Batistas e Presbiterianos: De joelhos diante do mito! – Por pastor Zé Barbosa Jr

A verdade, infelizmente, é que presbiterianos e batistas (pelo menos em suas altas cúpulas) estão envolvidos até o pescoço com o governo Bolsonaro, de onde esperam favores, benesses e cargos

Foto: Agência Brasil
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Um dos fatos que marcaram a semana foi a entrega, na terça-feira (26), de um documento assinado por quase 400 lideranças cristãs (católicas e evangélicas), pedindo o impeachment do presidente Bolsonaro pelos vários crimes de responsabilidade cometidos durante a pandemia. O documento, com 74 páginas, foi entregue e protocolado na Câmara dos Deputados.

Foram signatários deste pedido de impeachment, líderes religiosos de diversas confissões cristãs: católicos, luteranos, anglicanos, batistas, metodistas, presbiterianos, assembleianos e outras confissões evangélicas, que deixaram registrados seus nomes como participantes desse momento histórico. Tive a honra de ser um dos que assinaram, entre tantos outros, esse documento.

O mais curioso, no entanto, é que imediatamente após o ato, no dia seguinte, a cúpula de duas das principais denominações evangélicas do país tratou de se manifestar, tirando o corpo fora, e dizendo não têm nada a ver com o documento. Sim, a reação foi mais que imediata, em notas dos presidentes da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) e da Convenção Batista Brasileira (CBB). Curioso, sim, porque não me lembro de nenhuma nota das referidas instituições, por exemplo, sobre a eficácia da vacinação, isto sim, pertinente ao princípio evangélico “para que todos tenham vida”. Isso pra não falar de outras omissões...

Curioso também porque ninguém assina o documento que pede o impeachment “em nome” das referidas instituições, mas apenas pontuam seus cargos, ofícios e postos para identificação no documento, já que ele é assinado por lideranças (pastoras, pastores, padres, missionárias, missionários, etc.).

Além do espanto, fica evidente a hipocrisia e a dissimulação nas notas emitidas. A nota da IPB diz que a Igreja não “se imiscui nos negócios civis do Estado”. Nota assinada pelo presidente da instituição que arrebanhou dois dos mais importantes ministérios (Educação e Justiça – ambos os ministros são pastores da IPB) no governo Bolsonaro. E não vi nenhuma nota da IPB dizendo que “não tem nada a ver” com os despautérios do ministro da Educação em tempos de pandemia e com o ministro da Justiça perseguindo jornalistas que denunciam os desmandos de seu mito.

Quanto à nota da CBB, é pior ainda, pois o presidente da convenção que abriga a maior parte dos batistas brasileiros parece desconhecer (e não creio que desconheça) a própria história dos batistas, seus princípios e os poderes de sua função. As Igrejas Batistas são autônomas e um dos principais princípios batistas é a liberdade de consciência. Além disso a nota é de uma desfaçatez enorme ao dizer que a CBB é “apolítica”. Não é e nunca foi. Os batistas sempre defenderam a total separação entre Igreja e Estado, o que de forma alguma significa uma posição apolítica. Muito pelo contrário, o documento “Princípios Batistas” diz claramente que “a Igreja tem a responsabilidade tanto de orar pelo Estado quanto de declarar o juízo divino em relação ao governo, às responsabilidades de uma soberania autêntica e consciente, e aos direitos de todas as pessoas”. E foi exatamente isso que os signatários batistas do pedido de impeachment fizeram.

Mas não é de espantar que a CBB tenha essa atitude covarde e vil. Foi assim na época da ditadura ao imediatamente mudar o editor de “O Jornal Batista” um mês após o Golpe Militar de 1964. Golpe que também revelou as entranhas da cúpula da IPB, que denunciou aos militares os “pastores subversivos” como Jaime Wright e Rubem Alves. Voltando à CBB, estranho essa “apoliticidade” não ter acontecido quando, por exemplo, o Instituto MUDE, à serviço da Lava Jato e de seu procurador Deltan Dallagnol, tinha a sede no endereço da Igreja Batista do Bacacheri, Igreja onde Dallagnol era membro e o pastor era o então presidente da CBB.

A verdade, infelizmente, é que presbiterianos e batistas (pelo menos em suas altas cúpulas) estão envolvidos até o pescoço com o governo Bolsonaro, de onde esperam favores, benesses e cargos. Estão de joelhos diante do “mito”. Desconsideram totalmente os ensinamentos de Jesus e a luta evangélica por justiça social e equidade. Venderam-se. Traíram o Evangelho! Abandonaram o “primeiro amor” (para usar uma linguagem bem evangélica).

Aliás, não vi nota nenhuma das duas denominações sobre a resposta cristã e equilibrada do “mito” adorado e reverenciado por elas aos jornalistas, quando perguntado sobre o escândalo dos gastos do atual governo. Deve ser porque mandar para a “puta que o pariu” ou “enfiar no rabo” sejam só metáforas que encontrem algum eco na prática de tais evangélicos...

Portanto, a partir de agora, cuidado ao entrar numa Igreja Batista (da CBB) ou Presbiteriana (da IPB) em dia de "Ceia do Senhor" ou "Santa Ceia". Pode ser que, ao invés de pão e vinho você receba, como elementos da ceia, um chiclete e um cálice com leite condensado.

As coisas mudam...