Todos querem ser MasterChef - em 140 caracteres ou na vida real

Com outros programas da grade perdendo audiência, a aposta no formato ‘reality gastronômico’ veio em ótima hora para a Band. Mas a cultura do “todos podem ser chef” tem letras miúdas e a publicidade em torno da profissão conta com merchandisings muitíssimo bem empregados, vendendo uma realidade que não é a do mercado de gastronomia

Henrique Fogaça, Paola Carosella e Erick Jacquin, jurados e professores MasterchefBR
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Com outros programas da grade perdendo audiência, a aposta no formato ‘reality gastronômico’ veio em ótima hora para a Band. Mas a cultura do “todos podem ser chef” tem letras miúdas e a publicidade em torno da profissão conta com merchandisings muitíssimo bem empregados, vendendo uma realidade que não é a do mercado de gastronomia Por Monise Berno Desde a sua primeira edição no Brasil, MasterChef gera comoção a cada episódio. Com participantes e jurados caricaturais e de presença marcante, provas inusitadas, boas doses de humor e um ‘buzz’ gigante nas redes sociais, o programa vem chegando ao final da segunda edição como carro chefe na programação semanal da Bandeirantes. No Brasil, o formato importado tem como característica principal - que o diferencia da maioria dos 49 MasterChef realizados pelo mundo - a presença de não profissionais no elenco. Esse talvez seja um dos principais ‘temperos’ do programa, já que abre portas para a descoberta de possíveis novos talentos. Outro destaque fica para os três jurados escalados, cada qual com seu sotaque, temperamento e escola culinária. [caption id="attachment_72039" align="aligncenter" width="648"]Henrique Fogaça, Paola Carosella e Erick Jacquin, jurados e professores MasterchefBR Henrique Fogaça, Paola Carosella e Erick Jacquin, jurados e professores MasterchefBR[/caption] Para a Band, a estratégia era clara. Outros programas da grade perderam audiência, e algo novo precisava garantir fôlego para a emissora. A aposta no formato ‘reality gastronômico’ veio em ótima hora. Cada episódio alcança no mínimo a vice-liderança no Ibope, à frente inclusive de outros programas carros-chefe da emissora dos Saad, como o policialesco Cidade Alerta. Em comparação com as atrações televisivas oferecidas no mesmo horário, MasterChef Brasil compete lado a lado com os já conhecidos gigantes de audiência, como as novelas globais. A edição de 12 de agosto teve o pico de 10 pontos por cerca de 15 minutos. No Twitter, reinam as menções, interações de MasterChefBR com marcas patrocinadoras e interações do perfil oficial com o público - na primeira semana de agosto, os tuítes relacionados a @masterchefbr bateram a marca de 400 mil. Os memes são gerados instantaneamente: a cada fala de jurados ou participantes, as redes sociais se enchem de montagens bem humoradas, intersecções entre o programa e outros assuntos relevantes do dia, e levantam polêmicas, como o recente ‘racha’ entre Ana Paula Padrão e tuiteiros cansados de sua efusividade e alguns recados enérgicos distribuídos aos competidores. [caption id="attachment_72040" align="aligncenter" width="620"] Nem a linguagem corporal escapa dos memes. (Imagem: Realitysocial - reprodução)
Nem a linguagem corporal escapa dos memes (Imagem: Realitysocial - reprodução)[/caption] [caption id="attachment_72042" align="aligncenter" width="620"] As dúvidas dos participantes geram memes (Imagem: Band - reprodução)
As dúvidas dos participantes geram memes (Imagem: Band - reprodução)[/caption] [caption id="attachment_72044" align="aligncenter" width="652"]A participante Jiang é sucesso nas redes sociais durante a segunda temporada (Band reprodução) A participante Jiang é sucesso nas redes sociais durante a segunda temporada (Band reprodução)[/caption] São 17 episódios por temporada, com pessoas comuns colocando seus dotes culinários em xeque para alcançar o sonho de se tornar um chef profissional. Daqui a algumas semanas, veremos um dos competidores atuais levando um prêmio em dinheiro, subsídios da rede de supermercados que patrocina o programa, um carro, curso em escola no exterior e claro, o troféu MasterChef. Um dos grandes trunfos do programa está na popularização da ‘profissão chef’. Há pouco tempo, os grandes nomes da cozinha ficavam satisfeitos com seu estrelato conhecido por quem frequentava e analisava suas criações. Recentemente, alguns se tornaram célebres com quadros em programas na TV aberta. E, depois do boom, pessoas "comuns" apostam suas fichas em aprendizado e empreendedorismo na cozinha. Muito mais do que ganhar reality show, a cultura do “todos podem ser chef” tem letras miúdas. A publicidade em torno da profissão vai desde merchandisings muitíssimo bem empregados até alguns pontos sofríveis e aleatórios, vendendo uma realidade que não é a do mercado de gastronomia. Existem mais questões para além do abismo existente entre o mexidão de maionese e o dia a dia de um profissional da área, entre o frango assado feito no saquinho do caldo de tablete e o modo de preparo da mesma receita numa cozinha profissional. Acontece que, no Brasil, apesar de bonita, a gastronomia não é uma profissão para ‘qualquer pessoa’. Os cursos - alguns até com o nome Master Chef no título - e o material têm alto custo. Junte a essa mistura a necessidade de atualizações constantes e um mercado extremamente exigente, em um país onde as oportunidades e os recursos não estão colocados para todos da mesma forma e o resultado dessa receita pode ser uma explosão de frustrações. Em contrapartida, existem iniciativas como o projeto Chef Aprendiz, apelidado carinhosamente de MasterChef Paraisópolis, que foi colocado em prática por meio de financiamento coletivo virtual e ensina o beabá das panelas para jovens da comunidade. Um trabalho que leva inspiração e empoderamento para pessoas que buscam transformar uma tarefa doméstica em possibilidade de ganho financeiro. [caption id="attachment_72045" align="aligncenter" width="653"]Alunos do projeto Chef Aprendiz, apelidado de MasterChef Paraisópolis (Imagem: divulgação) Alunos do projeto Chef Aprendiz, apelidado de MasterChef Paraisópolis (Imagem: divulgação)[/caption] A primeira edição do reality foi vencida por uma mulher. E, quando falamos de uma carreira que tem seu ‘Olimpo’ predominantemente masculino, essa é uma vitória emblemática quando a colocamos ao lado do velho dito popular “lugar de mulher é na cozinha”. Popularizar a profissão também é, neste caso, abrir um espaço, ainda que mínimo, para maior visibilidade feminina no mercado. [caption id="attachment_72046" align="aligncenter" width="678"]Elisa Fernandes, ganhadora da primeira edição do MasterChefBR, com seu pai e a apresentadora Ana Paula Padrão (Imagem: Band - divulgação) Elisa Fernandes, ganhadora da primeira edição do MasterChefBR, com seu pai e a apresentadora Ana Paula Padrão (Imagem: Band - divulgação)[/caption] Programa certo para quem gosta de cozinhar e de comer, Marterchef Brasil é, indiscutivelmente, uma receita de sucesso. Quem acompanha torce e faz suas apostas sobre qual dos competidores irá levar as glórias por conquistar o paladar dos jurados. Àqueles que querem investir e seguir o sonho de comandar uma cozinha o caminho é complexo: talento, muito jogo de cintura, atenção e força são exigência básica. Cuidado e algum dinheiro em caixa completam o perfil, em meio a facas, panelas, receitas, temperos e muitas horas de trabalho.