Sete verdades sobre o Foro de São Paulo

Criticada insistentemente pelos setores conservadores do país, a organização é, na verdade, pouco conhecida pelos brasileiros. Para ajudar a compreender o que é e quais os seus objetivos, Fórum entrevistou Valter Pomar, secretário executivo do Foro de São Paulo entre os anos de 2005 e 2013

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Por Anna Beatriz Anjos

Visto como ameaça por conservadores e adeptos do liberalismo econômico. Alvo de críticas insistentes de líderes da direita. Utilizado como um dos principais argumentos contra os governos do Partido dos Trabalhadores, bem como contra seus mandatários. Temido e combatido por Revoltados Online e similares. E, apesar de toda exposição, incompreendido: esse é o Foro de São Paulo.

Muito se fala sobre a organização. Nas manifestações contra a presidenta Dilma Rousseff, realizadas em março e abril deste ano, faixas e cartazes a denunciavam e pediam seu fim. Entretanto, pouco de fato se conhece sobre ela, já que as críticas que recebe são desproporcionais se verificarmos as suas reais premissas e o seu alcance.

Para ajudar a compreender o que é e quais os objetivos do Foro de São Paulo, Fórum entrevistou Valter Pomar, doutor em História Econômica pela USP, membro do PT desde a década de 1980 e secretário executivo da entidade de 2005 a 2013. Ao lado de Roberto Regalado, Pomar é ainda autor do livro Foro de São Paulo: Construindo a integração latino-americana e caribenha (Fundação Perseu Abramo).

O que é o Foro de São Paulo? Quando e onde surgiu?

Segundo Pomar, “o Foro de São Paulo é uma organização que reúne partidos políticos latino-americanos e caribenhos. Existe desde 1990 (quando ocorreu a primeira reunião do que viria a ser, posteriormente, denominado Foro de São Paulo)”.

A reunião a que se refere o petista ocorreu de 2 a 4 de julho de 1990 no extinto hotel Danúbio, na capital paulista, e foi batizado como Encontro de Partidos e Organizações de Esquerda da América Latina e do Caribe. Conforme o livro Foro de São Paulo: Construindo a integração latino-americana e caribenha, a ideia surgiu “em uma conversa entre o primeiro-secretário do Partido Comunista de Cuba, Fidel Castro Ruiz, e o líder do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, durante uma visita desse último a Cuba, realizada pouco tempo antes”. O objetivo era “refletir sobre a ‘crise do socialismo’ e sobre o ‘ascenso do neoliberalismo’” na região.

Durante a primeira reunião, em São Paulo, ainda não se pretendia a construção de um foro permanente. Tal intenção se consolidou a partir do II Encontro, realizado entre os dias 12 e 15 de julho de 1991 na Cidade do México, com a participação de “68 forças políticas latino-americanas e caribenhas, e a presença de 12 organizações observadoras oriundas da América do Norte e da Europa.”

Quantos encontros já ocorreram?

Ao todo, foram realizadas vinte edições do Foro de São Paulo – a última ocorreu em  La Paz, na Bolívia, em agosto de 2014. A organização se reúne anualmente, e o próximo encontro – o vigésimo primeiro – acontecerá novamente na Cidade do México, entre 29 de julho e 1º de agosto deste ano.

Qual o objetivo do Foro?

“O Foro de São Paulo reúne partidos progressistas, nacionalistas, socialistas e comunistas. Há basicamente dois pontos em comum entre estes partidos: lutar pela integração regional e combater o neoliberalismo”, afirma Pomar, ao descrever as principais metas da entidade.

A questão da integração, aliás, é central para a organização. Apesar das divergências teóricas ou de atuação, todos os partidos e governos membros ou influenciados pelo foro concordam nesse ponto, “seja como proteção contra ingerências externas em geral e contra os impactos da atual crise internacional em particular; seja para aproveitar melhor todo o potencial regional; e, também, como ‘guarda-chuva’ para os diferentes projetos estratégicos que os partidos do Foro perseguem”, indica o livro Foro de São Paulo.

As reuniões servem, portanto, para que os partidos da esquerda latino-americana e caribenha compartilhem experiências, construam conhecimento e debatam o cenário político, econômico e social da região, tendo sempre como norte o contraponto ao imperialismo norte-americano.

Quem integra a organização?

Conforme consta em seu site oficial, o Foro de São Paulo é integrado por mais de cem partidos da América Latina e Caribe (confira a lista aqui).

No Brasil, participam do grupo o PDT (Partido Democrático Trabalhista), PCdoB (Partido Comunista do Brasil), PCB (Partido Comunista Brasileiro), PPL (Partido Pátria Livre), PPS (Partido Popular Socialista), PSB (Partido Socialista Brasileiro) e o Partido dos Trabalhadores (PT).

O Foro de São Paulo tem algum poder político?

“Diretamente, não. Indiretamente, sim, na medida em que partidos políticos vinculados ao Foro têm influência em seus países”, explica Pomar. Hoje, diversos países da América Latina são governados por integrantes da organização. Brasil, Bolívia, Argentina, Uruguai, Chile, Equador e Peru são exemplos – é importante ressaltar que nenhum destes Estados abandonou o regime democrático, como insinuam os críticos do Foro.

Na avaliação do petista, o sucesso do grupo se deve a este cenário. “A maior conquista do Foro é ter contribuído para transformar a região, num sentido progressista e de esquerda. O Foro de São Paulo quando começou era composto basicamente por partidos de oposição. Hoje, cresceu a presença de partidos que participam dos seus respectivos governos nacionais”, declarou em entrevista ao jornalista Wilson Junior.

É verdade que o objetivo do Foro de São Paulo é transformar o Brasil em um país comunista?

Pomar discorda completamente dessa máxima, amplificada pelos setores conservadores e difundida pelo senso comum, sobretudo porque o Foro de São Paulo abriga grupos de diferentes correntes da esquerda e não privilegia nenhuma delas – serve apenas de ambiente para que se encontrem. “O problema destes grupos conservadores é que eles consideram ‘comunista’ tudo que diverge da posição deles”, analisa o ex-secretário executivo da organização.

Por que, então, existe essa obsessão da direita em relação ao Foro de São Paulo? 

“A direita raciocina em termos de Guerra Fria. O anticomunismo é um traço de caráter dela. O Foro é uma ameaça para estes setores, porque defendemos a integração regional e combatemos o neoliberalismo”, considera o historiador.

(Foto de capa: Felipe Amarelo)