?Precisamos de um processo de defesa das culturas nacionais? , defende curador do festival de cinema Latino Americano,

Em entrevista à Fórum, João Batista Andrade analisa a nova estética do cinema Latino Americano e a importância que o Festival vem ganhado ao longo do tempo

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Em entrevista à Fórum, João Batista Andrade analisa a nova estética do cinema Latino Americano e a importância que o Festival vem ganhado ao longo do tempo Por Brunna Rosa A cidade de São Paulo, de 24 a 29 de junho, será novamente sede do 2° Festival de Cinema Latino Americano. Serão exibidos gratuitamente 120 filmes de vários países latino-americanos. Mesas-redondas, com a participação de cineastas e produtores de Brasil, México, Argentina, Cuba, Equador e Paraguai, entre outras nações, discutirão temas relevantes do cinema produzido no subcontinente latino-americano. Em entrevista à Fórum, João Batista de Andrade, curador do evento, analisa a nova estética do cinema latino-americano e a importância do festival. Andrade foi secretário de cultura do estado de São Paulo e produziu, entre outros, Vlado -30 anos depois, documentário sobre a morte do jornalista Vladimir Werzog, durante a ditadura, no porão do DOPS. Apesar de seu caráter não-competitivo, os filmes contemporâneos incluídos na mostra serão avaliados pelo público e pela crítica especializada. Os dois mais bem votados receberão o troféu Fundação Memorial da América Latina. O vencedor do prêmio de público ganhará ainda R$ 30 mil. FÓRUM- Como surgiu a idéia do Festival de cinema latino-americano ? João Batista Andrade - O Festival se origina de uma entrevista minha para a revista do Memorial da América Latina, em 2005, onde propunha uma análise mais moderna do cinema Latino-Americano. Antes da 1º edição do Festival de Cinema Latino Americano, tudo que se falava a respeito do assunto era marcado pelos anos de lutas, nas décadas de 1960 e 1970 em que vários de nossos países estavam sob ditadura militar e o cinema era muito aguerrido. Hoje, nosso cinema é muito diferente. É o cinema da era democrática, era da globalização. Nesta entrevista, eu dizia que movimento da globalização age de uma forma perversa, como se fizesse uma coleta latino-americana. O cineasta, ator e atriz bons surgem e logo estão fazendo filmes internacionais e as cinematografias de seus países encontram-se imersas nos mesmos problemas. Dificuldades com o mercado de exibição, dominado pelo cinema norte-americano. A proposta que eu fazia, nesta entrevista, era justamente o festival que ocorreu em 2006, que foi um grande sucesso. Desde a criação do Festival de Havana em 1979, que eu participei e ganhei o prêmio especial do júri com filme Greve, justamente sobre as greves no ABC, não havia uma nova leitura da produção latino-americano. FÓRUM- O centro do 2º Festival de cinema Latino Americano será o México. Por que? Andrade-Um artigo de um jornal mexicano me chamou a atenção. A manchete dizia: “Más allá del Oscar” e discutia justamente como os cineastas despontam e conseguem que seus filmes ganhem projeção internacional. Mas os próprios cineastas, com todo o prestígio sabem que a base deles é fraca. As cinematografias nacionais continuam com as mesmas deficiências. Esta discussão acontecia quando o México concorria com dois filmes ao Oscar de 2007, “O Labirinto do Fauno”, de Guilhermo del Toro, e “Babel”, de Alejandro González Iñárritu. Ao mesmo tempo, no Senado Mexicano havia uma discussão de como proceder quanto a ocupação de 90% do mercado de exibição pelas produções norte-americana. Esta é a realidade latino-americana. No Brasil, há semanas, três filmes norte-americano ocupam 70% de nossas salas. Outras duas circunstâncias colaboraram para que eu focalizasse o México: o centenário da Frida Khalo e do Gabriel Figueroa. Mas, o festival é muito mais amplo a programação abrangerá todos países que tenham produção cinematográfica. FÓRUM- Você comentou sobre uma nova estética na produção latino-americana. Qual seria? Andrade- A produção latino-americana diversificou-se muito, mas não perdeu o processo de renovação do cinema. O bom cinema latino-americano ainda esta ligado a nossa tradição de cinema autoral, visceral, muito influenciado pelo neo-realismo. Mesmo nos filmes globalizados você sente a presença destas tradição nestes processos. O cinema latino-americano passa por uma fase em que os realizadores estão se incorporando à produção mundial do cinema independente. Esse é o grande fenômeno. Um cineastas que é reconhecido começa a produzir para fora. Isso é ótimo, o problema não são eles, só que o sucesso desta lógica revela o fracasso das políticas nacionais. FÓRUM- Sobre o monopólio de exibição que a produção norte-americana impõe aos países, a saída seria implementação de políticas públicas para diversificar o mercado de difusão cinematográfica? Andrade-O fato de sermos universalistas, de achar que o cinema norte-americano é um bom cinema, não o autoriza a ocupar 90% do mercado brasileiro ou latino-americano. E o cinema indiano, que produz mais que o cinema americano, os russos e egípcios que são grandes produtores, os italiano, japonês e franceses? Tudo isso mais o o cinema brasileiro tem que caber em 10% de nosso mercado de exibição. É muito abusivo uma indústria cultural ocupar tudo e sufocar outras indústrias culturais. Acredito que os países precisem aprofundar está discussão e defender com políticas públicas esta questão. Precisamos de um processo de defesa das culturas nacionais. É necessário que os talentos dos países consiga se expressar e se comunicar com o seu povo. A cultura não pode ser medida pelo econômico.