Vinicius Wu é o neto de chinês que moveu ação por racismo contra Weintraub

Wu é colaborador da Fórum e ex-secretário de Articulação Institucional do ministério da Cultura, no governo de Dilma Rousseff

Foto: Oliver Kornblitt
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O afro-sino-brasileiro, Vinicius Wu, colaborador da Fórum e ex-secretário de Articulação Institucional do ministério da Cultura, no governo de Dilma Rousseff, é o autor da notícia-crime que motivou a abertura de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar se o ministro da Educação, Abraham Weintraub, cometeu racismo ao publicar comentários jocosos contra chineses nas redes sociais.

Vinicius conta que lembrou, com tristeza, do velho Wu, seu avô morto em 1991, ao ler a postagem do ministro.

Nela, Weintraub usou um distúrbio da fala do personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, para ridicularizar a dificuldade que os chineses enfrentam para pronunciar a letra "r".

"Geopolíticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?", escreveu o ministro, trocando a letra "r" por "l", assim como na criação de Mauricio de Sousa.

Em sua conta do Twitter, nesta quinta-feira (11), Wu afirmou ser “o autor da notícia-crime contra Weintraub por racismo. Não pretendia falar sobre isto. A denúncia foi motivada, unicamente, pelo desejo de justiça. Os jornais creditaram sua autoria a 'um cidadão que não quis se identificar'. E era esta a ideia”.

“Mas os recentes protestos antirracistas e a postura do ministro da Educação, que resolveu transformar em palanque um processo no qual é acusado por racismo, me fizeram repensar sobre o silêncio. Conclui que devia falar a respeito”, afirma.

Wu diz que é negro, afrodescendente, e igualmente descendente de chineses. “Com bastante orgulho, pertenço a uma família multicultural. O respeito à diversidade compõe nosso DNA, está presente em nossas vidas, em nossos hábitos, nossas referências culturais.”

“E se há algo da cultura chinesa que meu avô pôde me transmitir em vida, foi exatamente o respeito aos ancestrais, à memória daqueles que nos trouxeram até aqui. Foi, portanto, em respeito à sua memória que resolvi mover esta ação.

E felizmente, para minha surpresa, a PGR e o STF, através do ministro Celso de Melo, compreenderam o significado da ofensa de Weintraub aos chineses. Inicialmente pensei que não daria em nada. Que bom poder pensar que ainda vale a pena acreditar em nossas instituições.

A estigmatização sempre foi um recurso utilizado por movimentos racistas e xenófobos. Nazistas, por exemplo, adoravam rir dos judeus, de seus traços físicos, modo de vida. E a história nos mostra aonde tudo isto pode chegar.

A China se tornou alvo de extremistas, contrariando a própria história do país, que sempre acolheu bem povos do mundo inteiro. Meu avô chegou ao Brasil em 1925. Foi acolhido e fez deste país a sua casa. Ele e outros 290 mil chineses e descendentes ofendidos por um ministro de Estado.

Confesso que tive medo e hesitei em levar tudo isto adiante. Me mantive em silêncio até aqui por receio de que pudesse ser alvo de eventuais ataques das conhecidas milícias digitais. Mas, refleti bem, e conclui que não faria sentido me esconder por fazer o que é certo.

No dia em que o medo nos paralisar de tal forma que abdiquemos da luta pela justiça e pela verdade, então o próprio medo já não fará mais sentido. E eles terão vencido. Fiz o que acredito que meu o avô faria. Então, caminharemos novamente juntos, sem medo. Hoje e sempre!”

https://twitter.com/vinicius_wu/status/1271194130329239552

Posteriormente, Weintraub apagou a publicação, que também sugeria que a China poderia ter ganhos com a pandemia da Covid-19.

Lembrando que a China é o maior parceiro comercial do país, Vinicius diz que ficou chocado com a atitude do ministro, ofensiva a uma comunidade de 290 mil pessoas.

Com informações da Folha