PESQUISA DE FEIURA

VÍDEO: Não se achar feio é diferente de se achar bonito - Por Lelê Teles

Isso significa menos filtro no insta, menos paranoia no espelho, menos consumismo com futilidades estéticas e menos depressão e ansiedade

Escrito en OPINIÃO el

"Minha filha, outro dia me perguntou: pai, por quê ninguém faz música cultuando a beleza masculina?"; e eu falei, "porque homem não tá nem aí pra isso não, filha".

Um levantamento sobre o comportamento masculino, realizado pelo Instituto Ideia e encomendado pela revista GQ, deu o que falar; aliás, um detalhe do levantamento.

É que, segundo a pesquisa, apenas 3% dos entrevistados se consideram feios.

Se tivermos respeitando aí os recortes étnicos e raciais, é um número extraordinário.

Isso significa menos filtro no insta, menos paranoia no espelho, menos consumismo com futilidades estéticas e menos depressão e ansiedade.

É colocar um chinelo, uma bermuda, uma camisa de time ou de banda, passar a mão engordurada no cabelo, assanhar os cachos e sair pro abraço.

O magricela, o assimétrico, o dumbo, o pinóquio, o cabeção, o girafales, o gordinho gostoso e o mun-rá tão se achando. E isso é muito bom.

Isso significa que o cabra não vai se atirar de uma ponte ou viaduto se alguém falar das espinhas que ele tem no rosto, nem vai se importar se tiver uns dez caras na festa vestidos como ele, aliás: "nove entre dez do baile tão de camisa do Messi".

Sim, os caras também dão um trato no visual, fazem umas ginásticas, aprendem uns passinhos, mas sem paranoia. Se não tiver saradão e não souber dançar, tá bonito do mesmo jeito.

É claro que há, também, os metrossexuais afetados, sempre com unhas bem feitas, costeletas simétricas, dentes clareados e de faces harmonizadas; mas esse esforço todo é um claro sinal de mais insegurança.

Seguro mesmo é o cara que não se acha feio de fisionomia, estragado de feição e nem desprovido de beleza.

Ou seja, enquanto uns se encontram, outros se acham. 

Be your selfie, diz o feioso sorridente. 

Certa vez, disse-me o sapientíssimo cacique papaku: "não há nada mais sincero que o largo sorriso de um banguelo".

Ouvi pessoas falarem que o espelho é mais generoso com os homens, o que é uma tremenda fuleiragem, afinal de contas, como sabemos, espelhos não emitem opinião; um espelho não julga, ele apenas reflete, a reflexão quem faz é o espelhado.

E tem mais, não se achar feio não é o mesmo que se achar lindo, não estamos a falar de narcisismo; todo mundo acha o Cauã Reymond um gato, mas de qualquer forma, todo mundo se garante e tatoo do bem.

Bigodim finim, cabelim na régua, risco na sobrancelha, água oxigenada na careca e tamo lindo.

Em 2011, uma pesquisa internacional, li no jornal O Globo, mostrava que apenas 4% das mulheres se consideravam bonitas; no brasil tava bem melhor, eram 14%; mas é pouco, é preocupante e é irreal!

"Ah, mas a sociedade cobra mais das mulheres", sim, mas quem diabos é a sociedade? Pelo qu'eu saiba as mulheres são a maioria na sociedade!

É claro que há implicações psicossociais no reflexo do espelho, mas isso ocorre porque você está enxergando além do que ele reflete, esperando um veredicto que deveria ser unicamente seu.

Quem espera a resposta do espelho, portanto da sociedade que ele representa, age como a rainha má do conto de fadas, desconfia do seu próprio julgamento e espera que o objeto fale, e não falhe em apontar que é você a belezura do universo.

Aí é que tá a armadilha. 

Quando os portuga entregaram um espelho nas mãos dos indígenas, eles não entregaram nenhuma maldição, afinal de contas os indígenas já estavam habituados aos espelhos d'água, já se viam refletidos no leito manso dos igarapés e tavam de boas com sua autoestima, com seus cocares, seus colares, sus colores, suas pinturas e seus adereços.

Oxum, pega essa visão, não carrega nenhuma maldição em suas mãos; o espelho não a oprime, não a diminui, não faz dela uma gata borralheira. 

O espelho não tem culpa!

E a sociedade não são eles ou elas, a sociedade somos nós. 

Pare de culpar os outros e sorria pra você mesmo(a).

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum 

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