Ruralista substituto de Salles tem conflito com indígenas e histórico em sociedade rural

Escolhido como representante da pasta no Conselho da Amazônia Legal, Joaquim Álvaro Pereira Leite parecia ser de confiança do ex-ministro

Joaquim Álvaro Pereira Leite e Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução)
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O pedido de demissão de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente fez com que o ruralista Joaquim Álvaro Pereira Leite fosse alçado ao comando da pasta nesta quarta-feira (23). Leite foi conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB), entidade que apoia a bancada Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), por 23 anos.

Antes de assumir as rédeas do ministério, Leite passou pela Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais e pela Secretária de Florestas e Desenvolvimento Sustentável durante a gestão de Salles. No currículo dele, consta uma longa atuação na SRB. Ele era o representante de Salles no Conselho Nacional da Amazônia Legal, comandado pelo vice-presidente Hamilton Mourão.

Leite ainda é conhecido no meio ruralista por ser um dos mais antigos integrantes da entidade, na qual já ocupou diversos cargos diretivos. A SRB, inclusive, era uma defensora da gestão do ministro.

Esse apoio ficou bastante evidente em 26 de maio de 2020, quando diversas entidades divulgaram um manifesto em defesa de Salles quatro dias após a divulgação do vídeo da reunião ministerial em que o ex-titular da pasta disse ao presidente Jair Bolsonaro que deveria aproveitar que a cobertura da imprensa estava voltada para a pandemia de Covid-19 e “passar a boiada” na área ambiental.

“As ações do Ministério do Meio Ambiente, na defesa da legislação e dos interesses ambientais com sensibilidade ao desenvolvimento do país de forma sustentável e legítima, contam com nosso total apoio”, dizia trecho da mensagem.

A SRB assinou a carta ao lado de 87 entidades, entre elas a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) e a Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (Acebra).

Além disso, a família do novo ministro possui conflitos agrários com povos indígenas em São Paulo. Segundo reportagem do jornalista João Fellet, na BBC Brasil, documentos da Funai mostram que capatazes que trabalham para os Pereira Leite chegaram a destruir a casa de uma família indígena da TI Jaraguá.

Os Pereira Leite reivindicam um pedaço dessa TI, que é considerada a menor do país. Joaquim Álvaro Pereira Leite Neto, pai do ministro, chegou a "exigir que a Funai retirasse os marcos físicos do processo demarcatório da área indígena Jaraguá, alegando ser o proprietário da área, acusando agressivamente a Funai de estar praticando um crime".

Conforme aponta a reportagem, os conflitos da família do ministro com os indígenas chegaram a ser documentados no livro "A grilagem de terras na formação territorial brasileira", da geógrafa Camila Salles de Faria. "Esse Pereira Leite, a família Pereira Leite, ele ameaça muito o pessoal indígena… Que vai pôr fogo na casa, que vai destruir... Numa época ele até veio com uma maleta de dinheiro para mim querendo comprar a terra de mim", diz relato ouvido pela geógrafa.