Povos da Amazônia querem participar da discussão mundial sobre a floresta

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Organizado 20 anos depois da primeira edição, 2º Encontro Nacional dos Povos da Floresta quer voz para sociedade civil no debate do aquecimento global e das medidas anunciadas pelo governo federal. Movimento tenta continuar luta iniciada por Chico Mendes.

Um grupo de movimentos sociais lança nesta terça-feira, 19, em Brasília o 2º Encontro Nacional dos Povos da Floresta. O evento será realizado em setembro, também na capital federal. O novo encontro marca também a reorganização da Aliança de Povos da Floresta, formada por Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), e o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA). Essa reorganização demorou 20 anos. O primeiro encontro, em 1987, foi coordenado por Chico Mendes. O líder seringueiro seria assassinado no ano seguinte, tornando-se mártir da luta dos povos da floresta. A demora decorreu da dispersão entre os movimentos da região, segundo os organizadores. "Percebemos que estávamos fazendo, cada um, uma agenda em separado", conta Jecinaldo Sateré Maué, um dos coordenadores da Coiab. Gecinaldo também afirma que o encontro deste ano é o início de um caminho que terá seu ápice em 2009, com o Fórum Social Mundial em Belém. FÓRUM- A Aliança dos Povos da Floresta demorou 20 anos para se reorganizar. Por quê? GECINALDO- A Aliança foi retomada sobre três pilares: a mudança climática, o modelo de desenvolvimento da Amazônia e o combate à pobreza na região. Esses temas reuniram o GTA, CNS e Coiab. Percebemos que estávamos fazendo, cada um, uma agenda em separado. Percebemos que a Amazônia estava no centro do debate, tanto do mundo, pelo aquecimento global, quanto do Brasil, pelas obras na região. Então queremos participar também dessa discussão. E levar esse debate às comunidades, definir estratégia de como podemos fazer uma discussão com governo, sociedade brasileira e organismos internacionais para participarmos do processo de preservação. FÓRUM- No Equador, o presidente Rafael Correa lançou uma campanha internacional para que o país seja recompensado por não explorar as reservas de petróleo de Ishpingo, Tambococha e Tiputini, que ficam na Amazônia equatoriana. Ele quer que a ONU pague, em dinheiro, o correspondente ao valor que o país ganharia explorando o petróleo. É esse tipo de apoio que a Aliança dos Povos quer? GECINALDO- Não queremos apenas compensações, queremos políticas públicas. Já temos direito a várias compensações pelo Estado e não recebemos nenhuma. E, se discutirmos compensações a esse respeito, dá a impressão de que aceitamos esse modelo de desenvolvimento para a Amazônia que o governo está implantando. FÓRUM- Nesse sentido, como as entidades vêem as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) previstas para a região? GECINALDO- O governo está acelerando o ganho econômico e não o desenvolvimento social. Isso tem impactos fulminantes como a usina de Jirau e Santo Antonio, no Rio Madeira [em Rondônia], e de Belo Monte, no Rio Xingu [no Pará]. E essas obras não têm sido discutidas com os povos indígenas. Nós, como índios, entendemos que o desenvolvimento prioritário deve ser tirar das florestas nossos meios de sobrevivência. Depois vem o desenvolvimento econômico das empresas. Porque também não temos aquela visão de que é preciso preservar a floresta só por preservar. FÓRUM- O próximo Fórum Social Mundial será em 2009 na cidade de Belém. O evento está nos planos dos povos da floresta? GECINALDO- Vai ser um Fórum estratégico para dar visibilidade ao cotidiano dos povos da Amazônia. O Fórum vai ser o ápice desse movimento de abrir o debate da sociedade à opinião dos indígenas, ribeirinhos e seringueiros.