MPF arquiva inquérito sobre suposto tráfico de influência de Michelle Bolsonaro na Caixa

Processo investigava se a primeira-dama usou sua influência para conseguir empréstimos do banco de forma facilitada para amigos

Foto: Agência Brasil
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Depois de rejeitar pedido de investigação sobre os R$ 89 mil depositados em cheques na conta de Michelle Bolsonaro, a Procuradoria da República do Distrito Federal arquivou, nesta terça-feira (25), o processo que investigava se a primeira-dama usou sua influência para conseguir empréstimos da Caixa Econômica de forma facilitada para amigos.

Segundo a "Folha de S. Paulo", em outubro, a Procuradoria da República do DF confirmou que a investigação correria por lá. O MPF, no entanto, explicou que o tema seria apurado dentro do inquérito que já analisava as irregularidades na Caixa.

Em manifestação ao Ministério Público, o banco enviou um ofício negando que tenha existido favorecimento de pessoas próximas à família do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Tráfico de influência

Reportagem de Rodrigo Rangel e Patrik Camporez na revista Crusoé em 2021 revelou que Michelle teria montado um bunker para fazer lobby em Brasília para aliados do governo.

Segundo os jornalistas, que dizem ter obtido documentos do próprio banco, a primeira-dama teria determinado ao presidente da Caixa que concedesse empréstimos “a juros baixos” a um seleto grupo de empresários aliados do governo durante a pandemia. Alguns deles prestam serviços em cerimoniais e atos no Planalto.

“A pedido da sra. Michelle Bolsonaro e conforme conversa telefônica entre ela e o presidente Pedro, encaminhamos os documentos dos microempresários de Brasília que têm buscado crédito a juros baixos”, diz e-mail enviado pela assessora especial da Presidência, Marcela Magalhães Braga, no dia 20 de maio de 2020.

De acordo com a revista, os pedidos geraram um procedimento interno de auditoria na Caixa. Na análise dos processos, as empresas constam como indicadas por “Pessoa exposta politicamente” sob a sigla PEP, como são tratadas os pedidos que partem de pessoas próximas ao poder.

A lista reúne empresários que prestam serviços diretamente à Michelle, como florista, cabelereira e empresários do ramo de moda, ou que atendem a cerimoniais no Planalto, como a doceira Maria Amélia Campos, que obteve, após lobby da primeira-dama, um empréstimo de R$ 518 mil junto à Caixa.

Maria Amélia se notabilizou nas redes sociais ao protagonizar um vídeo em que aparece à frente dos funcionários criticando as medidas de isolamento social contra a Covid-19 no Distrito Federal. “Lockdown não salva, lockdown mata. Governador deixa a gente trabalhar”, diz ela no vídeo.

“O contato com a primeira-dama foi fundamental. É o famoso QI (quem indica) que fala, né? Foi uma parceria com a primeira-dama, ela que deu a força final. Foi a Maria Amélia, amiga da gente, que conseguiu com a primeira-dama. Precisei ir uma vez só na Caixa. Foi fácil conseguir”, disse à reportagem Waldemar Caetano Filho, sócio do salão Luiza Coiffeur, sobre empréstimo obtido por indicação de Maria Amélia à primeira-dama.