Tecnologias sustentáveis podem gerar milhões de empregos, diz OIT

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As tentativas mundiais de frear o aquecimento global estão surtindo efeito na geração de empregos. A constatação foi apresentada nessa quarta-feira, 24, no relatório Empregos Verdes: Trabalho Decente em um Mundo Sustentável e com Baixas Emissões de Carbono, da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

De acordo com o estudo, os chamados “empregos verdes” - aqueles relacionados às novas tecnologias ambientais - estão em praticamente todas as áreas que têm se adaptado às reduções da emissão de CO2, como a construção civil, de energias renováveis, na agricultura, na indústria e nos serviços.

Além dos empregos que já vêm sendo gerados, o relatório ressalta que dezenas de milhões de outros postos de trabalho podem surgir com o investimento em tecnologia ambiental.

Na área de energias renováveis, por exemplo, atualmente existem 2,3 milhões de empregos, mas a OIT espera que sejam 20 milhões até 2030. Na agricultura, 12 milhões de novos postos de trabalho podem surgir da produção de biomassa, e espera-se que o mercado global de serviços e produtos ecologicamente corretos suba dos atuais US$ 1,37 bilhão para US$ 2,74 bilhões até 2020.

No Brasil, a área mais promissora é a de reciclagem. Cerca de 500 mil trabalhadores já estão empregados no país reciclando ou reaproveitando materiais.

O relatório demonstra, no entanto, que não há garantias de que esses empregos surjam em “transações justas” e faz um apelo para que aja “diálogo social entre governos e empresários para se criar trabalho decente, que diminua a pobreza e promova o desenvolvimento econômico e social”.

"Emprego verde"
Diante de um cenário em que a contaminação do meio ambiente e a emissão de carbono são insustentáveis do ponto de vista econômico e social, os governos devem estimular e investir em "empregos verdes".

Essa é a principal recomendação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), apresentada nessa quarta-feira (24) no relatório “Empregos Verdes: Trabalho Decente em um Mundo Sustentável e com Baixas Emissões de Carbono”.

O relatório diz que os "empregos verdes" devem ser trabalho decente e que os trabalhadores precisam ser capacitados para o novo formato de emprego, que deve se tornar cada vez mais comum nas sociedades que pretendem ser sustentáveis.

Além disso, o relatório recomenda que os empresários sejam preparados para avaliar o potencial para esse tipo de emprego em um empreendimento. Eles também devem receber subsídios, ecotaxas e participar da venda pública de créditos de carbono para obter recursos que serão usados na geração dos "empregos verdes".

Ainda segundo o documento, os governos devem incentivar as pesquisas de novas formas de tecnologia ambiental, promover leis que incentivem essas ações e obter um novo acordo sobre clima na próxima Cúpula das Nações Unidas, que se realizará em 2009.


Reciclagem
Há mais de 20 anos, Ângela Maria Pereira Balbino cata lixo. Com seu trabalho, sustenta cinco filhos. Além de catadora, ela é artesã e dirige a Cooperativa de Reciclagem, Trabalho e Produção (Cortrap), que recolhe, separa e vende para reciclagem o lixo de órgãos como a Câmara Federal, ministérios e a Procuradoria-Geral da República.

“Não me vejo fazendo outra coisa, sou muito feliz aqui", diz ela.. "Quando eu ia pensar que você pega um monte de jornal, agrega valor a ele e vende de novo?"

Ângela tem o perfil de um novo tipo de trabalhador que está surgindo da luta contra o aquecimento global. O “Emprego Verde” é o nome que foi cunhado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para definir as atividades relacionadas à tecnologia ambiental e geralmente está relacionado à indústria, construção civil, fontes de energia renováveis, serviços, turismo e agricultura.

Segundo o relatório “Empregos Verdes: Trabalho Decente em um Mundo Sustentável e com Baixas Emissões de Carbono”, divulgado nessa quarta-feira (24) pela OIT, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), a reciclagem é o "emprego verde" que abriga a maior parte dos postos de trabalho no Brasil. São 500 mil pessoas vivendo do lixo produzido nas grandes cidades. Quase nada comparado à China, quem tem 10 milhões de trabalhadores na “gestão de dejetos”.

Junto com Ângela, na Cortrap, 150 famílias se sustentam a partir do reaproveitamento do lixo. E o objetivo é atingir a marca de 250 famílias. "A gente precisa atingir essa marca para cumprir o projeto que temos com o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]. Eles já nos deram uma empilhadeira e dois caminhões. Agora, para ganhar uma máquina de triturar pet precisamos aumentar o número de cooperados e vamos conseguir", explica Ângela.

Mas, segundo o relatório, nem todos os empregos com reciclagem podem ser considerados “verdes”, porque alguns causam muita poluição. As indústrias de papel, celulose, cimento, ferro, aço e alumínio são as maiores vilãs ambientais, segundo o relatório, porque consomem muita matéria-prima e energia. O processo de reaproveitamento do ferro gasta entre 40% e 75% menos energia que a primeira produção. Já para reciclagem, esses estão entre os materiais mais rentáveis. Papel branco e garrafas pet são os que têm preço mais alto na hora da venda para as indústrias de reciclagem, cerca de R$ 0,12 e R$ 0,28 respectivamente. Já o ferro, tem preço baixo, mas pelo peso acaba valendo a pena, segundo Ângela.(M.J.)