Economista do Santander divulga relatório que prega golpe para evitar retorno de Lula

Victor Candido compartilhou a clientes e operadores do mercado texto que diz: “É possível especular sobre um golpe para evitar o retorno de Lula. Ele era inelegível até outro dia, por exemplo, pode voltar a sê-lo”

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*Matéria atualizada em 13/08/2021, às 13h56, para correção de informação

Victor Candido, economista do banco Santander, enviou a clientes da instituição e operadores de mercado um relatório em que está explícita a defesa golpe de Estado para evitar o retorno do ex-presidente Lula à presidência. As informações são de reportagem de Andy Robinson, no site Ctxt.

“Dito isso, é preciso reconhecer um problema na eleição de 2022: a perspectiva de retorno ao poder da máquina de corrupção do governo Lula”, diz um trecho do relatório compartilhado por Candido.

Em outro trecho, o texto diz: “Se o sistema político e judicial, se o establishment político brasileiro acha cômico o governo Bolsonaro, o retorno de Lula e seus aliados representa uma ameaça bem mais séria. Hoje, Lira é o presidente da Câmara, mas sob um governo do PT, seria um modesto aliado abrigado em um cargo menor”."

"Em suma, ninguém apoiará um golpe em favor de Bolsonaro, mas é possível especular sobre um golpe para evitar o retorno de Lula. Ele era inelegível até outro dia, por exemplo, pode voltar a sê-lo", prossegue.

O relatório foi enviado a muitos clientes e operadores financeiros do Santander. O fato provocou indignação dentro do PT, no momento em que Lula, depois de ser absolvido das denúncias injustas de corrupção que o impediram de disputar as últimas eleições, amplia a vantagem nas pesquisas.

“Não há dúvida de que o e-mail faz parte de uma análise que o Santander envia para muitas pessoas nos mercados”, afirmou um economista do partido. Existe a possibilidade de o PT processar o Santander pela defesa de um golpe.

Outro lado

Em nota após a repercussão do relatório enviado pelo economista, o Santander informou  que "o texto citado não corresponde, sob qualquer hipótese, a uma visão da instituição, que restringe suas análises econômicas a variáveis que impactem a vida financeira de seus clientes, sem qualquer viés político ou partidário”.

“O conteúdo trata-se, tão somente, de avaliação feita por uma consultoria independente – que não censuramos e por cujo teor não nos responsabilizamos -, repassada a um grupo restrito de investidores que necessitam embasar suas decisões em diferentes visões do cenário nacional”, afirma ainda a instituição.

Consultoria

O relatório sobre o golpe contra Lula compartilhado pelo economista do Santander partiu CAC Consultoria Política, empresa de análise que trabalha junto ao banco.

Até o momento a consultoria não se manifestou sobre o texto compartilhado pela instituição financeira.

Lucro dobrado

O lucro do Santander no Brasil dobrou para R$ 4,1 bilhões no segundo trimestre de 2021, apesar da grave crise social, de saúde e econômica.

Os excelentes resultados do banco espanhol no Brasil se devem muito às atividades especulativas no mercado de dívida do Tesouro e, também, ao financiamento de grandes empresas agroindustriais dos setores de soja e carne.

Nos dois anos de Bolsonaro na presidência houve recordes de desmatamento e a destruição anual de mais de 11 mil quilômetros quadrados de floresta amazônica, além de milhares de incêndios.

Em contrapartida, durante os anos de Lula na presidência, mais de 30 milhões de brasileiros foram retirados da pobreza e o desmatamento anual caiu 80%.

Veja a íntegra do relatório divulgado pelo economista do Santander

“Brasília, 11 de agosto de 2021 - nº 10464 

Sobre vários tipos de golpe 

Um escritor alemão advertiu que a História, quando se repete, é como farsa e, ontem, o experimento do presidente Bolsonaro para repetir 1964 terminou como farsa, com seus blindados da Guerra do Vietnã e seus generais funcionários. Não há apoio social, nem apoio do establishment, nem radicalismo de esquerda para justificar uma aventura, que terminaria de forma melancólica com algumas prisões. Por fim, não há interesse do sistema político em um regime bolsonarista. 

Dito isso, é preciso reconhecer um problema na eleição de 2022: a perspectiva de retorno ao poder da máquina de corrupção do governo Lula. Basta comparar os esquemas de corrupção do Mensalão e do Petrolão com as aventuras cômicas de reverendos e militares da reserva tentando uma comissão na compra de vacinas pelo governo Bolsonaro. Os recursos desviados pelas máquinas políticas dos governos passados ainda não apareceram. Ou seja, se o sistema político e judicial, se o establishment político brasileiro acha cômico o governo Bolsonaro, o retorno de Lula e seus aliados representa uma ameaça bem mais séria. Hoje, Lira é o presidente da Câmara, mas sob um governo do PT, seria um modesto aliado abrigado em um cargo menor. 

Em suma, ninguém apoiará um golpe em favor de Bolsonaro, mas é possível especular sobre um golpe para evitar o retorno de Lula. Ele era inelegível até outro dia, por exemplo, pode voltar a sê-lo”.

*Atualização: esta matéria foi atualizada em 13/08/2021, às 13h56, para correção de informação. Diferente do que havia sido informado, o relatório enviado a clientes do Santander não foi escrito pelo economista do banco, mas divulgado por ele a clientes da instituição

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