“A institucionalidade é uma prisão mental”, diz o professor Luis Felipe Miguel

“Eleger um Congresso de esquerda é bacana. Mas a composição do parlamento não é o único dado, nem o mais importante. O fato é que o capital nunca deixa de fazer sua pressão extra-institucional sobre o poder político”, diz o cientista político

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[caption id="attachment_134440" align="alignnone" width="1024"] Foto: Reprodução/YouTube[/caption] O cientista político Luis Felipe Miguel, professor da Universidade de Brasília (UnB) postou, em sua página no Facebook, um texto, no qual debate sobre a questão da institucionalidade. Acompanhe o texto: A institucionalidade é uma prisão mental. Ela produz “um” mundo e nos impele a tratá-lo como se fosse “o” mundo. Daí tantos bacharéis em Direito que acham que, já que conhecem a lei, conhecem o mundo. E daí tanta gente boa que acha que a luta política é equivalente à luta por votos e por cargos. Tenho repetido que não vamos conseguir reverter o golpe e avançar na construção de um país menos injusto e menos violento se não recuperarmos a capacidade de pressão do movimento popular. O que mais ouço, como resposta, é: – Mas com esse Congresso não dá! O fundamental é eleger deputados mais progressistas! Eleger um Congresso de esquerda é bacana (embora muito improvável). Mas a composição do parlamento não é o único dado, nem o mais importante. O fato é que o capital nunca deixa de fazer sua pressão extra-institucional sobre o poder político. Numa sociedade capitalista, esta pressão está na “natureza das coisas”, por assim dizer. E, quando necessário, as corporações não deixam de mobilizar expressamente seus recursos, em público ou nos bastidores. Se nós, do lado de cá, julgarmos que tudo se limita a fazer campanha e a delegar a decisão a fulano ou beltrano, é claro que o jogo já está perdido desde o começo. Aliás, a metáfora do jogo também contribui para isso. O foco na eleição permite que a gente veja a política como um campeonato. Em outubro saberemos quem leva o troféu. Aos perdedores resta repensar a tática e renovar o plantel, à espera do novo torneio. Mas a política não é isso (felizmente, eu diria). O nosso fechamento mental nessa institucionalidade é um efeito ideológico proposital da domesticação do conflito pela competição eleitoral – que foi uma conquista histórica dos dominados, mas é também uma forma muitíssimo limitada de democracia, com fortes vieses que beneficiam a expressão dos interesses dos grupos mais poderosos e a reprodução das relações de dominação existentes. Precisamos lutar contra ele, para melhorar nossas condições de lutar pela transformação do mundo.