PF diz ao STF que Bolsonaro usou "gabinete do ódio" para espalhar fake news em lives

Documento traz resumo da investigação feita pela corporação sobre as milícias digitais e foi feito para informar sobre o início da licença-maternidade da delegada responsável pelo caso

Bolsonaro em live | Reprodução/Facebook
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A Polícia Federal enviou um relatório ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (10) em que relaciona duas transmissões feitas por Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais à atuação do "gabinete do ódio", que tem como objetivo espalhar notícias falsas e atacar adversários do presidente.

De acordo com a delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro, que está à frente de outras apurações contra Bolsonaro, a milícia digital apresentou dados falsos sobre fraudes nas eleições de 2014 e vazou dados de um inquérito policial que apurou fraudes eleitorais.

No documento, que traz um resumo da investigação e foi feito para informar sobre o início da licença-maternidade da delegada, ela cita outras disseminações de fake news por parte do gabinete do ódio, como a promoção da hidroxicloroquina/cloroquina e azitromicina no tratamento da Covid-19 - os medicamentos não têm eficácia contra a doença.

A delegada pede, ainda, a Alexandre de Moraes, a continuidade das investigações sobre as milícias digitais.

"Gabinete do ódio" e seu modus operandi

Para os investigadores da Polícia Federal, o "gabinete do ódio" trata-se de um “grupo que produz conteúdos e/ou promove postagens em redes sociais atacando pessoas (alvos) – os 'espantalhos' escolhidos – previamente eleitas pelos integrantes da organização, difundindo-as por múltiplos canais de comunicação”.

A investigação mapeou o modus operandi da suposta organização criminosa para atacar, além de adversários políticos, ministros do STF e integrantes do governo, “tudo com o objetivo de pavimentar o caminho para alcance dos objetivos traçados (ganhos ideológicos, político-partidários e financeiros)”.

Segundo a apuração, o grupo age buscando disseminar “alto volume” de informações em diversos canais, levando à “variedade e grande quantidade de fontes”, “de maneira rápida, contínua e repetitiva, focada na formação de uma primeira impressão duradoura no receptor, a qual gera familiaridade com a informação e, consequentemente, sua aceitação”.

O relatório aponta que os conteúdos não têm “compromisso com a verdade” ou com “a consistência do discurso ao longo do tempo (uma nova difusão pode contrariar absolutamente a anterior sem que isso gere perda de credibilidade do emissor)”.

Augusto Heleno fez reuniões com 300 do Brasil

O relatório enviado ao STF pela PF conta, também, com um depoimento do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, general Augusto Heleno, em que ele declara ter feito ao menos uma reunião com o grupo extremista 300 do Brasil.

Segundo o jornal "Estado de S. Paulo", em dezembro do ano passado, o ministro-militar disse ter mantido contato temporário com os ativistas porque “vislumbrava possibilidade de conflito”.

Segundo Heleno, as “ações hostis” dos 300 do Brasil “contra jornalistas que acompanhavam o dia a dia do presidente” não eram de interesse do governo. O ministro disse então ter decidido promover uma reunião em seu gabinete no GSI para mitigar tais atos.

No encontro, que durou aproximadamente uma hora, os militantes teriam mencionado o interesse em adotar “posturas contra o STF”, mas o general disse à PF ter desaconselhado qualquer tipo de ação contra a instituição.

Além do grupo extremista, o ministro disse ter recebido em seu gabinete o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, mas não lembra do que teriam tratado naquela ocasião. Segundo Heleno, o influenciador – atualmente foragido nos Estados Unidos – “era uma pessoa que tinha acesso ao presidente”.

* Com informações do Radar, da Veja