-se frases como, "com essa reforma da Previdência, o governo quer que o trabalhador se aposente ‘no bico do corvo’". Do alto de uma passarela, a menos de 500 metros do bloqueio, o pescador José de Oliveira Souza observava o movimento. Morador de uma vila vizinha à estrada, ele se solidarizou com a defesa dos direitos dos trabalhadores manifestada durante o protesto. "A gente ganhava uma merreca e os homens lá de cima ganham cada vez mais. E, agora, querem acabar com o nosso FGTS". No Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), consta uma proposta para utilizar recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviços para financiar obras de infra-estrutura. Engajamento Se os manifestantes mostravam alegria de um lado, permeava neles um sentimento de contestação. Um dos principais puxadores de coros, Vagner Santos, do MTST, explica que toda a luta é válida se for em defesa dos trabalhadores. Militante há cinco anos, quando participou da ocupação Carlos Lamarca, em Osasco (SP), ele fala sobre a importância da união dos movimentos neste dia nacional de lutas: "como é de praxe, fazemos a luta de classe, de todas as formas necessárias". Novo companheiro de Vagner no MTST, Geovam Francisco da Silva Duarte ingressou no movimento social em 16 de março, ao participar da ocupação do Acampamento João Cândido, em Itapecerica da Serra (SP). "Barman de casa noturna", ele resolveu participar da ocupação para se livrar do aluguel. Com a rotina do João Cândido, porém, Geovam perdeu o emprego. "Mas vale a pena. Para mim, é muito importante conseguir meu teto. Tentarei até o fim. É uma batalha sofrida", relata. Ele também aproveita para criticar o governo que "quer tomar os direitos que a gente tem". Sheila Márcia, operadora de telemarketing, entrou para a militância junto com Geovam. "Morava de favor na casa da minha sogra", afirma. O marido ainda não se mudou para o João Cândido, mas "faz algumas visitas". De sua parte, ela elogia o trabalho de conscientização feito no acampamento: "a maioria das pessoas não sabe que tem direitos". Em seu depoimento, sobram, igualmente, críticas ao governo. "Infelizmente, elegemos um metalúrgico que faz o contrário daquilo que dizia que ia fazer", protesta. Experiente, Aníbal Ortega, anistiado político e membro do Partido Comunista Brasileiro, explica que é importante ir conscientizando um número cada vez maior de trabalhadores. "Eles não entendem que essa reforma fará com que eles trabalhem mais. No entanto, a única saída definitiva é o socialismo", aponta. Brasil de Fato