Além da perseguição a Lula, Lava Jato conspirou contra Ciro Gomes

O ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também foi mencionado nos diálogos, por se opor a trechos do pacote anticrime proposto pelo então ministro da Justiça, Sergio Moro, segundo novas mensagens da Vaza Jato

Ciro Gomes (Foto: PDT na Câmara)
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Que a Lava Jato nunca foi imparcial, todos sabemos. Porém, novas mensagens divulgadas pela Carta Capital, em reportagem assinada por Glenn Greenwald e Victor Pougy, mostram que a operação também conspirou contra os irmãos Ciro Gomes (PDT) e Cid Gomes (PDT), que sofreram recente operação de busca e apreensão por parte da Polícia Federal (PF).

As conversas flagradas pela Vaza Jato apontam procuradores planejando maneiras de usar os poderes que têm para obter e vazar à imprensa informações que constrangedoras sobre críticos.

Além dos irmãos Gomes, foram citados nas conversas o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que se opunha a partes do pacote anticrime e da agenda do então ministro da Justiça, Sergio Moro, além de Marcio Chaer, editor e dono do site de notícias jurídicas ConJur.

Os procuradores da Lava Jato há muito tempo consideram Ciro e Cid seus inimigos políticos. Ciro, em particular, criticou, reiteradamente, a operação e o ex-juiz Moro. Nas mensagens, integrantes da força-tarefa, mencionando essas críticas, perguntam se havia algo que pudesse ser utilizado contra Ciro no material investigado.

No dia 13 de fevereiro de 2019, no grupo chamado “Filhos do Januário 4”, a procuradora Laura Tessler encaminhou mensagem, indagando se havia algo contra Ciro, e acrescentou que estaria “louquinha pra fazer uma visita pra ele”.

Um dos seus colegas respondeu que Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, tinha feito acusações contra Ciro em sua delação premiada, mas que depois voltou atrás. Outra procuradora, Jerusa Viecilli, emendou: “Acordo da Galvao tem”. Laura Tessler comemorou: “Massa!”.

Laura Tessler ficou famosa por ter ironizado a doença da ex-primeira-dama Marisa Letícia, após o ex-presidente Lula afirmar que a saúde dela piorara em consequência da perseguição da Lava Jato.

Meses depois, quando o ex-presidente reivindicava seu direito assegurado por lei de deixar a prisão para ir ao enterro do irmão, Laura foi contra, chamando o pedido de “mimimi”.

A procuradora Jerusa Viecili, por sua vez, também teve divulgadas conversas em que ironiza a morte de D. Marisa. Ela se desculpou publicamente com Lula depois da divulgação.

“Todos esses exemplos servem de alerta. Está claro que o lavajatismo ainda não foi superado pelas instituições brasileiras. Pelo contrário, esse tipo de subterfúgio se espalhou por essas instituições, deixando de ser exclusividade da ‘República de Curitiba’ e passando a ser adotada por indivíduos agindo por motivações próprias. O sistema político e a população estão à mercê de agentes públicos dispostos a usar seu poder para interferir nas eleições. É preciso estar atento”, destacou a reportagem.

Ciro Gomes afirmou que a denúncia é “mais uma prova de que a organização criminosa comandada por Moro e Dallagnol transformou a estrutura da justiça em um covil de milicianos. O tempo está servindo para desmascarar este método nefasto, mas seus efeitos, infelizmente, ainda vão perdurar. A operação abusiva que sofri recentemente é um reflexo tardio deste lavajatismo que ainda sobrevive”.

Procurador sugeriu que Moro instigasse campanha contra Maia nas redes sociais

Outro exemplo: Em reposta a uma reportagem publicada na Folha de S.Paulo, postada por Deltan Dallagnol, o grupo de procuradores lamentou por Sergio Moro não agir com a veemência necessária contra o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Incomodou Maia o fato de Moro ter dito na manhã desta quarta que seu projeto poderia tramitar ao mesmo tempo que a Previdência na Câmara. O desejo do governo é que isso desde logo fosse encaminhado às comissões para os debates”, segundo a Folha.

A reação foi imediata: “FDP, respondeu o procurador Athayde Ribeiro Costa em relação à notícia: “Maia está gostando do poder e com o governo fraco colocou as mangas de fora”.

A procuradora Jerusa Viecili concordou: “Nessa confusão toda que virou o pais [sic]. Maia vai crescendo. Até pelas trapalhadas do executivo que acabam atingindo e diminuindo o prestígio de Moro”.

O procurador Orlando Martello sugeriu que Moro instigasse uma campanha contra Maia nas redes sociais, a exemplo do que ocorria com Gilmar Mendes: “Moro poder vir[ar] o jogo, jogar a sociedade contra Maia”.

O procurador Antônio Carlos Welter foi mais além, pois achava que uma campanha atacando a reputação de Maia não bastaria. Seria necessário mobilizar o poder do Ministério da Justiça e da Polícia Federal contra Maia: “Ele tem que virar o jogo trabalhando com MJ. Se a briga for pelas redes sociais, vai ser outra ‘m’. Tem que criar uma pauta positiva. Botar a PF para trabalhar”.

Rodrigo Maia comentou as mensagens:Essa pequena parte das conversas da Vaza Jato é a prova que existia uma organização criminosa, comandada pelo ex-ministro Moro, que contava com vários procuradores e parte do Ministério Público. A forma como eles agiam era tentar constranger as pessoas através das redes sociais, inclusive usando o aparelho do Estado brasileiro, o que é crime”.

“A Lava Jato tentou ocupar o aparelho do Estado brasileiro. São milicianos da mesma forma. O que vemos é que foi montada uma organização criminosa para avançar em cima das instituições para que esse grupo tomasse o poder. A filiação do ministro Moro, e principalmente a do Deltan, é a prova disso”, acrescentou.

Editor do site Conjur também foi alvo de perseguição

A força-tarefa da Lava Jato atacou, também, um jornalista, crítico da operação. Em 14 de fevereiro de 2019, um dia após a discussão sobre Ciro, os procuradores falaram do jornalista Márcio Chaer, editor do Conjur, site especializado na cobertura jurídica.

Um dos procuradores indagou se alguém teria alguma informação sobre Chaer. Paulo Galvão respondeu: “Pilantra”.

O promotor comentou que material potencialmente incriminador contra Chaer foi encontrado em uma investigação e já vazado, mas lamentou a pouca repercussão do assunto. “Acho até que vale a pena divulgar novamente, no momento certo”, disse.

Chaer declarou acreditar ser natural que os procuradores reajam quando são expostos. “Acho até espantoso que eles não tenham sido mais ofensivos, dado o grau de irresponsabilidade e amadorismo com que eles sempre acusaram seus alvos. Não tenho problema em debater sobre minha vida profissional, empresarial ou pessoal. O que está em questão é a desonestidade de policiais, procuradores e juízes que adotaram a mentira como ferramenta de trabalho. O centro de tudo são as práticas jurídicas corruptas que esses agentes cometeram”.