Fernando Haddad: “Candidatura de Lula será levada até as últimas consequências”

“Como é que você vai aceitar passivamente? Não estamos falando de uma sentença transitada em julgado. Estamos falando de uma sentença de segunda instância, que cabe recurso”, afirmou o ex-prefeito de São Paulo e coordenador do programa de governo do ex-presidente.

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“Como é que você vai aceitar passivamente? Não estamos falando de uma sentença transitada em julgado. Estamos falando de uma sentença de segunda instância, que cabe recurso”, afirmou o ex-prefeito de São Paulo e coordenador do programa de governo do ex-presidente. Da Redação* A apenas uma semana do julgamento que pode ser decisivo para o futuro político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro Fernando Haddad (PT) disse, em entrevista ao UOL, que a candidatura de Lula deve ser levada “até as últimas consequências”. Ajude a Fórum a fazer a cobertura do julgamento do Lula. Clique aqui e saiba mais. Haddad é o responsável pela coordenação do programa de governo da candidatura do ex-presidente. No dia 24, Lula será julgado em segunda instância no chamado processo do triplex, da Operação Lava Jato. Em caso de condenação, pode se tornar inelegível ou até mesmo ter sua prisão ordenada. O ex-prefeito paulistano já chegou a ser citado no noticiário como possível “plano B” do PT, caso Lula não possa concorrer, o que nenhuma liderança do partido reconhece publicamente. Quando perguntado se não é arriscado para a sigla não ter uma alternativa, se a candidatura de Lula for barrada na Justiça Eleitoral, Haddad afirmou que a estratégia de insistir no nome do ex-presidente é correta. “Acredito que a estratégia correta é levar essa discussão até as últimas consequências. Porque como é que você vai aceitar passivamente? Primeiro, cabe recurso. Não estamos falando de uma sentença transitada em julgado. Estamos falando de uma sentença de segunda instância, que cabe recurso”, afirmou. Haddad se disse convencido de que “não há evidência de crime, muito menos provas” contra Lula no caso do tríplex. “Por que vamos deixar de defender uma pessoa em que tanta gente confia?”, disse. “Não é razoável ganhar uma eleição presidencial por W.O.”. Haddad negou que o fato de Lula ser mais uma vez o candidato presidencial do PT seja um sinal de falta de renovação dos quadros do partido, e citou petistas eleitos nos últimos anos para governos estaduais e prefeituras de grandes cidades. Entretanto, o ex-ministro disse que a falta de renovação é um problema de todas as siglas políticas. Segundo o ex-prefeito, esse processo foi interrompido pela “desconfiança generalizada” da população, fator que por sua vez daria espaço à ideia de “outsiders”, candidatos de fora do meio político. Para ele, essa ideia tem a ver com a “ilusão de imaginar” que um “salvador da pátria” seria confiável, e isso não funcionaria porque “a crise é muito aguda”. “Essa crise não é para amador. Para mim, ganhar ou perder eleição, é do jogo democrático. Mas, dependendo de para quem você perder, é o seu país que está em jogo. Se entrar uma pessoa inexperiente neste momento, uma pessoa que não domine o assunto, nós vamos estar numa situação muito difícil. Porque não é trivial o que o Brasil está passando. Nós temos tarefas importantes pela frente”, analisa. Segundo Haddad, o diagnóstico não é “julgamento de valor sobre um ou outro candidato”, mas uma defesa de que “a tarefa é para profissional, gente talhada para a função”. “Não é possível presidir a República na situação atual sem bagagem. Você não tem gordura para queimar. Você não tem margem de erro. Não existe margem de erro. Você tem que acertar todas para tirar o país dessa situação. Por muito tempo. Então é preciso cautela. Nós não podemos nos aventurar”. Desmentido Haddad voltou a negar que será candidato este ano e disse que se dedicará exclusivamente à elaboração do programa de governo para a campanha de Lula. Quando perguntado se pensa em ser presidente da República um dia, o ex-ministro considerou que responder a questão seria “arrogante”. “Não funciona assim na prática. O que teve de gente que quis ser [presidente], que se achava predestinado a ser e terminou mal, né?”, disse. “Acho um pouco arrogante demais responder a uma pergunta dessa. O que não significa que você não possa ter suas ambições políticas. Mas, nesse plano, eu acho que é um processo histórico de outra natureza. Que envolve ambições pessoais, mas está muito além de um desejo de vida”. Nova carta Haddad confirmou que uma nova “Carta ao povo brasileiro”, assinada por Lula, deve ser divulgada em fevereiro. Nas eleições de 2002, Lula divulgou uma mensagem com este título, que, na verdade, buscava acalmar o mercado financeiro - em polvorosa às vésperas de sua primeira vitória nas urnas - e garantir que assumiria compromissos macroeconômicos. O ex-ministro não detalhou o conteúdo da nova versão da carta. Disse apenas que será “endereçada à população em geral com alguns compromissos importantes e factíveis para o próximo período” e que deve tocar em pontos que os governos do PT não resolveram “do ponto de vista estrutural”. Haddad também não se aprofundou em possíveis temas do programa de governo, mas citou três que estão em debate: envolvimento federal no ensino médio, situação fiscal dos Estados e segurança pública. Segundo o ex-ministro da Educação nos governos Lula e Dilma, o ex-presidente quer que “no programa de governo conste textualmente, claramente, uma forma de parceria de intervenção da União no ensino médio para resgatar a educação da juventude”. Haddad também mencionou que, ainda este mês, a equipe do programa de governo deve discutir a situação fiscal dos Estados para levar uma proposta a Lula. “Na verdade, os Estados não têm política. A responsabilidade pela segurança pública é dos Estados. Na minha visão, nem partidário o problema é. Todos os governadores estão na mesma situação”, disse. O ex-prefeito falou ainda da necessidade de definir propostas para a segurança pública, um tema que “era estranho ao governo federal”. “Nós vamos ter que ter algumas diretrizes, vamos ter que entrar no debate sobre política carcerária, sobre política pública de segurança, sobre como é que organiza as polícias”, declarou. “Temos praticamente o primeiro semestre inteiro [para elaborar o programa]. Nós vamos fazer caravanas programáticas, presenciais. Vamos fazer encontros virtuais, usar as plataformas virtuais para fazer oitivas da população, inclusive com a presença do presidente Lula”, disse. “Vai ser muito participativo e nós queremos usar, como instrumento de mobilização, a formatação do programa”. *Com informações do YOL Foto: YouTube