Manuela D’Ávila: “Não há candidato de centro, precisamos desmascarar o PSDB”

Pré-candidata pelo PCdoB, a deputada disse que “teremos candidaturas que defendem o desenvolvimento do Brasil ou candidaturas que defendem a entrega do país”

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[caption id="attachment_126289" align="aligncenter" width="600"] Candidata à deputada estadual Carina Vitral, candidato a deputado federal Orlando Silva, Manuela e Lecy Brandão: lideranças do PCdoB, durante encontro em São Paulo - Foto: Portal Vermelho[/caption] Por Joana Rozowykwiat, do Portal Vermelho Em encontro com amigos e militantes do PCdoB em São Paulo, a pré-candidata do partido à presidência da República, Manuela D’Ávila, defendeu que é preciso “desmascarar” o PSDB, que tenta se apresentar como uma força de centro nas eleições deste ano. “Hoje não existe candidatura de centro. Nós teremos nessa eleição candidaturas que defendem o desenvolvimento do Brasil ou candidaturas que defendem a entrega do país”, disse. Em evento realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo, na noite desta segunda-feira (26), Manuela se disse feliz em ser recebida por militantes que fazem oposição à gestão tucana no Estado e sabem que Geraldo Alckmin “não representa o centro” político. “Temos que desmascarar o PSDB paulista, o tucanato que diz que será uma opção de centro nas eleições”, discursou. Estiveram presentes várias lideranças do parido, como Carina Vitral, candidata à deputada estadual; Orlando Silva, candidato a deputado federal; Lecy Brandão, deputada estadual, entre outras. Segundo ela, as candidaturas “do lado de lá” se unem programaticamente, em torno de ideias que são “anti-Estado para os pobres e ultra-Estado para tolher os direitos individuais”. Na sua avaliação, os conservadores querem o “Estado máximo para nos oprimir individualmente e o Estado mínimo para garantir o lucro dos poderosos”. “A direita hoje é anti-mulheres, anti-negros, anti-liberdade religiosa, anti-cultura popular”, disse. Para a deputada, o Brasil precisa construir uma saída para a crise que enfrente os interesses de banqueiros e se alie ao setor produtivo, negando o “receituário dos que se unem ao 1% que lucra com o rentismo e ignora o povo”. A pré-canditada destacou a decisão de seu partido de lançar seu nome com o objetivo de debater alternativas para enfrentar as crises política e econômica. Ela resgatou que, nas décadas de 50 e 60, o país vivenciou um ciclo de esperança no desenvolvimento nacional, que terminou interrompido por um golpe. “Depois, retomamos um momento de muita expectativa, quando Lula mostrou ao mundo que era possível reduzir a miséria e enfrentar a pobreza e criou algumas políticas muito importantes, como foi o ProUni. Esse ciclo também foi interrompido por um golpe, que passa pela judicialização da política, pela construção de um impeachment sem crime de responsabilidade”, afirmou. Manuela ressaltou que o golpe não se resumiu a tirar Dilma do Rousseff do governo e tem continuidade com a implementação de medidas que significam retrocessos para a maioria da população, casos da reforma trabalhista e da Emenda Constitucional 95, que congelou os gastos públicos por 20 anos. “A diminuição do Estado é cruel para todos, mas mais ainda para as mulheres. Num país em que as mulheres que são mães recebem 70% a menos que os salários dos homens, dizer que não ampliaremos investimentos em educação infantil, é dizer que as mulheres ficarão alijadas da volta ao mercado de trabalho”, apontou. Em uma mesa composta por parlamentares, dirigentes partidários e dos movimentos sociais, Manuela disse que a sua pré-candidatura emerge da diversidade contida no PCdoB, que ela exemplificou ao citar as presenças ali dos deputados Orlando Silva e Leci Brandão. “Nós somos um partido que, na vida real e não no discurso, pratica uma política exercida pela maioria do povo, por mulheres e negros. Nesse momento, a diversidade brasileira deve se expressar no debate sobre os rumos do país. Precisamos dizer que os direitos sociais dos trabalhadores e os nossos direitos individuais estão ameaçados por essa gente que entrega o país”, indicou. Segundo ela, um dos nortes da sua pré-candidatura é a ideia de que é preciso retomar a capacidade de investimento do Estado. “Nosso partido entende que o Estado tem papel importante na retomada do crescimento da economia e é preciso financiar isso com uma reforma tributária progressiva, que cobre mais impostos dos multimilionários brasileiros. O povo paga muito imposto no seu arroz e seu feijão, e os multimilionários pagam impostos pequeníssimos sobre suas mansões e carros de luxo”, discursou. A deputada analisou, contudo, que não há como desenvolver o país sem enfrentar temas sociais, como a desigualdade entre homens e mulheres. “De cada mil jovens brasileiros, só 22 optam por áreas afeitas à inovação. Desses, só um é mulher. Ou enfrentamos esses temas ou não iremos nos desenvolver nesse tempo”, afirmou. Para Manuela, não há contradição entre defender o desenvolvimento e o direito das mulheres, dos negros, da população LGBT etc. “Não existe nação sem povo. Não há povo sem diversidade e não há projeto de desenvolvimento que seja justo se não combater as desigualdades econômicas e sociais, porque o capitalismo nos oprime a partir de quem nós somos”, declarou. No momento em que o país assiste à militarização ao improviso tomarem conta da política de segurança nacional, a deputada alertou para a importância de a esquerda pensar e agir em relação ao assunto. “Vamos entregar essa pauta à extrema direita, que defende a ausência do Estado e o armamento da população? Vejam o exemplo dos Estados Unidos. Trump propôs armar os professores. Essa é a discussão deles”, criticou. De acordo com ela, a esquerda deve se contrapor a essas posições, compreendendo que “não se faz política de segurança sem polícia”. “E precisamos ter polícias que dialoguem com a o povo pobre. Não podemos ter polícia como a de São Paulo, que mata 2,5 por dia. Precisamos de polícia que olhe na cara do povo e seja parceira do povo na construção da paz”, propôs. Para isso, ela pregou uma ação organizada de governos centrais. “Precisamos garantir que haja uma autoridade nacional de segurança pública, que tenha capacidade de investigar, com ouvidoria e inspetoria. Para que o nosso povo confie na polícia. E a polícia tem que entender que está aqui para proteger nosso povo”. Manuela afirmou ainda que é preciso enfrentar o tema de tributação das drogas, inclusive para cogitar a hipótese de investir essa tributação na reparação aos danos causados pela guerra do tráfico. Na parte mais política de sua fala, Manuela ressaltou a importância de perceber que o ataque da direita não é a Lula e ao PT, mas à esquerda e seu projeto. “A judicialização da política e o esforço para retirar Lula da disputa se relacionam com as características que a direita constrói para enfrentar a crise do capitalismo no mundo: a democracia e o voto não são mais importantes para essa gente”. A pré-candidata afirmou que a postura que cada militante tem em relação às outras postulações da esquerda deve se pautar por esta percepção. “Não é momento de trocar farpa, de nos dividirmos. Temos trajetórias diferentes. O Ciro é respeitadíssimo, foi excelente governador, deu uma grande contribuição ao governo do presidente Lula. O Haddad, o Lula, os nomes do PT são todos de companheiros com quem andamos juntos. O Boulos é parceiro nosso no movimento social”, enumerou. “Enquanto a unidade não se dá em torno de uma única candidatura, ela deve se dar pelos laços que fazem com que sejamos um campo político. Precisamos preservar os vínculos. O PCdoB fez um esforço grande para que tivéssemos um programa mínimo comum para a retomada do crescimento, não podemos cair em disputas menores. Defendemos a unidade, para que possamos estar juntos no segundo turno. E essa unidade não pode ser artificial, tem que ser do povo que milita e resiste junto ao desmonte do Estado”, colocou.

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