Uma discussão no plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nesta quinta-feira (18), entre os ministros Kassio Nunes Marques e Alexandre de Moraes, que também são integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF), mostrou o nível de contaminação ideológica das instâncias judiciárias brasileiras. O primeiro, notoriamente bolsonarista, passou a fazer considerações tentando relacionar o PT ao crime organizado e, por consequência, ao caso Celso Daniel, o prefeito de Santo André assassinado em 2002.
A conversa deu-se no contexto de um julgamento da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), que antes do primeiro turno das eleições do ano passado saiu propagando a velha e já batida fake news de que o PT teria conexão com o homicídio do político, o que foi reverberado e espalhado naquele momento pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). O crime foi investigado à exaustão pela Polícia Civil de São Paulo, sob comando, por décadas, do PSDB, uma sigla arquirrival do PT. As investigações também foram federalizadas, em certa altura, e nunca ficou estabelecido qualquer resquício de verdade em relação à teoria citada por Nunes Marques.
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“Eu acredito que, à época dessas declarações, ainda havia inquérito em tramitação sobre o assunto”, disse o ministro bolsonarista. No entanto, Moraes o interrompeu e advertiu imediatamente. “Não, não. Já havia sido encerrado há alguns anos, eu inclusive era secretário de Justiça, foi lá atrás”, falou o presidente do TSE.
Diante da insistência na tese sem sentido, querendo claramente criar um fato político e instigar as falanges extremistas que veneram o ex-presidente de extrema direita, foi necessário que Moraes interviesse novamente, desta vez com mais informações sobre o caso.
“Desculpe, ministro Kassio. Isso já está encerrado em São Paulo, até porque não há ninguém com foro privilegiado em relação ao assassinato ocorrido em Santo André. Não consta que nenhum deputado ou senador tenha participado”, completou Moraes.
Como um adolescente impertinente, Nunes Marques seguiu dizendo que se referia a “aspectos em relação ao partido com o crime organizado”, uma outra história que se tornou uma espécie de “lenda urbana” nas redes, uma vez que em mais de 20 anos jamais houve qualquer fato que revelasse ligação entre o PT e o Primeiro Comando da Capital (PCC), a organização criminosa mais influente do país.
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