OPINIÃO

Suspeita – Por Normando Rodrigues

O economista Roberto Castello Branco, ex-presidente da Petrobrás, afirmou ter disposto de provas da prática de crimes por parte do presidente Lobisomem em seu antigo celular corporativo

Créditos: Reprodução/Youtube
Escrito en OPINIÃO el

Suspeita

O economista Roberto Castello Branco, ex-presidente da Petrobrás, afirmou ter disposto de provas da prática de crimes por parte do presidente Lobisomem em seu antigo celular corporativo.

Orgulhoso do que acredita um exemplo de ética, Castello Branco – uma amiga querida o alcunhou “Barraco Encardido”, que abreviaremos para “BarrEn” – devolveu o celular ao deixar a empresa, sem nada guardar.

Prevaricação

Aquilo que BarrEn considera um virtuoso gesto de lealdade ao Lobisomem, mesmo em momento de execração, numa primeira leitura poderia indicar o cometimento de eventual prevaricação pelo próprio BarrEn, como previsto no artigo 319 do Código Penal.

Isso porque o presidente de uma estatal, além de equiparado penalmente a funcionário público (Art. 327 do C.P.) tem o dever de ofício de comunicar qualquer atitude suspeita de ser criminosa que esteja relacionada a suas competências.

Assim, hipoteticamente, ao tomar conhecimento de crime, ou tentativa, de autoria do presidente monstro e não provocar as instituições a respeito, BarrEn seria um prevaricador.

Senado

Pensada essa possibilidade, o senador Jean Paul Prates (PT-RN) cobrou do ministro de Minas e Energia informações sobre mensagens trocadas em celulares corporativos e registros audiovisuais de reuniões do Conselho de Administração da Petrobras:

"Todo mundo sabe que o presidente achaca diariamente a empresa que deveria ajudar a nortear, mas é importante saber exatamente quais crimes teriam sido perpetrados, ou se realizou ameaças pessoais", disse Jean Paul.

Embora a iniciativa do senador seja extremamente louvável – e, aliás, Jean Paul Prates é um gigante na luta contra a doação aos pedaços da Petrobrás aos financiadores do presidente Licantropo – talvez se possa melhor interpretar as palavras de BarrEn, se filtradas no perfil deste boquirroto personagem.

BarrEn

O indivíduo já havia integrado o Conselho de Administração da Petrobrás nos estertores do governo Dilma, quando a entrega da economia a Joaquim Levy (Bradesco) levou ao desastre da recessão de 2015-2016.

Na época, como bom “Chicago Olds”, BarrEn manifestou incompatibilidade com a democracia, o pluralismo e a diversidade. Não se trata de mero sacerdote do neoliberalismo e sim de um feroz defensor de sua crença.

À frente da Petrobrás sob um poder executivo hegemonizado pelo fascismo, BarrEn se empenhou em restringir as atividades da estatal à exportação de óleo bruto, em abandono do refino, da distribuição de derivados e das pesquisas por fontes energéticas renováveis.

Plantation

A visão de Brasil a justificar a Petrobrás sem postos de combustíveis, sem refinarias, sem dutos e sem terminais, foi exposta por BarrEn em ocasiões noticiadas: a “vocação” do Brasil é ser um exportador de commodities, e não uma nação industrializada.

O plano de nos transformar num grande território livre, aberto à predação humana e da natureza, onde a mineração destruidora se combina com o agronegócio escravagista e com o turismo sexual, é a meta de militares ideologizados e de outras eminências antidemocráticas, conforme pornograficamente demonstrado na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, na qual Paulo Guedes, outro Chicago Olds, sintetizou seu neoliberalismo: “deixa cada um se foder”!

Por oportuno, o “vazamento” dessa nobilíssima reunião ministerial torna inverossímil que basicamente os mesmos protagonistas agora deem acesso aos registros da Petrobrás requeridos pelo senador Jean Paul. Podemos esperar é que a escuridão cubra tais materiais com o enésimo sigilo centenário.

De volta ao neoliberalismo dos Chicago Olds, e sopesada a ortodoxia de BarrEn, o mais provável é que este tenha visto “crimes” nos extemporâneos uivos do Lobisomem a propósito da função social da Petrobrás.

Uivos demagógicos, eleitoreiros e insinceros. Mas, ainda assim, suficientes para irritar neoliberais de todos os matizes.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.