Fora do ministério, Mandetta ataca EUA, critica herança escravocrata e defende SUS

“Só quem está gritando é a Casa Grande, que vê o dinheiro do engenho cair”, disse o ex-ministro ao falar sobre o isolamento social

Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
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Ao comentar sobre o surto do novo coronavírus no Brasil, o ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta, soltou o verbo em entrevista realizada nesta terça-feira (21). Ele revelou estar escrevendo um livro e evitou criticar diretamente o presidente Jair Bolsonaro.

Em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, Mandetta disse acreditar em "boas notícias" no segundo semestre e prometeu um livro com o material produzido no interior do ministério sobre a pandemia do coronavírus.

O ex-minsitro destacou que as ações tomadas no Brasil surtiram efeito e a curva foi achatada. "A gente conseguiu. Nós domamos a curva. Falavam que o Brasil chegaria a 700 mil óbitos em 30 dias. Nós achatamos a curva. Por quanto tempo vamos conseguir domar [o vírus]? Depende", declarou. "O número de casos estava subindo 28% por dia. Quando saí [do cargo de ministro], o crescimento era de 8%", completou.

Isolamento social e herança escravocrata

O deputado federal voltou a defender o isolamento social e atribui às elites e à herança escravocrata as reações negativas ao confinamento. “Só quem está gritando é a Casa Grande, que vê o dinheiro do engenho cair”, disparou.

"A Casa Grande arrumou o quarto dela, a despensa está cheia. Tem o seu próprio hospital. Lamenta muito o que está acontecendo —mas quer saber quando o engenho vai voltar a funcionar", completou.

Mandetta disse ainda que as heranças culturais indígenas e africanas pesaram na maioria da população. "A nossa herança negra, africana, era obrigada a trabalhar, mesmo doente. Registra que é preciso trabalhar —mas exige segurança, proteção. Opa, estou desprotegido! Ele foi e se auto-cuidou. As pessoas estão criando mecanismos para se cuidar", analisou.

SUS e os EUA

Para o ex-ministro, o Sistema Único de Saúde é o grande responsável pelo freio do Brasil na Covid. "O SUS deu uma aula. O SUS tem problemas. É sub-financiado É preciso discutir isso. Mas o SUS falou por si. É um sistema. Há um comando [interligando] 27 estados, 5.700 municípios brasileiros, que puderam falar, mostraram as dificuldades. Nos EUA, é cada estado por si", afirmou.

Ainda sobre os Estados Unidos, o parlamentar criticou a "pirataria" de insumos de saúde. "Vou falar do que vivi. De como os EUA desfizeram as compras internacionais. [...] A iniciativa privada do país, que foi induzida, incentivada, a fazer isso", afirmou.

Confira na Folha a entrevista na íntegra