Vinicius Wu: Eleições 2018 - O protagonista e as incertezas

“Impossível não é uma palavra que costuma frequentar o dicionário de Lula. Porém, o jogo será pesado e as condições adversas”, diz o mestre em Comunicação

Foto: Ricardo Stuckert
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[caption id="attachment_138054" align="alignnone" width="1024"] Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula[/caption] Por Vinicius Wu* A menos que seja feita alguma alteração de última hora nas regras do jogo, o que poderia comprometer a própria legitimidade das eleições deste ano, o tema da validação, ou não, da candidatura de Lula deve contaminar todo o processo eleitoral. A discussão se desdobra até o dia 17 de setembro e ainda pode se estender até as vésperas da votação. Resta saber, no entanto, se Lula transformará esta enorme influência sobre o processo eleitoral em votos para seu candidato. Seria demasiado pretensioso prever algo neste momento, mas, a estratégia lulista se desenvolverá em meio a um mar de incertezas. Vamos a algumas delas. Caso se consolide enquanto “tutor” político da sucessão presidencial, Lula aumentará as chances de, mesmo da prisão, alavancar a candidatura de seu substituto. No entanto, as condições políticas para a transferência de votos de Lula para Haddad, no quadro que se desenhou após as convenções partidárias do último final de semana, não são tão favoráveis. Afinal, o PT contará com seu menor leque de alianças em disputas presidenciais desde 1989. Além disso, o sucessor de Lula na urna está longe de ser conhecido nacionalmente e não terá à sua disposição o mesmo aparato que esteve a serviço de Dilma Rousseff em 2010, que mesmo sem jamais ter disputado uma única eleição, terminou eleita após ser ungida por um Lula no auge de sua popularidade. Na ocasião, seu partido reunia uma ampla aliança, tempo de TV, ministérios, recursos financeiros, uma imensa rede de prefeitos de vários partidos e, claro, o próprio Lula percorrendo o país e apresentando sua escolhida. Convém ter cautela frente a algumas sondagens feitas recentemente a respeito da capacidade de transferência de votos de Lula para Haddad. Quando uma determinada pesquisa insinua que Haddad, ou qualquer outro, é o candidato de Lula, ela já traz uma informação. Ou seja, há um comprometimento da própria pesquisa, afinal, não haverá uma voz na urna lembrando o eleitor de que Haddad e não Ciro, Marina ou Boulos é o candidato de Lula. Esta informação precisa chegar ao dia a dia das discussões onde as pessoas vão formando seu voto. E este é um processo complexo, não automático. E o tempo será bem curto dessa vez. Pesquisas recentes que induziam o eleitor a pensar num candidato “apoiado por Lula” devem ser bastante relativizadas. Não haverá um pesquisador em cada esquina do país fazendo essa pergunta e, consequentemente, levando este dado até o eleitor. A informação sobre a indicação de Lula precisa chegar às diferentes regiões do país. A TV, claro, será importante. Mas ela tem de chegar também através de comícios, vereadores, prefeitos, pastores, internet etc. E, em diferentes lugares, teremos outros candidatos se apresentando como aliados de Lula, em especial, nas regiões Norte e Nordeste. Como não conta mais com a máquina federal, o PT passa a depender fortemente de sua militância e rede de apoiadores. E embora conte com uma força social considerável, é importante lembrar que o atual espectro partidário de sua coligação é bem reduzido, contando somente com PCdoB, PROS e PCO. Outra variável importante é o sistema de justiça. E o primeiro revés da estratégia petista será sentido em breve, quando Lula não puder ser substituído por seu vice nos debates. Como se sabe, a justiça brasileira se tornou, nos últimos anos, um elemento ativo da política nacional e pode ser decisiva para o comprometimento da transferência de votos de Lula para Haddad. E, por óbvio, não há razão para otimismo no que tange a este aspecto. Há de se verificar, ainda, em que medida os adversários do PT buscarão - e conseguirão - colar em Haddad a memória negativa do governo Dilma. E, nesse sentido, Haddad também deverá mostrar que tem brilho próprio, capacidade de liderança e experiência para governar o país. O apoio de Lula é, claro, seu maior ativo. Mas seria ingênuo pensar que isso basta para formar a opinião do eleitor. Ainda mais se considerarmos que a indicação anterior de Lula não se saiu tão bem quanto o prometido. Dilma não era Lula. Haddad também não. Essa informação tende a ser trabalhada pelos adversários do PT. Desde 1989, Lula tem sido um dos principais personagens das disputas presidenciais, mesmo quando perdeu (1989, 94 e 98) ou sequer participou (2010,14). Por mais contraditório que pareça, neste ano, preso, ele é o protagonista, o tema, o centro das atenções. Talvez, nem mesmo em 2002, quando venceu pela primeira vez, ou em 2010, quando tinha 85% de aprovação e elegeu sua sucessora, Lula terá monopolizado tanto o debate quanto parece que fará neste ano. Porém, os constrangimentos e limites à sua ação política jamais foram tão evidentes. Assim, apesar de toda esta força política e incidência sobre o processo eleitoral, impulsionar uma candidatura de dentro de uma cela, e em meio a inúmeros bloqueios, não será das tarefas mais simples. Impossível não é uma palavra que costuma frequentar o dicionário de Lula. Porém, o jogo será pesado e as condições adversas. A sorte está lançada! *Vinicius Wu é mestre em Comunicação Social pela PUC-Rio e diretor executivo do Instituto Novos Paradigmas

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