Moro só disponibilizou à PF conversas recentes com Bolsonaro e Zambelli, e apagou várias outras

O ex-ministro ainda afirmou que foi ameaçado de demissão pelo presidente durante reunião ministerial

Foto: Pedro França/Agência Senado
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Em depoimento dado à Polícia Federal no sábado, o ex-ministro Sérgio Moro apenas colocou à disposição das investigações conversas com o presidente Jair Bolsonaro e com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP). Segundo ele, as demais conversas eram pessoais, restritas ou foram apagadas.

Além disso, Moro afirmou que o presidente disse em reunião ministerial realizada no dia 22 de abril que iria interferir em todos os ministérios. Caso fosse impedido de fazer mudanças no Ministério da Justiça, Moro seria demitido.

Bolsonaro e Zambelli

"O Declarante disponibiliza, neste ato, seu aparelho celular para extração das mensagens trocadas, via aplicativo Whatsapp, com o Presidente da República (contato “Presidente Novíssimo”) e com a Deputada Federal CARLa ZAKMBELLI (contato Carla Zambelli II) e que são as relevantes, no seu entendimento, para o caso", diz trecho do relatório do depoimento.

Moro, no entanto, limitou a investigação a apenas essas duas conversas. "Não disponibiliza as demais mensagens pois tem caráter privado (inclusive as eventualmente apagadas), ou se tratam de mensagens trocadas com autoridades públicas, mas sem qualquer relevância para o caso, no seu entendimento", aponta o documento.

Além disso, o ex-ministro não possui o histórico de mensagens com Bolsonaro e outras figuras. Segundo ele, adotou o costume de apagar conversas desde a invasão de hackers em seu aparelho. Tal episódio gerou a série de reportagens da Vaza Jato - na qual Moro negava a autenticidade.

"O Declarante esclarece que tem só algumas mensagens trocadas com o Presidente, e mesmo com outras pessoas, já que teve , em 2019, suas mensagens interceptadas ilegalmente por HACKERS, motivo pelo qual passou a apagá-las periodicamente", registra o relatório.

Reunião ministerial

Moro ainda contou que "o próprio Presidente cobrou em reunião do conselho de ministros, ocorrida em 22 de abril de 2020, quando foi apresentado o PRÓ-BRASIL, a substituição do SR/RJ, do Diretor Geral e de relatórios de inteligência e informação da Polícia Federal".

"O presidente afirmou que iria interferir em todos os Ministérios e quanto ao MJSP, se não pudesse trocar o Superintendente do Rio de Janeiro, trocaria o Diretor Geral e o próprio Ministro da Justiça", diz o relatório.

Esse trecho do depoimento fez o procurador-geral da República solicitar as gravações da reunião presidencial para a Secretaria-Geral do governo Bolsonaro.

Confira aqui a íntegra do relatório do depoimento