Médicas que protestaram contra Dilma participam de panelaço anti-Bolsonaro: "Começou a cair a ficha"

"Ele debochou dos médicos e da saúde pública", disse à BBC Juliana Pacheco, que complementou: "Minha maior preocupação é em relação aos meus colegas médicos"

As médicas Natália Freire e Juliana Pacheco, que bateram panela contra Bolsonaro (Reprodução)
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Médicas que participaram dos protestos contra a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) e votaram em Jair Bolsonaro participaram dos panelações promovidos na noite desta quarta-feira (19) em todo o país que pedem o impeachemnt do atual mandatário.

"É um momento em que precisamos ter pessoas serenas na governança do país e a gente não tem. O pessoal começou a cair a ficha mesmo", disse à BBC Brasil a cirurgiã Juliana Pacheco, que bateu panela na capital paulista.

Eleitora de Bolsonaro em 2018, ela disse ter mudado de opinião quando o presidente compareceu ao ato do dia 15 de março e cumprimentou diversos seguidores pouco tempo depois do Ministro da Saúde ter aconselhado as pessoas a evitarem aglomerações.

"Muitas pessoas ainda têm receio de aderir às medidas sanitárias de urgência porque ele criou essa narrativa de que não é nada demais, de que é histeria. Porque apesar de ele negar, ele incentivou sim, quando foi lá e quando disse que o povo é valente (por ir às ruas). Ele debochou dos médicos e da saúde pública", afirma Juliana, que complementou: "Minha maior preocupação é em relação aos meus colegas médicos, enfermeiros, profissionais de saúde".

De Bragança Paulista, no interior de São Paulo, Natália Freire também participou do panelaço

"A postura dele frente à pandemia, só posso dizer que é um absurdo. Me parece que ele não tem consciência mesmo do nível de influência que ele tem sobre as pessoas. Parece que nem imagina o quanto sua opinião ou seu comportamento influencia a nação e o mundo. Se ele sabe e continua fazendo, é digno de uma avaliação psiquiátrica mesmo", diz.

Natália diz que foi às ruas em 2016 contra Dilma e Lula por achar que o ex-presidente petista é "um dos piores bandidos que tem no Brasil".

"Ele mente muito, ele manipula muito e, naquela época, e antes, para colocar a Dilma, ele incentivou muito o ódio entre as classes sociais, entre sudeste e nordeste", diz ela, que afirma reprovar Bolsonaro da mesma forma. "Eu não gosto de nenhum dos dois", afirma ela.

Já a médica paulista Elisa Freitas, que fez campanha para Bolsonaro em 2018, diz que foi "obrigada a bater panela".

"Eu já não gostava da grosseria, dos discursos, mas achei que o Bolsonaro teria políticas melhores do que o PT porque tinha um bom time, como o Sérgio Moro e o Paulo Guedes", diz Elisa.

"(A forma) como ele desrespeitou o próprio ministro (da Saúde, Luiz Henrique Mandetta) mostra que não está preocupado com a crise (do coronavírus), que sua atitude é só política."