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Por Manuela Ferraro, do Projeto Colab Fórum Eleições 2018
Nas eleições deste ano, 133 candidatos se autodeclararam indígenas junto ao Tribunal Superior Eleitoral. O número é 46% maior que o de 2014. Pela primeira vez, há indígenas concorrendo a cargos da Presidência. E segundo a Associação Nacional de Ação Indigenista, estima-se que 700 mil índios comparecerão às urnas no próximo domingo (7).
Mas nem todos os presidenciáveis trazem propostas paras as questões indígenas nos planos de governo enviados ao TSE. Guilherme Boulos (PSOL), Marina Silva (REDE) e Fernando Haddad (PT) são os que apresentam maior número de medidas. Bolsonaro (PSL), Álvaro Dias (Podemos), João Amoêdo (NOVO), Henrique Meirelles (MDB), José Maria Eymael (DC) e Cabo Daciolo (Patriota) não fazem nenhuma menção às comunidades. Os outros candidatos fazem apenas menções genéricas às demarcações de terras.
Qual é o papel do presidente
O Presidente da República é responsável pela homologação - a validação jurídica - da demarcação de terras, ou o reconhecimento dos limites dos territórios dos povos originários. Essa é a última etapa de um processo que envolve a presidência, a Funai, o Incra e o Ministério da Justiça. Segundo esse dôssie do Instituto Socioambiental (ISA), havia, em maio deste ano, cinco processos parados na Casa Civil, aguardando assinatura presidencial.
Mas o Chefe do Executivo também nomeia quem ocupa cargos fundamentais para as políticas indigenistas, como o presidente da Funai e os ministros da Justiça, da Saúde e da Educação. O orçamento repassado a esses órgãos é planejado pela Presidência e enviado para aprovação no Congresso.
Os últimos governos
As 717 terras indígenas representam quase 13% do território brasileiro, mas 33% delas ainda não completaram o processo de demarcação. Alguns deles estão em curso há mais de dez anos. Entretanto, o número de terras homologadas vêm diminuindo nas últimas duas décadas. Enquanto Fernando Henrique Cardoso assinou 145 decretos, Lula homologou 87 e Dilma aprovou 21, Michel Temer conclui apenas 1 processo de demarcação.
“O governo de Dilma já não era tão simpático a política de demarcação de terras. O governo interino é menos ainda”, afirma o antropólogo José Augusto Sampaio, presidente da Associação Nacional de Ação Indigenista. As terras restantes são as de situação mais complicada, que sofrem maior resistência do setor agropecuário, explica Sampaio.
O governo Michel Temer
O candidato empossado em 2019 terá que lidar também com algumas medidas concretizadas do governo atual. Desde o início do governo de Michel Temer, o Planalto pressiona pela construção de uma linha de energia elétrica que atravessaria os territórios do grupo indígena Waimiri-Atroari ligando Roraima ao resto do país. A estatal de energia Eletronorte ameaça retirar o subsídio que dá ao Programa Waimiri-Atroari, se a comunidade não concordar com as obras.
Criado em 1987 para compensar o impacto da construção da hidrelétrica de Balbina (AM) na comunidade, o programa foi responsável por estancar o alto nível de mortalidade no grupo. Estima-se que a iniciativa perderá R$ 18 milhões em quatro anos com o convênio rompido.
Outra medida polêmica é o Parecer 001/2017 da Advocacia Geral da União aprovado por Temer em 20 de julho de 2017. Esse parecer torna legal a tese do “marco temporal”, segundo a qual só podem ser demarcadas terras que estavam sob a posse de grupos indígenas em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. O Ministério Público Federal e as lideranças indígenas pedem a revogação imediata da medida, alegando que a tese trava os processos de demarcação de terras.
Os planos
Abaixo, é possível ver como cada um dos 13 candidatos à Presidência se posiciona sobre as necessidades dos povos indígenas. A lista segue a ordem de desempenho dos candidatos na pesquisa Datafolha de 28 de setembro.
1) Jair Bolsonaro
O candidato do PSL não menciona os povos indígenas em seu programa de governo. Entretanto, o militar da reserva já se posicionou em discursos públicos. Em um evento do Clube Hebraica no Rio de Janeiro em abril de 2017, declarou que, caso eleito, não haverá mais “um centímetro demarcado para reserva indígena”. Segundo o candidato, essas terras escondem riquezas e atrapalham a economia.
De acordo com o G1, Bolsonaro defendeu em 2015 a integração dos índios aos “brancos”. Seu vice, General Mourão (PSL), afirmou no mês passado que o Brasil herdou sua “indolência” dos índios, embora tenha se autodeclarado indígena junto ao TSE.
2) Fernando Haddad
O plano de governo do candidato do PT menciona as comunidades indígenas nos tópicos sobre igualdade racial, reforma política, proteção da Amazônia e no ponto sobre os povos do campo, das florestas e das águas. O programa afirma que junto com os quilombolas, indígenas são “minoria esquecida” do país e que é necessário enfrentar a violência genocida contra os povos originários.
O programa defende que a demarcação de terras é usada como moeda de barganha política por Michel Temer.
As propostas de Haddad:
- Articulação da administração direta e das empresas estatais contra o genocídio dos povos originários
- Implementação de ações afirmativas nos serviços públicos
- Reconhecimento e demarcação de terras indígenas
- Cotas de representatividade de listas partidárias
- Fortalecimento do Sistema Único de Assistência Social
- Combate à impunidade e à criminalização de movimentos sociais
- Regularização fundiária de terras indígenas
- Expansão do acesso das comunidades indígenas a escolas técnicas
- Demarcação de terras
- Consulta prévia nas comunidades sobre ações de uso de seus conhecimentos ou de licenciamento ambiental
- Programas educacionais adaptados para as necessidades indígenas
- Direcionamento de recursos de ciência e tecnologia para iniciativas dos povos tradicionais
- Investigação e punição de violações de direitos humanos indígenas
- Ações de inclusão de indígenas na magistratura e no serviço público
- Eleições para o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho Nacional do Ministério Público com critérios de inclusão de indígenas
- Pedir perdão aos povos indígenas pelo etnocídio nunca interrompido
- Reforma política com instituição de cotas para indígenas nas chapas proporcionais e majoritárias e distribuição de fundo partidário proporcional
- Revisão do material didático que reproduz concepções racistas ou discriminatórias
- Reconhecimento, homologação, demarcação e regularização imediata de todas as terras indígenas, com os devidos pagamentos
- Acabar com o fisiologismo ruralista e a ingerência política na FUNAI
- Investimento de orçamento e de pessoal no órgão para a conclusão dos trabalhos técnicos de identificação e delimitação das terras indígenas.
- Articulação da Funai, Ibama, Incra, PF, PRF e Exército para desintrusão e proteção de terras indígenas demarcadas.
- Estímulo a programas de cooperação agrícola as famílias assentadas, pequenos agricultores, agricultores familiares, povos indígenas, comunidades quilombolas e comunidades tradicionais de diferentes regiões
- Apoiar sua produção cultural
- Reversão dos cortes do governo Temer na bolsas de estudantes indígenas e ampliação dessas bolsas
- Construção da primeira universidade indígena do Brasil
- Promoção dos jogos Nacionais e Mundiais dos Povos Indígenas a cada dois anos