Por que voto Haddad: democraticamente contra o fascismo

Ex-preso político torturado, fundador do PT e expulso do partido em 89, Paulo de Tarso Venceslau explica em artigo porque votou em Haddad

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Por Paulo de Tarso Venceslau* Fui preso político de 1969 a 1974. Fui torturado e testemunhei a violência da ditadura militar. Meus melhores amigos e companheiros foram brutalmente assassinados. Libertado em dezembro de 1974, passei a militar junto a oposição metalúrgica de São Paulo. Participei como intelectual orgânico e testemunha das lutas daquele período que levaram à criação do Partido dos Trabalhadores. Participei diretamente da construção do PT. Hoje, sou ex-petista. Fui expulso do partido em 1998, o que muito me orgulha. Não me faltam argumentos para criticar o partido que sempre acobertou as falcatruas do ex-líder sindical metalúrgico. Não tenho qualquer simpatia por Lula e o lulismo. Embora disponha de muitos argumentos contra Lula e o PT, sou obrigado a reconhecer que esse partido governou o País durante 13 anos respeitando a Constituição. Essa constatação é um comprovante fático de seu respeito à democracia. Apesar de manifestações extemporâneas por parte de seus dirigentes, o PT tem respeitado as regras do jogo democrático. Religiosamente. Já o capitão reformado tem sistematicamente afirmado e reafirmado ao longo dos anos sua falta de compromisso com valores democráticos. Zuenir Ventura selecionou citações esclarecedoras em artigo no O Globo, tipo “Eu sou favorável à ditadura, tu sabes disso (1991, na TV). “O erro da ditadura foi torturar e não matar” (2016, na TV). Ou, “Deveriam ter sido fuzilados uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente FHC” (1999, na TV). Uma facada, porém, fez com que Bolsonaro passasse a jogar parado, longe de debates e da ribalta. Os poucos segundos que disporia na TV se transformaram em uma exposição permanente. Intervenções programadas e dirigidas por seus marqueteiros colocaram o capitão reformado no centro das atenções. Tanto na TV como nas redes sociais. O final será entre Bolsonaro e Haddad. Não há mais opções. No primeiro turno, votei em Marina (Rede) por considerá-la porta-voz de uma proposta de abrangência global e sustentável. No segundo turno, eu votei democraticamente contra o fascista representante das vivandeiras de 1964. *Economista e ex-guerrilheiro, participou do sequestro do embaixador Elbrick, fundador do PT e primeiro militante a denunciar corrupção em administrações petistas. Foi expulso do partido em 1998.