CLÃ BOLSONARO

Joias milionárias: Ofício iria descrever como "presente pessoal" a Bolsonaro, mas "deu zica"

Ofício foi preparado antes da fracassada operação para resgatar o conjunto de joias avaliado em mais de R$ 16 milhões da Receita Federal em Guarulhos. Assessores do presidente confirmam versão à PF.

Jair Bolsonaro e o coronel Mauro Cid.Créditos: PR
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Na operação montada às vésperas da fuga de Jair Bolsonaro (PL) aos EUA para não passar a faixa presidencial a Lula, assessores do Planalto deixaram tudo montado para caso as joias no valor de R$ 16,5 milhões dadas pelo governo da Arábia Saudita fossem retiradas da alfândega no aeroporto de Guarulhos fossem imediatamente incorporadas ao "acervo presidente" como "presente pessoal" do ex-presidente.

Em depoimento à Polícia Federal, o 2º tenente do Exército Cleiton Henrique Holzschuk, subordinado ao tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid na Ajudância de Ordens do Gabinete Pessoal do Presidente da República, corroborou a versão que consta em conversas de WhatsApp entre os dias 28 e 29 de dezembro de 2022, que foram incorporadas ao inquérito.

Holzschuk foi incumbido por Cid de armar a operação para resgate das joias e enviou o sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva para a sede da Receita Federal no aeroporto de Guarulhos às vésperas da viagem de Bolsonaro para buscar o conjunto que havia sido apreendido mais de um ano antes.

"Que (...) foi falado pelo tenente-coronel Cid durante as conversas de WhatsApp relatadas que as joias iriam para o acervo pessoal do presidente da República", diz um dos trechos do depoimento de Holzschuk à PF.

Enquanto o sargento da Marinha estava a caminho de Guarulhos, Holzschuk pediu à secretária da Ajudância de Ordens, a militar da Aeronáutica Priscilla Esteves das Chagas de Lima, para preparar a documentação para concluir o trâmite do recebimento de um presente pelo presidente.

Em depoimento à PF, Priscilla confirmou que recebeu a ordem e preparou um ofício que seria incluído no sistema federal antes mesmo que a União tivesse, oficialmente, acesso às joias.

Após ordens superiores, ela montou o documento que relatava que o conjunto de joias havia sido transferido para a "posse do Presidente da República, como presente pessoal e não institucional".

Após a operação fracassada de resgate das joias, Holzschuk enviou áudio à secretaria mandando apagar o documento porque "deu um zica".

"Com relação àquele ofício que a gente fez hoje, sobre esses presentes do PR [Presidente da República], ainda bem que eu não assinei! Porque deu uma 'zica' lá e o Jairo [Jairo Moreira da Silva – sargento da Marinha] não conseguiu pegar esse material, tá certo?", diz ele na mensagem.

"Então, ele [Jairo] tá voltando hoje à noite sem o material, beleza? Aí, na segunda-feira, a gente tem que ver aí como é que faz pra excluir aí o ofício, excluir a documentação que a gente fez com relação ao recebimento desse material, beleza?", emendou, recebendo a resposta da secretaria: "Eita. Eu excluo é tranquilo (SIC). Como não tramitou eu mesmo excluo". "Blz", respondeu ele.