Jean Wyllys: "Ciro escolheu o pior caminho para dialogar com o eleitorado conservador"

Para o ex-deputado, os "esquerdomachos" da política brasileira têm muito a aprender com o ex-presidente Lula

Jean Wyllys - Foto: Reprodução/TV Globo
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Exilado há 9 meses por conta de ameaças que sofria à sua vida e a de seus familiares, Jean Wyllys mantém o olhar atento às peripécias da política brasileira e comenta sobre os erros da esquerda ao tentar dialogar com um eleitorado mais "conservador". Em entrevista ao blog da Socialista Morena, o ex-deputado federal e atual professor-visitante da Universidade de Harvard fala sobre a necessidade de "esquerdomachos", como Ciro Gomes, de aprenderem a se reinventar e se abrir a pautas identitárias. "Os esquerdomachos como Ciro Gomes estão metendo os pés pelas mãos. Ciro escolheu o pior caminho para ‘dialogar’ com o eleitorado conservador reacionário: fortalecer os seus preconceitos", disse, citando novamente a menção de Ciro à palestra de Márcia Tiburi que, segundo ele, "faz apologia ao cu". Para ele, a esquerda ainda é dominada por “esquerdomachos” brancos, mas há aqueles com disposição para se reinventar, de ouvir as novas vozes e de se abrir para as novas agendas. "Lula é o melhor exemplo nesse sentido", disse Jean, citando que o ex-presidente fez a indicação do primeiro negro para o STF e fez de uma mulher sua sucessora na presidência. "Os esquerdomachos têm muito a aprender com ele", completa. "Nós vemos o PDT agindo como o PT agiu no episódio do Escola sem Homofobia, como o PSOL no segundo turno das eleições municipais do Rio de 2016 e como o PCdoB em relação a Manuela D’Ávila quando ela se tornou o alvo preferencial das fake news no segundo turno das eleições de 2018, permitindo que ela fosse apagada da campanha para ‘o bem’ da chapa", continuou, citando a acusação que faz ao PSOL de tê-lo escondido durante o segundo turno da campanha de Marcelo Freixo à prefeitura do Rio, em 2016, para não melindrar o eleitorado conservador. Para Jean, é um equívoco a esquerda negligenciar questões identitárias e temas polêmicos, como a descriminalização das drogas e do aborto, em prol do eleitorado. "Não se repara as injustiças sociais sem se levar em conta as questões identitárias e ambientais", acrescenta o ex-deputado.