Ricardo Semler: "Não sei se a Paulista não estaria vazia se todo mundo fizesse um autoexame"

O empresário tucano contesta se "quem está na rua vai levar os princípios pelos quais está lutando para sua vida pessoal". "Se você vai para a Paulista e grita contra a corrupção, também precisa responder: está declarando todos os seus imóveis pelo valor cheio? Nunca deu R$ 50 para o guarda rodoviário? Nunca pediu meio recibo para um médico?", questiona.

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O empresário tucano contesta se "quem está na rua vai levar os princípios pelos quais está lutando para sua vida pessoal". "Se você vai para a Paulista e grita contra a corrupção, também precisa responder: está declarando todos os seus imóveis pelo valor cheio? Nunca deu R$ 50 para o guarda rodoviário? Nunca pediu meio recibo para um médico?", questiona Por Redação "É bom ver alguns executivos de algema. Pela primeira vez no Brasil, temos gente rica assustada. Até agora, você tinha uma classe média assustada, os pobres assustados e os ricos em suas mansões e helicópteros, ou indo para a Europa. Quando o cara é notificado pela Polícia Federal para explicar o dinheiro que ele tinha na Suíça, é um horror para essa elite e é uma beleza para o país." Essa afirmação foi feita por Ricardo Semler, sócio majoritário do conglomerado Semco Partners, em entrevista à BBC Brasil. No ano passado, em meio ao processo eleitoral, o empresário, que é filiado ao PSDB, publicou um artigo na Folha de S. Paulo sustentando a tese de que "nunca se roubou tão pouco" no Brasil, e que a corrupção por aqui não atinge apenas a máquina pública, mas está presente também nas estruturas privadas. Em depoimento à BBC, Semler voltou a abordar o assunto. "A sensação de que os ricos podem fazer qualquer coisa está fraquejando. É um indício de que esse momento do Brasil que durou 50, 60 anos está começando a terminar, mas serão necessários 20, 30 anos para fazer essa transição", destaca. Para o executivo, a corrupção no Brasil é "uma velha senhora" e está disseminada por todos os setores – a Petrobras seria apenas "a ponta do iceberg".  "Essas questões que estão sendo jogadas contra o governo do dia são muito antigas (...) Há corrupção nas teles, nas montadoras, nas farmacêuticas, nos hospitais particulares. O problema é endêmico e não adianta fazer de conta que surgiu agora", argumenta.

Semler considera "legítimas e positivas" as manifestações contra a presidenta Dilma Rousseff (PT), mas questiona se "quem está na rua vai levar os princípios pelos quais está lutando para sua vida pessoal, a empresa onde trabalha". "Se você vai para a Paulista e grita contra a corrupção, também precisa responder: Está declarando todos os seus imóveis pelo valor cheio? Nunca deu R$ 50 para o guarda rodoviário? Nunca pediu meio recibo para um médico? E quem está colocando no Congresso esses políticos? Não sei se a Paulista não estaria vazia se todo mundo fizesse um autoexame", pergunta.

O empresário também defendeu a taxação sobre heranças. "Acho que particularmente os impostos de transmissão (herança) são baixos. Quando o patrimônio de um grande empresário passa para seus filhos, muitas vezes eles compram mais Ferraris, mais mansões etc. O uso social desse patrimônio é o mais estúpido possível. Há muito espaço para aumentar [a taxa] e isso não afetaria em nada a disposição do empresário em investir. Até porque muitas vezes esse patrimônio foi construído por pessoas de outras gerações", coloca.