Gilmar Mendes: “Em um momento houve canonização da Lava Jato”

“Qualquer decisão contra a ação do Moro era considerada antirrepublicana, antipatriótica ou ‘antiqualquercoisa’, o que é uma bobagem”, criticou o ministro do STF

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[caption id="attachment_136216" align="alignnone" width="580"] Foto: Agência Brasil[/caption] Durante passagem por Londres, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu suas decisões em que revogou prisões ordenadas por juízes de primeira instância da Lava Jato. Além disso, declarou que houve um momento de “canonização” da operação no País, em que qualquer questionamento a ela era considerado “antirrepublicano”, disse, em entrevista à Célia Froufe, do Estado de São Paulo. O ministro destacou, ainda, que a lei de abuso de autoridade é uma das coisas nas quais o Brasil precisa “pensar” para os próximos anos. “Em um momento houve a canonização da Lava Jato. Então, qualquer decisão contra a ação do (juiz Sergio) Moro era considerada antirrepublicana, antipatriótica ou ‘antiqualquercoisa’, o que é uma bobagem”. Gilmar está na capital inglesa para participar de um seminário na Universidade de Londres e no qual falou sobre os 30 anos da Constituição brasileira. “A Lava Jato começou a pensar que era uma entidade, quis legislar, mudar habeas corpus e outras coisas. Depois se viu que eles eram suscetíveis a problemas sérios e que a corrupção estava ali perto, como o caso (do ex-procurador Marcello) Miller”, afirmou Gilmar, em referência ao ex-procurador da República que, na semana passada, se tornou réu por supostamente atuar como advogado do Grupo J&F quando ainda integrava o Ministério Público Federal. O ministro também criticou procedimentos adotados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal não só na Lava Jato como também na Carne Fraca e Satiagraha – operações em que foi questionado por ter revogado decisões expedidas pela primeira instância. Sobre isso, Gilmar disse estar “muito tranquilo”. “Nunca houve uma decisão minha que não fosse confirmada pela turma ou pelo pleno”. O magistrado defendeu a reformulação da lei que trata de abuso de autoridade no País. Neste caso, fez referência ao trabalho do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, responsável pela negociação e assinatura de acordos de delação premiada de ex-executivos do Grupo J&F, material que fundamentou duas denúncias contra Michel Temer. “O doutor Janot, de fato, queria derrubar o presidente para isso? Então foi a primeira tentativa de golpe que se fez em 30 anos vinda não de militares”, disse Gilmar. “Não estou falando que não é para investigar, não. Agora, faça direito”, afirmou. “Isso é também uma coisa na qual precisamos pensar para os próximos 30 anos: lei de abuso de autoridade, responsabilidade”, afirmou.