É possível enfrentrar o neoliberalismo fascista a partir do Centro?

Montagem. Oam Santos/Fotos Públicas e Luiza Castro/Sul21
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Bolsonaro não é o mesmo da campanha e nem o mesmo de seu primeiro ano de governo. Chegou a pandemia e chegaram os cheques de Queiroz na conta da família Bolsonaro e Bolsonaro caminhou para o centro em busca de apoio para evitar risco de impeachment. Costurou alianças no Congresso, fez concessões atrás de concessões para o mesmo Centrão que manda no país há décadas e se alia a deus e ao diabo para receber o seu dá cá, depois do toma lá.

Assim, Bolsonaro segue sem maiores sobressaltos, com Rodrigo Maia sentado sobre cerca de 50 processos de impeachment, mesmo com a prisão de Queiroz, mesmo com Flávio Bolsonaro, seu filho, que saiu do status de investigado para o de denunciado por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Eleições nos Estados Unidos e a opção democrata pelo Centro

As eleições estadunidenses trazem um alerta para todo o campo progressista. A apuração segue apertada e Trump permanece vivo na disputa, ameaçando não reconhecer o resultado das urnas, pedindo recontagem de votos, judicializando a política.

Era esperado que com toda mobilização progressista nos Estados Unidos a vantagem fosse maior para Biden. Sanders, o candidato mais à esquerda do partido Democrata que foi preterido pelo moderado Joe Biden, mergulhou de corpo e alma na campanha dos democratas. Obama viajou para vários estados em campanha em prol de Biden. Diferentemente dos nossos artistas isentões do mundo pop, ícones dos esportes, do cinema, teatro, da música, como Beyoncé, Katy Perry, Lady Gaga, abraçaram a candidatura de Biden, fizeram discursos, foram a comícios. As grandes manifestações contra o racismo estrutural mundialmente conhecidas como "Vidas Negras Importam" e o desastre da pandemia e de como Trump (e Bolsonaro) ignorou a gravidade da Covid-19 não foram suficientes para que latinos, negros, brancos da zona rural estadunidense e trabalhadores de modo geral votassem massivamente no moderado Joe Biden.

Tanto nos Estados Unidos como no Brasil o liberalismo vem tornando estadunidenses e brasileiros estrangeiros em sua própria terra. E candidatos que não oferecem alternativas concretas à imensa produção da desigualdade com a escandalosa concentração de riqueza não empolgam. Parece que eleitores do mundo todo se cansaram dos moderados.

Eleições municipais no Brasil

A vida não está fácil para os candidatos alinhados a Bolsonaro. Crivella, o atual prefeito fundamentalista do Rio de Janeiro, corre o risco de sequer ir para o segundo turno e disputa com a senadora Benedita da Silva (PT) e a deputada estadual Martha Rocha (PDT) a vaga contra Eduardo Paes. Em São Paulo, Russomano vem repetindo seu histórico de derretimento ao longo da campanha e já retirou Bolsonaro de seu jingle. A candidatura de esquerda de Boulos/Erundina (PSOL) cresce e nas pesquisas espontâneas Boulos já aparece em segundo lugar.

O cenário desastroso que analistas políticos desenharam para candidaturas de esquerda parece não ser tão desastroso assim. A depender dos resultados aqui e na sede do império, os fluídos venenosos do fascismo podem arrefecer: Bolívia, Chile, Argentina começaram o processo de arejar o ar que estava irrespirável e não foi com a escolha de moderados e não foi fazendo concessões ao neoliberalismo. A saída é pela esquerda.