Ex-ministros da Saúde veem com desconfiança escolha de Marcelo Queiroga para combater pandemia

Para Alexandre Padilha, Bolsonaro trocou o ministro sem trocar sua política; Arthur Chioro diz que se o novo ministro não pautar suas ações em evidências científicas, tudo continuará como antes

O novo ministro Marcelo Queiroga - Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Escrito en POLÍTICA el

Dois ex-ministros da Saúde observam com desconfiança e preocupação a escolha de Marcelo Queiroga como novo comandante da pasta, em substituição ao general Eduardo Pazuello, que deixa o cargo após uma gestão trágica e ineficiente no governo de Jair Bolsonaro.

Cardiologista, Queiroga assume no pior momento da pandemia do coronavírus, com o país batendo recordes seguidos e quase diários nos números de mortes e de infectados por Covid-19.

“O Efeito Lula fez com que Bolsonaro saísse desesperadamente atrás de um médico para trocar o ministro da Saúde sem trocar a sua política. Eu torço para que o doutor Queiroga não permita que arranquem seu avental da ciência e vistam nele o avental do charlatanismo”, declara o médico infectologista e deputado federal, Alexandre Padilha (PT), ministro da Saúde entre 2011 e 2014.

Queiroga deixou claro em seu primeiro contato com a imprensa, nesta terça-feira (16), que "a política de combate à pandemia é do governo Bolsonaro” e não do ministro da Saúde, sinalizando que pouca coisa deve mudar no setor sob seu comando.

A troca de Pazuello por Queiroga também provoca desconfiança no médico Arthur Chioro. Ministro da Saúde entre 2014 e 2015, o sanitarista levanta questões de difícil resposta, diante do atual cenário da Saúde no governo Bolsonaro.

“Quanto tempo sobreviverá um ministro da Saúde que tenha empatia e respeite o sofrimento do povo brasileiro? Poderá pautar suas decisões e ações em evidências científicas, pelo cumprimento de seu papel de coordenador do SUS e respeitará o pacto interfederativo? Sem isso, tudo continuará como antes”, observa Chioro.

Pelas palavras do novo comandante da pasta, as dúvidas do ex-ministro são mais do que pertinentes: “Fui convocado pelo presidente Bolsonaro para dar continuidade a esse trabalho e conseguirmos vencer essa crise na saúde pública brasileira, que não é só da saúde pública brasileira. É um problema mundial. E a imprensa é muito importante, porque a imprensa leva informações de qualidade à população”, diz o cardiologista.

Ao ser questionado sobre o lockdown, Queiroga voltou a afirmar que só deve ser aplicado em “situações extremas”.

“Boi de piranha”

Padilha aborda outra questão importante no panorama político: “Bolsonaro entregou seu general, que ocupava o Ministério da Saúde, como ‘boi de piranha’ para estancar o movimento de criação de uma CPI da Covid no Congresso. O Brasil precisa saber se a propaganda de medicamentos sem eficácia e a negativa de vacinas é negacionismo ou se têm interesse financeiro por trás. Que Bolsonaro gosta de uma mamata, a gente já sabe”, acrescenta.