O Boteco dos Deuses (Uma Ode à Tolerância Religiosa) – Por pastor Zé Barbosa Jr

Não consigo acreditar nos deuses irados e furiosos, sempre prestes a eliminar humanos e outras divindades que se interpõem em seus caminhos. Como Zaratustra, “eu só poderia crer num Deus que saiba dançar”

Papa Francisco com representantes de várias religiões (Vaticano/Reprodução)
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Até nos meus momentos de lazer, o teólogo em mim não descansa: gosto de ler, assistir, navegar por sites, livros, vídeos que tratem com humor da teologia e seus assuntos afins. Um dos meus prediletos é a página “Um Sábado Qualquer”, que tem tirinhas muito especiais sobre temas ligados à religião, divididas em várias seções. A minha predileta chama-se “Boteco dos Deuses”, que é exatamente isso: um boteco onde as divindades se encontram. A genialidade de Carlos Ruas, autor da página, é fascinante. Recomendo!

Mas o que isso tem a ver com a coluna de hoje? Muito! Porque, se realmente há alguma divindade (eu sou cristão, logo, creio que há), ou mesmo divindades, assim no plural, eu creio firmemente que toda divindade é bem humorada e inclusiva. Não consigo acreditar nos deuses irados e furiosos, sempre prestes a eliminar humanos e outras divindades que se interpõem em seus caminhos. Como Zaratustra, “eu só poderia crer num Deus que saiba dançar”.

É por isso que hoje, 21 de janeiro, Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, proponho um “Pequeníssimo Decálogo da Tolerância Religiosa”:

1) Toda espiritualidade/religião é legítima e verdadeira e deve ser considerada como tal;

2) Toda espiritualidade/religião, legítima e verdadeira, tem como objetivo o aperfeiçoamento do ser humano e caminha na direção do bem ao próximo;

3) Na multiplicidade de Deuses não tente “caber” a outra divindade dentro da sua. Conversas do tipo “Só existe um Deus”, mas crendo que o Deus do outro é o seu Deus, só que o outro “ainda não sabe”, não são honestas! Porque partem do princípio de que o outro, ignorante, não sabe ainda que a “sua religião” é a única verdadeira, mas um dia saberá;

4) Pare e pense: num universo de bilhões de pessoas, num planeta com milhões de anos de existência e milhares de religiões, você realmente acredita que a SUA religião é a ÚNICA certa? Acredita mesmo que sua divindade só se revelou a esse pequeno grupo e até então NINGUÉM havia encontrado a espiritualidade verdadeira?

5) Toda religião e toda teologia são, em última essência, construções humanas. Portanto, podem ser desconstruídas e reavaliadas;

6) Seu Livro Sagrado é SEU Livro Sagrado. Não tente empurrá-lo para o outro que não tem a mesma fé que a sua, e muito menos ao Estado. Um Estado laico é exatamente o defensor da pluralidade religiosa;

7) Nunca, jamais, em tempo algum, demonize a fé do outro só por ser diferente da sua. Aliás, muitas confissões e credos nem acreditam em demônios, apesar de muitos insistirem na sua demonização.

8) Saiba que, em relação às religiões de matrizes africanas, o termo correto é RACISMO RELIGIOSO. A perseguição, demonização e mentiras a respeito dos queridos irmãos e irmãs que se encontram nos Terreiros e Casas de Santo passa, invariavelmente, por sua origem preta. Ou você sabe de algum caso de templos budistas queimados, crianças judias apedrejadas e Hare Krishnas sendo xingados nas ruas por estarem com suas roupas rituais? O ódio que leva à violência é carregado de racismo, desconhecimento do Sagrado alheio e ignorância;

9) A melhor religião é aquela que ama. O amor é a “lei de ouro” de todas as religiões. “Não fazer ao outro aquilo que não gostaria que fizessem com você” está em quase todos os livros e tradições sagradas;

10) Na dúvida, respeite. Simplesmente respeite!

E, de forma leve e divertida, imagino todos os deuses terminando o dia de hoje celebrando a diversidade humana e divina, sentados à mesa nesse eterno Boteco Sagrado.

Amém!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.