"Bolsonaro é efeito da ditadura", diz Márcia Tiburi, que lança vídeo "1º de abril" com pinturas de generais

"A arte é uma reposta democrática a uma situação não democrática e, no caso da comemoração da ditadura, uma situação também aviltante e desumana", disse Márcia Tiburi à Fórum

Márcia Tiburi e seus quadros de ditadores (Montagem)
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Autoexilada na França após sofrer ameaças ao se candidatar à governadora do Rio de Janeiro em 2018 pelo PT, a filósofa e escritora Márcia Tiburi segue atenta aos arroubos autoritários de Jair Bolsonaro. No projeto "Olhos Abertos", que desenvolve ao lado da pesquisadora Junia Barreto, lançou o manifesto "Brasil, Primeiro de Abril" - "Infelizmente, no país da piada pronta, o Primeiro de Abril perdeu a graça em Primeiro de Abril de 1964" - e o vídeo "Primeiro de Abril - Brasil, piada pronta".

No vídeo, Márcia Tiburi revela seu lado artista, com pinturas que retratam ditadores do regime militar - apresentados sob seus célebres bordões - e o genocida Jair Bolsonaro, que hoje ocupa o Planalto. "Bolsonaro é efeito da ditadura", disse à Fórum nesta quinta-feira, 1º de Abril.

O vídeo, em que são reveladas as pinturas, tem como trilha sonora "Deus lhe pague", canção composta por Chico Buarque em 1971, mas que serve como uma luva para os dias atuais.

"A arte é uma reposta democrática a uma situação não democrática e, no caso da comemoração da ditadura, uma situação também aviltante e desumana", afirmou Márcia, que começou a desenhar o projeto quando Bolsonaro ganhou na Justiça o direito de comemorar o golpe de 64 - agora colocado como "ordem do dia" pelo ministro da Defesa, Walter Braga Netto.

Para ela, Bolsonaro se mantém no poder com o apoio dos militares e, quanto ao futuro, diz que muita coisa acontecerá até 2022 para, caso Lula seja eleito, poder retomar o projeto social e democrático do Brasil.

"Nosso dever ético nesse momento é também o nosso dever histórico: resistir", destacou.

Leia a entrevista na íntegra e assista ao vídeo no final

Fórum: Como se deu o projeto "De Olhos Abertos" e qual o objetivo com as pinturas e o vídeo Primeiro de Abril?
Márcia Tiburi: Quando Bolsonaro ganhou na justiça o direito de celebrar o dia da ditadura, logo vi que ele usaria o 31 de março. Mas todos sabem que o dia do golpe de 64 foi Primeiro de abril. Como tenho trabalhado com a ditadura no meu projeto de artes visuais, fazendo retratos de governantes e torturadores, comentei com Junia Barreto e decidimos criar esse vídeo. A revista Sens Public, que é franco-canadense, e a Cult resolveram apoiar o trabalho e o vídeo está aí.

Fórum: De que forma você vê o incentivo por parte do governo Bolsonaro para "comemorar" a ditadura?
Márcia Tiburi: A arte é uma reposta democrática a uma situação não democrática e, no caso da comemoração da ditadura, uma situação também aviltante e desumana. Bolsonaro tem um projeto de humilhação e matança da população brasileira e estamos aqui para denunciar e fazer todo o esforço para resistir diante dessa violência.

Fórum: Acredita que, mesmo com a demissão dos três comandantes das FFAA, ainda há uma espécie de conluio entre militares e Bolsonaro para manter o governo?
Márcia Tiburi: Me parece evidente. E nosso vídeo busca mostrar como há uma afinidade de propostas entre o regime militar e o que vemos hoje. Bolsonaro é efeito da ditadura.

Fórum: Bolsonaro e os militares aceitariam a eleição de Lula em 2022?
Márcia Tiburi: Creio que muita coisa acontecerá até lá. Nosso dever ético nesse momento é também o nosso dever histórico: resistir. E nessas horas a arte vem nos socorrer. Não é à toa que buscamos uma música do Chico Buarque para esse vídeo. A música é de 71, no ápice daquilo tudo.

https://youtu.be/2i4HwgB-2m4