Queiroga, o obscurantista - Por Chico D'Angelo

Ao admitir e desejar que o Brasil seja o destino de turismo dos não vacinados, em um contexto marcado pelo avanço da variante Ômicron da Covid-19, Queiroga troca qualquer resquício de dignidade pela tentativa de manter o cargo

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Por Chico D'Angelo*

O homem não é um animal solitário, e enquanto perdura a vida em sociedade, a realização de si mesmo não pode ser o supremo princípio ético. A frase é de Bertrand Russel e me ocorre quando o ministro da saúde, Marcelo Queiroga, se coloca contra o passaporte da vacina e cita uma máxima genocida de Jair Bolsonaro: às vezes é melhor perder a vida do que a liberdade.

Além de ser uma rematada bobagem – como se fosse possível usufruir da liberdade se já não há a vida – a frase do ministro envergonha a medicina e mostra como um médico pode rasgar o Juramento de Hipócrates para bajular um presidente negacionista, extremista e em descompasso com o resto do mundo.

Ao admitir e desejar que o Brasil seja o destino de turismo dos não vacinados, em um contexto marcado pelo avanço da variante Ômicron da Covid-19, Queiroga troca qualquer resquício de dignidade pela tentativa de manter o cargo e, quem sabe, se lançar em uma futura candidatura política ancorado no apoio de fascistas ligados ao presidente.

Vacinação, qualquer criança é capaz de aprender isso no ensino fundamental, é um ato que reverbera na coletividade. A imunização não protege apenas aquele que se vacina, mas também a sociedade em que ele está inserido. O compromisso com a vida no seio de uma coletividade exige, muitas vezes, que abramos mão até de certos pressupostos individuais e egoístas em nome de algo maior: o bem comum.

O que assistimos no Brasil, nos últimos dois anos, infelizmente não é surpreendente. Jair Bolsonaro fez carreira política obscura como um propagador do ódio, da tortura, da morte e da ojeriza a qualquer convívio com quem não comunga de suas ideias estapafúrdias. Não havia na carreira pregressa do presidente qualquer sinal de que ele poderia ser minimamente moderado no exercício do cargo. A expectativa pelo pior se confirmou.

De nossa parte, continuamos na trincheira contra os arautos da morte. A luta pelo passaporte da vacina – recomendado pela Anvisa e por autoridades médicas e científicas diversas – é um compromisso coletivo. Nunca chegamos, na história da República, a um ponto tão baixo e a resignação não é uma hipótese. Lutaremos, no parlamento e nas ruas, para derrotar mais uma vez os obscurantistas, como Marcelo Queiroga, e afirmar o valor da vida.

*Chico D’Angelo é médico e deputado federal (PDT-RJ)

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum