Privatização da Caixa é a mais rejeitada em nova pesquisa de opinião

Levantamento aponta que, entre dez estatais analisadas na pesquisa, 44% dos entrevistados são contrários à venda do maior banco público do Brasil.

Foto: Fenae
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Mais uma pesquisa de opinião mostra que os brasileiros são contrários à privatização da Caixa Econômica Federal. Levantamento feito entre os dias 8 e 10 deste mês pelo Instituto Ideia e o Exame Invest Pro, braço de análise de investimentos da Revista Exame, mostra que 44% dos entrevistados rejeitam a venda do banco público. Além de líder em políticas de habitação popular, por exemplo, a Caixa esteve na linha de frente do pagamento do auxílio emergencial e de outros benefícios sociais para mais de 160 milhões de pessoas e se prepara para o iminente retorno do auxílio em um cenário de recrudescimento da pandemia e lentidão nas medidas sanitárias de proteção aos bancários e à população.

De acordo com a pesquisa, apenas 21% posicionaram-se a favor da privatização da Caixa Econômica, enquanto outros 21% não souberam responder. O levantamento ouviu 1,2 mil pessoas e foi divulgado nesta terça-feira (16). “Outra vez, a sociedade mostra reconhecer a importância e o papel social do banco, posicionando-se claramente em favor da preservação deste patrimônio”, avalia o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), Sergio Takemoto. Ainda mais em um momento econômico terrível como este e depois de a estatal provar que é essencial ao país”, reforça.

“Esse temor é especialmente preponderante em relação a bancos públicos como a Caixa Econômica Federal, que pratica juros de financiamento da compra de imóveis menores do que aqueles do mercado em geral”, explica o fundador do Instituto Ideia, Maurício Moura. Segundo ele, “o tema continua polêmico” e um dos motivos é a preocupação que certas estatais poderão perder o objetivo social.

A pesquisa também abrangeu o Banco do Brasil, defendido por 38% dos entrevistados, a Petrobras (também com 38% de rejeição à privatização), a Eletrobras (35% de rejeição) e o Serpro — Serviço Federal de Processamento de Dados (31% de rejeição à venda). Além destas estatais, foram avaliados os Correios, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a Loteria Instantânea Exclusiva (Lotex) e a Telebras. 

"De modo geral, há uma certa preocupação de que, uma vez privatizadas, as grandes estatais poderão focar só no lucro e deixar de atender adequadamente a população que mora longe dos grandes centros", acrescenta Maurício Moura.

Ameaças — No início deste mês, a direção da Caixa registrou, em fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) de um dos braços mais rentáveis do banco público: a Caixa Seguridade. Em 2020, apesar das repercussões econômicas da pandemia, esta subsidiária obteve lucro líquido de R$ 1,8 bilhão, o que representa um crescimento de 5,2% em comparação a 2019.

Além da Caixa Seguridade, o governo já sinalizou a venda de mais segmentos estratégicas da Caixa, como Cartões, Gestão de Recursos, o ainda nem formalizado Banco Digital e até as Loterias Federais, cuja parcela relevante dos valores arrecadados é destinada ao Financiamento Estudantil (Fies) e para ações em Saúde, Segurança Pública, Seguridade e Cultura, além de outras áreas sociais.

“As pessoas percebem que a Caixa funciona muito mais do que um banco [puramente comercial]. A missão da empresa é proporcionar a realização dos sonhos das pessoas. É na Caixa que as pessoas realizam o sonho de comprar a casa própria, de cursar uma faculdade e ter a esperança de um futuro melhor”, ressalta o presidente da Fenae. “A real intenção dessa política de venda de subsidiárias e encolhimento da Caixa é a descapitalização completa da empresa, visando a privatização do banco público indutor de desenvolvimento econômico e social”, alerta Takemoto.  

Nesta semana, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse ser contra o chamado “Estado mínimo”. “O Brasil não pode se dar ao luxo de Estado mínimo com tantos déficits sociais e educacionais que temos”, afirmou.

Caixa 100% pública — Diferentes pesquisas de opinião apontam que os brasileiros são contrários à privatização da Caixa Econômica Federal. Na última semana de fevereiro, levantamento feito pelo Instituto MDA, contratado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), mostrou que chega a 59,8% o índice de cidadãos que rejeitam a venda do banco para a iniciativa privada. A Caixa também lidera a relação de empresas públicas que a sociedade menos quer ver privatizada, conforme afirmaram 30,1% dos entrevistados.

Também em fevereiro, outra pesquisa de opinião reforçou que a privatização da Caixa Econômica, do Banco do Brasil e da Petrobras encontra resistência entre os brasileiros. De acordo com o levantamento realizado pelo movimento liberal Livres — que encomendou o estudo ao Instituto Ideia Big Data — a venda de estatais deve ser avaliada caso a caso. Para 45% dos entrevistados, a privatização deveria depender do setor e considerar também se a empresa em análise fecha as contas no azul ou no vermelho.

“Mais do que em nenhum outro momento, a conjuntura e a relevância da Caixa Econômica para o país comprovam que o caminho não é vender este patrimônio. Ao contrário. É preciso fortalecer a estatal e melhorar ainda mais o suporte à sociedade”, defende o presidente da Fenae, Sergio Takemoto.

Em setembro de 2020, pesquisa realizada pela revista Exame apontou que 49% dos entrevistados disseram ser contra a privatização da Caixa, enquanto 22% se declararam a favor, 19% ficaram neutros e 9% não souberam opinar.

Em outro levantamento, desta vez realizado pela revista Fórum entre os dias 14 e 17 de julho do ano passado, 60,6% dos participantes se posicionaram contrários à privatização do banco público. A empresa que teve a maior rejeição social à privatização foi a Caixa Econômica Federal.

Em agosto de 2019, quando o governo Bolsonaro divulgou a lista de estatais que poderiam ser privatizadas nos próximos anos, o Datafolha apontou que 67% dos entrevistados eram contra a venda dessas empresas.