Ecologia industrial para a sustentabilidade – Por Ana Beatriz Prudente

Como podemos nos inspirar na natureza em nossa linha de produção, já que ela não polui ou degrada, mas sim opera em ciclos de equilíbrio?

Imagem: Getty Images
Escrito en OPINIÃO el

Nas últimas três décadas do século XX, algumas empresas passaram a incluir a dimensão ambiental em suas atividades, uma vez que a preocupação ambiental se tornou um tema cada vez mais discutido. Diante desse cenário, surgiu o conceito do que chamamos de ecologia industrial, ou seja, a transformação do modelo tradicional e linear de atividade industrial – no qual cada fábrica, individualmente, demanda matérias-primas e gera produtos a serem vendidos e resíduos a serem dispostos – para um sistema mais integrado, no qual o consumo de energia e materiais é otimizado e os efluentes de um processo servem como matéria-prima de outro. 

A ecologia industrial tem como principais desígnios o uso sustentável dos recursos naturais, a preservação ambiental e a promoção da equidade intergerações.

Como podemos nos inspirar na natureza em nossa linha de produção, já que ela não polui ou degrada, mas sim opera em ciclos de equilíbrio?

O centro da abordagem da ecologia industrial é exatamente esse equilíbrio encontrado na natureza, pois ela visa a integrar os sistemas artificiais criados pelo homem aos sistemas pertencentes à natureza. Um desses sistemas é a Simbiose Industrial, que é baseada na sinergia entre diferentes atividades produtivas que apresentam maior eficiência de recursos, resultando em benefícios ambientais, sociais e econômicos. 

O termo ecologia industrial foi cunhado pela primeira vez em 2003 e surgiu na esteira dos movimentos ambientalistas, que se intensificaram nos anos 1970 e ganharam corpo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. O conceito é mais desenvolvido em países como Japão, Estados Unidos e na Europa, contudo tem sido mais debatido no Brasil atualmente – ainda que em menor escala.  Ele pode ser compreendido por suas 5 características principais:

1 – Perspectiva fundamental: ter a natureza como modelo / como inspiração;

2 – Objetivo primordial: buscar harmonia, o equilíbrio, a integração entre os sistemas ecológico e industriais;

3 – Definição de trabalho: uma ciência da sustentabilidade;

4 – Objetivos principais de trabalho: produtos, processos, serviços e resíduos;

5 – Ideia central: a busca pelo entrelaçamento de sistemas 

Essa é uma visão sistêmica das interações industriais e do meio ambiente e possui sua origem vinculada à metáfora entre os ecossistemas naturais e industriais, ou seja, ela se inspira na natureza para desenvolver seus sistemas produtivos, além de criar ciclos que estão em equilíbrio com sua linha de produção. Quando não seguimos esse princípio em nossa linha de produção, demandamos cada vez mais energia e geramos cada vez mais produtos não sustentáveis.

Já a economia circular é um termo guarda-chuva, que abarca a economia baseada em sistemas lineares, altamente eficientes para a produção de bens e serviços. No entanto, não é eficiente em sua totalidade no mundo de hoje, pois a economia linear favorece problemas ambientais. Assim, ecologia industrial é um dos conceitos que dá “cobertura técnica” à economia circular, favorecendo a transformação desses sistemas lineares em circulares. Um exemplo são os Ecoparques Industriais: lugares nos quais as empresas cooperam entre si e cooperam ainda com as respectivas comunidades locais, compartilhando diversos recursos para obter retornos econômicos, ambientais e humanos. Portanto, o uso dos conceitos de Ecologia Industrial e de Simbiose Industrial na forma de um Ecoparque visa a revitalizar áreas urbanas e rurais e também promover o crescimento e a retenção de empregos.

É difícil falar de meio ambiente em uma situação limite em meio à pandemia vivenciada no mundo todo, pois o mercado é muito sensível aos acontecimentos. Além disso, é um fato indiscutível que o mundo passa por um processo de grandes mudanças climáticas – resultado da atuação humana nesse ambiente, modificando-o dia a dia. Cientistas alertam que se o desmatamento e a queima das florestas (como a Amazônica, por exemplo) continuar nesse ritmo – além de mudanças no uso da terra – pode-se esperar a degradação dos sistemas de água doce, a perda de solos valiosos do ponto de vista ecológico e agrícola, mais erosão, menores colheitas agrícolas, além de  maior infestação de insetos e a difusão de doenças infecciosas. E a atuação da indústria nesse processo é impactante.

Para se ter uma conduta ambiental adequada, é preciso se preparar e planejar. Destaca-se que no caso das organizações, a ecologia industrial contribui para gestão de resíduos, uma vez que promove a reciclagem e/ou a reutilização de resíduos, além do uso eficiente dos recursos e insumos produtivos. Estabelece ainda meios de estender a vida dos produtos industriais. Portanto, ela assume valor estratégico nas empresas, ainda que com muitos desafios e dificuldades, especialmente no Brasil. Algumas das vantagens desse sistema são: maior eficiência energética e hídrica – menos consumo já que os processos são revistos; sistemas produtivos mais eficientes; diminuição da poluição; uso mais eficiente dos recursos e matéria-prima; diminuição do desperdício; redução dos custos operacionais, já que os processos industriais sofrem transformações para eliminar o desperdício.

Quando uma empresa pensa em minimizar seus impactos ambientais, deve considerar que, via de regra, ao melhorar seu desempenho em certa categoria, acabará por sacrificar outra. Considera-se uma melhora efetiva quando seu desempenho, por exemplo, na diminuição do aquecimento global aumenta significativamente e seu desempenho em eutrofização em água doce melhora vagarosamente (processo em que ocorre um aumento na concentração de nutrientes, principalmente fósforo e nitrogênio no corpo d'água). Por isso, as decisões empresariais devem ser olhadas dentro do tempo e do espaço. É um desafio permanente e é importante que a empresa desenvolva tecnologias que possam mitigar ou eliminar os impactos negativos dos resíduos gerados. Isso gera lucros a longo prazo, sendo uma grande vantagem econômica, já que os consumidores demandam produtos e serviços sustentáveis.

A pandemia, por exemplo, trouxe também esse olhar de aumentar o ciclo de vida de produtos, pois os consumidores veem mais vantagens em reutilizar produtos e ou dar um novo uso ou vida a eles. Diante da rápida expansão do vírus, das medidas sanitárias, do isolamento e da escassez de recursos, mais do que nunca ficou claro como o desequilíbrio ambiental pode gerar novas ameaças para todos. Promover ambientes mais colaborativos, circulares e acolhedores (inclusive ambientalmente) tornou-se uma necessidade.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.