Biden toma posse e começa a reverter políticas deixadas por Trump; Veja o novo Gabinete – Ana Prestes

Nas Notas Internacionais: Donald Trump deixa “pepinos” para Joe Biden, que logo após a posse já começa a desfazer parte da confusão herdada do antecessor. Perfil da nova equipe é bem diferente da anterior.

Foto: USA Today (reprodução)
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- Tomou posse ontem (20) o novo presidente dos EUA, o democrata Joe Biden, que está há meio século na política em Washington. Também foi empossada a vice-presidente, a democrata do Estado da Califórnia, Kamala Harris, primeira mulher a ocupar o posto. O ineditismo de sua presença na Casa Branca é agregado ao fato de ser também a primeira mulher negra e descendente de migrantes asiáticos a chegar a tão alto nível na política dos EUA. A cerimônia de posse cumpriu o rito tradicional, com o diferencial de que não contou com participação popular, devido à pandemia e ao aparato de segurança montado após a invasão do Capitólio em 6 de janeiro. Outra novidade foi a ausência do presidente cessante, Donald Trump, algo que não ocorria há mais de um século.

- O presidente Trump deixou Washington ainda na manhã do dia 20. Seu mandato terminou ao meio-dia. Mas ele não partiu para a Flórida sem antes deixar algumas lembrancinhas na mesa do novo presidente Biden. E aqui me refiro a medidas tomadas por ele e sua equipe em questões de política externa nos dias anteriores ao fim do mandato. Algumas delas são: colocou Cuba na lista dos países que patrocinam o terrorismo, destravou restrições aos contatos entre diplomatas norte-americanos e taiwaneses (medida anti-China), acusou formalmente o Irã de abrigar membros do grupo extremista Al Qaeda, acusou a China de genocídio contra a etnia dos uigures em Xinjiang, declarou os hutis do Iêmen como organização terrorista. Trump também fez um último discurso, pouco antes de embarcar em sua última viagem no Air Force One. Fez questão de lembrar que teve 75 milhões de votos. Fez autoelogios à sua gestão, citando reconstrução das forças armadas, isenções fiscais e elevação do nível de emprego. Disse que sob sua gestão os EUA fizeram o milagre de criar duas vacinas contra a Covid-12. Desejou sucesso à nova gestão sobre a “espetacular fundação que deixamos”. E terminou dizendo: “voltaremos em breve de alguma forma”.

- Se houve os últimos atos de Trump, houve também os primeiros atos de Biden como presidente. Vejamos os que mais chamam atenção. O novo presidente reintegrou os EUA à Organização Mundial da Saúde – OMS – e escalou o infectologista Anthony Fauci para falar em nome da delegação dos EUA na reunião da organização que vai ocorrer semana que vem. Também retornou o país ao Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas. Terminou com o banimento a entrada de pessoas provenientes de países muçulmanos, algo que Trump estabeleceu no começo de seu mandato, em janeiro de 2017. Biden ainda colocou fim ao status de emergência nacional sobre a fronteira sul com o México e interrompeu as ordens de prosseguimento da construção do muro. Reativou o DACA – Deferred Action for Childhood Arrivals – política específica para crianças migrantes que chegam no país. Trump havia desativado o DACA também em 2017. O novo presidente também interrompeu os processos de deportação em curso e tirou do limbo cerca de 11 milhões de migrantes solicitantes de cidadania americana até 1º de janeiro de 2021. Reverteu a exclusão de indocumentados do Censo de 2020. Os censos decenais determinam quantas cadeiras cada estado tem no Congresso e no Colégio Eleitoral. Deu ainda uma folga para dívidas estudantis e habitacionais, adiando prazos e abrindo renegociações. Por fim, convocou toda a população a usar máscaras e determinou a obrigatoriedade do uso em todos os prédios públicos.

- E quem são as pessoas que ocuparão os principais cargos no novo governo? Assim que todos forem sabatinados e aprovados pelo Senado, Ronald Klain será o chefe de Gabinete. Ele já trabalhou com dois vice-presidentes na Casa Branca, Al Gore e o próprio Biden. Miguel Cardona será o secretário de Educação, já foi secretário de educação em Connecticut. Jennifer Granholm, secretária de Energia, já foi governadora do Estado de Michigan e é defensora da pauta das energias renováveis. Isabel Guzman, chefe da Administração de Pequenas Empresas, também vem do governo Obama. Gina Raimondo, secretária de Comércio, foi governadora de Rhode Island, conhecida por ser uma democrata moderada. Marty Walsh, secretário de Trabalho é ex-prefeito de Boston, egresso do movimento sindical da construção civil. Marcia Fudge, secretária de Moradia e Desenvolvimento Urbano é deputada por Ohio. Ela é uma das mulheres negras que compõem o gabinete. Tom Vilsack, secretário de Agricultura, foi governador do Iowa e já ocupou esse cargo na Agricultura dos governos Obama. Avril Haines, diretora do Serviço de Inteligência Nacional, também vem do governo Obama, já foi vice-diretora da CIA e vice-conselheira de Segurança Nacional. Ela é uma das nomeações mais polêmicas por ser acusada de apologia a métodos de tortura, inclusive com denúncias contundentes de ex-prisioneiros de Guantánamo. Linda Thomas-Greenfield representará os EUA na ONU. Mulher negra e diplomata de carreira, já representou os EUA em vários postos, majoritariamente na África. Alejandro Mayorkas ocupará o Departamento de Segurança Interna. Nascido em Cuba, foi diretor do serviço de imigração e cidadania no governo Obama e secretário executivo de Segurança Interna no segundo mandato Obama. Deb Haaland, secretária do Interior, é de origem indígena e deputada pelo Novo México. Xavier Becerra, secretário de Saúde, que é conhecido por defender o Obamacare, já foi procurador e parlamentar na Califórnia. Pete Buttigieg, secretário de Transportes, concorreu com Biden nas primárias democratas em 2020 e chegou a liderar a corrida por algumas semanas. É ex-prefeito de uma cidade da Indiana. John Kerry, representante Especial da Presidência para o Clima, foi candidato democrata à presidência e secretário de Estado de Obama. Conhecido por ter sido um dos veteranos da Guerra do Vietnã que fez críticas à condução dos EUA no conflito. William Burns, diretor da CIA é diplomata de carreira, conhecido por seu trânsito no Oriente Médio e por ter sido o responsável pela entrada dos EUA no acordo nuclear com o Irã. Também já foi vice-secretário de Estado no governo Obama, embaixador na Rússia e Jordânia. Lloyd Austin, secretário de Defesa, é um general de quatro estrelas com 40 anos de carreira militar. Foi chefe de operações dos EUA no Oriente Médio durante o governo Obama. Janet Yellen, chefe do Departamento do Tesouro, já foi presidente do Federal Reserve. Antony Blinken, secretário de Estado, talvez um dos nomes mais próximos de Biden, foi assessor de Clinton (inclusive bem ativo na guerra dos Balcãs), assessorou-o no Senado, na Comissão de Relações Exteriores e foi secretário executivo de Kerry quando este era secretário de Estado.

- A visita do ex-presidente Lula à Cuba terminou na última terça (19), com uma reunião com o ex-presidente Raúl Castro e o atual presidente Miguel Díaz-Canel. Na reunião, Lula entregou uma carta com condenação aos últimos atos de Trump na Presidência dos EUA em ataque à ilha.

- E por falar em Cuba, foi anunciado ontem que o país produzirá 100 milhões de doses de sua vacina contra Covid-19, chamada Soberana 2, para imunização de sua população e demais povos latinoamericanos. O anúncio foi feito por Vicente Vérez Bencomo, diretor geral do Instituto Finlay de Vacinas.

- E no Equador estão chegando as eleições de 7 de fevereiro. Depois de haver suspendido a impressão das cédulas de papel que as pessoas usarão para votar, por erros encontrados, o Instituto Geográfico Militar – IGM – do país voltou a imprimir. O caso gerou acusações entre o CNE – Conselho Nacional Eleitoral – e o IGM. Mais de 13 milhões de pessoas estão aptas para votar no país. Elas vão eleger o presidente, 137 legisladores locais, 15 legisladores nacionais e seis para o parlamento andino. Estão concorrendo à presidência 15 candidatos. A candidata do governo atual é Ximena Peña e o candidato de Rafael Correa, que é seu ex-ministro Andrés Arauz. Também estão fortes na disputa o empresário Guillermo Lasso e o dirigente indígena Yaku Pérez. As últimas pesquisas dão praticamente empate técnico entre Arauz e Lasso, com Pérez em terceiro.