"Os militares não se uniriam para uma ditadura Bolsonaro", afirma historiador sobre possível AI-5

Rodrigo Patto Sá Motta acredita que o governo não tem apoio para instaurar uma ditadura, apesar de querer governar de forma autoritária e possuir suas milícias virtuais

Jair Bolsonaro - Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
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O historiador Rodrigo Patto Sá Motta, professor e pesquisador da UFMG com ênfase no regime militar, conversou com a Fórum nesta quarta-feira (16) sobre os recentes embates entre o presidente Jair Bolsonaro e seu partido, o PSL, e as declarações de figuras como o astrólogo Olavo de Carvalho e o blogueiro Allan dos Santos sobre a instauração de uma ditadura militar e de um AI-5. Ele crê que esses pedidos não tem sustentação e o racha apenas limita a atuação de Bolsonaro. "O fundamental é pensar quem daria sustentação a isso", afirma o historiador. "Aparentemente há descontentamento contra o governo na elite militar. Difícil pensar que eles se uniriam para defender uma ditadura Bolsonaro. Não vejo como seja viável. Bolsonaro gostaria de governar como ditador, o problema é viabilizar isso. O Bolsonaro e as redes dele não são suficientes para uma ditadura", sentencia. Redes sociais "Eles imaginam uma nova politica feita pelas redes sociais, mas não conheço uma ditadura que se baseia em redes sociais", completa, afirmando que é necessário o apoio de um poder armado que sustente uma empreitada ditatorial. "Ditadura se baseiam em apoio e em força". Apoio das forças armadas Motta cita que o comando das Forças Armadas, em 1968, se uniu em torno de um discurso de "manutenção da ordem pública", devido às fortes mobilizações. "Naquela ocasião o AI-5 foi perpetrado pelas forças armadas. Teve apoio empresarial e de setores da opinião de direita, mas quem sustentou foi o comando das forças armadas. Convencidos de que o regime corria risco, a elite militar se uniu", relembra Motta. "Quem ameaça a ordem pública são os próprios apoiadores do governo", completa. Racha no PSL Além da fragilidade entre os militares, o presidente enfrenta um problema com o próprio partido, o PSL. Apesar da crise ter algumas semelhanças com dissensos entre o ARENA e a cúpula do governo em 68, o historiador acredita que o paralelo não se sustenta. "No momento atual quem está rachando o PSL é o próprio governo, cuja lógica é difícil de encontrar. Qual a estratégia de romper a base? PSL vai sair com partido menor do que ele tinha, o que diminui um apoio para um governo autoritário", analisa. O AI-5 Motta ainda ressalta que quem prega a instituição de um novo AI-5 não sabe o que ele realmente significou. "Quem diz isso não tem ideia o que representa um AI-5. Ele dava um poder quase de um rei medieval", pontua. O pesquisador cita que o fechamento do Congresso e o aumento da censura à imprensa e às artes, assim como o número de prisões e de violações de direitos civis. Crime de sedição O professor ainda afirma que é importante que o Poder Judiciário atue contra essas incitações de golpe. "Se tem pessoas pregando uma ditadura, essas pessoas estão se colocando na posição de subversivos. Era o caso das autoridades agirem contra o crime político de sedição", finaliza. Assista ao vídeo de Renato Rovai, editor da Fórum, que explica: O que foi o AI-5 e o que significa esta ameaça nos dias atuais: https://youtu.be/MBgRMGncAE8